domingo, 9 de dezembro de 2018

O dom profético no Velho Testamento


por Helio Carnassale

      Os profetas e as profecias eram conhecidas no Antigo Oriente Médio, e há registros de sua atividade fora da Bíblia, desde tempos muito remotos. O vocábulo para profeta no Velho Testamento, nabí, se refere a uma pessoa a quem Deus chamou para comunicar Suas mensagens. Essa palavra está relacionada a um antigo verbo babilônico, nabu, que significa “chamar”. Em Babilônia, eles se dirigiam repetidamente ao rei como sendo um nabu, ou seja, alguém chamado pelos grandes deuses.
      Mas são nas páginas da Bíblia que desejamos focalizar as pessoas a quem Deus outorgou o dom de profecia: homens e mulheres que andaram nos Seus caminhos e, apesar de suas fraquezas e falhas, foram obedientes e fieis ao Senhor.



Os patriarcas como profetas

      O profeta bíblico era alguém que havia sido chamado por Deus e desempenhava um papel religioso independente. Era normalmente uma figura carismática, que não recebia seu ofício e nem o transmitia por hereditariedade, e muito menos por nomeação política.

Consideremos os primeiros profetas da história bíblica:
1.       Abel. No evangelho de Lucas, no capítulo 11, versos de 46 a 52, encontra-se registrada a resposta de Jesus a um intérprete da Lei que se sentiu ofendido pela maneira como Cristo havia censurado os fariseus. Nos versos 49 a 51 Jesus então fala: “do sangue dos profetas derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel”, reconhecendo-o assim como profeta.
2.       Enoque. Não sabemos muito sobre Enoque, mas a Bíblia afirma que ele “andou com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gênesis 5:24), como clara referência à sua transladação. Seu nome aparece na galeria de heróis da fé (Hebreus 11:5), e os versos 14 e 15 de Judas mencionam claramente que ele profetizou sobre a volta de Jesus e o juízo.
3.       Noé. Geralmente não pensamos em Noé como profeta, mas as Escrituras revelam que ele recebeu uma desafiadora incumbência divina (Gênesis 6:13-22). E ele realmente fez muito mais do que construir um barco para salvar sua família, pois em 2 Pedro, capítulo 2, verso 5, o chama de “pregador (arauto, de acordo com o original grego kērux) da justiça”.
4.       Abraão. O primeiro a ser mencionado pela Bíblia como profeta. Curiosamente, foi Deus quem disse a Abimeleque que Abraão era profeta e que intercederia por ele (Gênesis 20:7).
5.       Moisés. Foi o primeiro filho da nação de Israel a ser chamado de profeta (Deuteronômio 18:15). Sua fascinante história foi concluída por Josué, que escreveu: “Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés” (Deuteronômio 34:10). Realmente não houve profeta como Moisés até o tempo do Messias, acerca de quem, escreveu Paulo, na carta aos Hebreus, capítulo 1, versos 3 e 4, que Cristo não só foi maior que todos os profetas, mas é também “o resplendor da glória e a expressão exata de Deus.

Profetas e reis

      Ao longo de toda monarquia, aproximadamente 120 profetas tiveram a ousadia de repreender, em nome do Senhor, a 40 reis. Eles foram importantes para lembrar aos monarcas que sua soberania não era ilimitada e que o governo e os juízos divinos estavam acima das ações humanas.
      Comparando o ofício dos sacerdotes e profetas, podemos afirmar que os sacerdotes representavam o povo diante de Deus, enquanto os profetas representavam a Deus diante do povo. Os sacerdotes recebiam o sacerdócio por hereditariedade, mas os profetas eram chamados especificamente para exercer seu ministério. Essa independência lhes garantia a liberdade de entregar sua mensagem e falar com toda clareza, assinalando os pecados do povo e de seus líderes e chamando-os ao arrependimento.
      Essa independência dos profetas bíblicos tornou possível que Natã tivesse a coragem de apontar os pecados de adultério e assassinato cometidos pelo rei Davi (II Samuel 12:1-13). Posteriormente, depois de concordar com Davi quanto ao seu desejo de construir uma casa para o Senhor, Natã teve suficiente coragem para voltar à presença do rei e transmitir-lhe que ele não construiria o templo, e sim seu sucessor (II Samuel 7:1-3 e 12-17). E foi ainda por intervenção do mesmo profeta que a sucessão do trono de Davi foi garantida a Salomão (I Reis 1:11-14). É interessante notar que Pedro, em seu sermão durante o Pentecostes, refere-se ao rei Davi como sendo também um profeta (Atos 2:29-30).
      Quando Acabe e Jezabel aprofundaram a idolatria no Reino do Norte, Elias e outros profetas lutaram contra essa terrível apostasia e alguns profetas do Senhor foram mortos por causa dessa oposição (I Reis 18:4). Na triste história da morte de Nabote por causa dos caprichos do casal real, Elias apareceu proclamando que no mesmo lugar em que os cães haviam lambido o sangue do inocente, cães lamberiam o sangue de Acabe (I Reis 21:19). Em I Reis 22:37-38 está a descrição do cumprimento dessa profecia.

Profetisas em Israel

      A liderança da adoração em Israel estava a cargo dos sacerdotes. Uma diferença marcante com seus vizinhos é que Israel não possuía sacerdotisas, mas teve profetisas. Cinco mulheres foram chamadas de profetisas no Velho Testamento: Miriã, Débora, Hulda, a esposa de Isaías e Noadia.
1.       Miriã. Foi irmã de Moisés e Arão, e apesar de alguns tropeços, desempenhou importante papel na co-liderança do povo de Israel, conforme confirma Miqueias 6:4. O registro de que era profetisa aparece em Êxodo 15:20.
2.       Débora. Foi juíza e também liderou a batalha contra Sísera, ao lado de Baraque, na guerra para libertar Israel das mãos do domínio cananita. Ela foi chamada de profetisa em Juízes 4:4.
3.       A mulher de Isaías. Provavelmente atribuída como profetisa pelo próprio marido, talvez como uma referência honrosa à esposa ao invés de por ofício (veja Isaías 8:3).
4.       Hulda. Vivia em Jerusalém no tempo de Josias e aparece como profetisa em II Reis 22:14. Enviou uma mensagem de advertência ao rei, registrada em II Reis, capítulo 22, versos de 15 a 20.
5.       Noadia. Aparece na história fazendo parte dos conspiradores contra o Neemias, ao lado de Tobias e Sambalá, e de outros profetas que queriam aterrorizar Neemias (6:14) e impedir a reconstrução de Jerusalém.

      Assim, a voz dos profetas era de autoridade suprema, revelando a vontade de Deus. Suas palavras não só exprimiam os desígnios do Senhor, mas também desafiavam as equivocadas decisões reais, os falsos conselhos dos sacerdotes e ainda repreendiam o povo e os falsos profetas.
      O ofício profético pode muito bem ser resumido por dois emblemáticos textos do Velho Testamento:

Guiar e proteger o povo de Deus: “Mas o Senhor, por meio dum profeta, fez subir a Israel do Egito e, por um profeta foi ele guardado” (Oseias 12:13).

Receber e transmitir a mensagem do Senhor: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 3:7).

      Renovemos nossa confiança no Senhor, alicerçados na promessa: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis” (II Crônicas 20:20).

Notícias Adventistas
https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/heliocarnassale/o-dom-profetico-no-velho-testamento/

O papa Francisco e o chamado para a guarda do domingo


      Hoje meu celular não parava de receber mensagens enviadas por alguns amigos. Quando digo hoje, estou me referindo a quarta-feira, 5 de setembro de 2018 (não sei quando você vai ler esse texto, por isso menciono a data).
      Bom, o assunto tem a ver com a tradicional audiência que o papa Francisco realiza todas as quartas-feiras no Vaticano. Quando abri os links que me enviaram e comecei a ler as notícias do portal do Vaticano, e claro, comparando fontes, como sempre faço e todo bom leitor deve fazer, acabei chegando à transmissão do vídeo da audiência papal e comecei a vê-la.
      O vídeo começa com Francisco chegando ao local onde seria a audiência geral e onde faria sua catequese. Havia muita gente esperando-o. Claro, é um dos homens mais poderosos do mundo. Depois do sinal da cruz e da saudação litúrgica, Francisco começou a leitura da Bíblia no livro de Êxodo, capítulo 20, versículos 8-11, em vários idiomas.
      Caso você não se lembre, deixo aqui o texto bíblico do quarto mandamento da Bíblia, na versão católica de Jerusalém:

“Lembra-te de santificar o dia de sábado. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro de teus muros. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que contêm, e repousou no sétimo dia; e por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou”.

      “Uau!”, disse a mim mesmo. “Tenho que continuar vendo esta homilia para saber como termina! Que será que o papa vai dizer sobre o dia de repouso?”
      Continuei assistindo.
      Quero confessar que concordo bastante com alguns conceitos de Francisco com os quais ele começou seu discurso. Primeiro, ele disse que vivemos em uma sociedade sedenta de entretenimento e férias. Uma sociedade com um conceito de descanso enraizada nas campanhas de publicidade e comerciais que os meios de comunicação nos vendem. Uma sociedade que busca o prazer, a diversão, mas que, no fundo, não promove descanso.
      Textualmente, Francisco reforçou que nossa sociedade tem uma “mentalidade que desliza para a insatisfação de uma existência anestesiada pelo divertimento que não é repouso, mas alienação e fuga da realidade”. E acrescentou: “O homem nunca repousou tanto quanto hoje, e ao mesmo tempo o homem nunca experimentou tanto vazio como hoje!”
      Até aqui creio que estamos de acordo, não é mesmo? Bem, eu estava curioso querendo saber qual seria a linha que ele ia seguir e sobre o que diria do sábado do mandamento bíblico, por isso, continuei assistindo o discurso.

O dia de descanso

      Francisco continuou a falar sobre o momento em que Deus criou o mundo e descansou no sétimo dia, sábado. Ele fez uma clara referência a Gênesis capítulo 2, versículos 1 ao 3.
      Depois, voltou ao texto que havia lido na introdução de sua homilia e que falava sobre o decálogo de Deus (os Dez Mandamentos). Disse que o sábado é um presente de Deus para nossa necessidade de descanso e conexão com Deus. Necessitamos ter um tempo semanal para o descanso, o louvor e a adoração. Francisco acrescentou que Deus, no Decálogo, “lança uma luz sobre o que é repouso, que é o momento da contemplação e do louvor”.
      “Ao repouso como fuga da realidade, o Decálogo opõe o repouso como benção da realidade”.
      Até aqui o discurso parece uma defesa maravilhosa da necessidade de seguir a Lei de Deus, dedicando o sábado do mandamento bíblico como um dia especial para o repouso da alma e para a adoração.
      Mas… não!
      Neste ponto, quando começa a falar sobre o repouso, mais uma vez e de forma magistral, Francisco utiliza o poder da sutileza.
      Leia a frase que ele usa:
Para nós, cristãos, o centro do Dia do Senhor, o domingo, é a Eucaristia, que significa ‘ação de graças’, e onde se encontra o ponto culminante dessa jornada de contemplação e benção, na qual acolhemos a realidade e louvamos ao Senhor pelo dom da vida, dando graças por sua misericórdia e por todos os dons que nos concede.”

Onde está o erro?

      Primeiro, o papa Francisco disse em seu discurso que o dia de repouso para os cristãos é o domingo… Hein? Eu sou cristão, creio em Deus, em Jesus e no Espírito Santo. Creio na Bíblia como a Palavra de Deus e minha Bíblia NÃO diz isso. A Bíblia diz claramente que o dia de repouso é o sétimo dia da semana, que é o sábado (Gênesis 2:2, 3; Êxodo 20:8-11).
      Em segundo lugar, e seguindo essa linha de raciocínio, temos que entender que Deus escolheu um dia. Não o primeiro, nem o segundo, nem o sexto: ele escolheu o sétimo. Quero lembrar que a Bíblia diz que esse dia é o sábado. Este dia foi santificado e abençoado por Deus, e não foi só para os judeus. Foi para o ser humano, e foi dado muitos antes de existirem judeus (Marcos 2:27). Deus escolheu esse dia para que descansemos, adoremos, estejamos em família e nos conectemos com o Criador.
      Em terceiro lugar, o que Francisco faz, como muitos outros pastores populares evangélicos, é uma transferência das qualidades e atributos do sétimo dia bíblico, o sábado, para o primeiro dia da semana, o domingo. Transferência que não foi autorizada na Bíblia e nem por Jesus, nem por Maria, nem pelos apóstolos, nem por ninguém.
      Por exemplo, se lermos Lucas 23:56 e Mateus 28:1, encontramos que Maria e os apóstolos, depois da morte de Cristo, guardaram o sábado, dia que antecede o domingo. Por tanto, o sétimo dia, dia do descanso bíblico, não pode ser o domingo.
      Claro, você pode dizer que neste sábado mencionado aqui nos textos anteriores Jesus não havia ressuscitado e que depois de sua ressurreição ele transferiu essa autoridade do sábado para o domingo. Será?
      Não! Em Atos 13:44, a Bíblia nos diz que Paulo, estando em Antioquia, convidou toda a cidade para o culto no sábado, onde se reuniram para escutar a Palavra de Deus. E em Atos 16:13 é registrado que no sábado os discípulos se reuniam e uma mulher crente, chamada Lídia, foi batizada.
      Esses são apenas dois exemplos que nos mostram que o sábado no Novo Testamento continuou vigente. Por outro lado, não há textos na Bíblia que autorizam a transferência da autoridade do sábado para o domingo. Se isso tivesse acontecido, você não acha que Deus teria sido mais explícito?

Por que é tão importante entender isso?

      Simples. Porque um dos sinais dos verdadeiros seguidores de Jesus que está registrado no livro de Apocalipse, capítulo 12, verso 17, e no capítulo 14, verso 12, é a observância de todos os mandamentos, incluindo o sábado como dia de repouso. O sábado, não o domingo.

Finalmente

      Creio que, como cristãos, necessitamos realmente retornar ao descanso de Deus. Necessitamos conter nossa vida frenética e buscar o verdadeiro repouso. Por outro lado, creio que devemos ser fiéis a Deus e não aos homens.
      Seja você católico ou evangélico, se quiser seguir a Deus e ser fiel, avalie se o que seus líderes lhe dizem está fundamentado por interpretações pessoais ou institucionais, ou realmente por um “Assim diz o Senhor”.
      Bem, se você é um estudioso das profecias da Bíblia, se lembra que este discurso de Francisco é um sinal de alerta que nos diz que muito em breve haverá neste mundo dois grupos de pessoas: os que seguem os ensinos de homens e os que seguem a Palavra de Deus.
      Deixo com você uma citação que foi escrita há mais de 100 anos por uma escritora cristã chamada Ellen White, e que diz o seguinte:
A questão do sábado será o ponto controverso no grande conflito final em que o mundo inteiro será envolvido. Os homens exaltaram os princípios do diabo acima dos que governam os Céus. Aceitaram o sábado espúrio instituído por Satanás como o sinal de sua autoridade. Entretanto, Deus imprimiu o Seu selo ao Seu estatuto real. Cada instituição sabática traz o nome de Seu Autor, a marca indestrutível que revela Sua autoridade. Nossa missão é levar o povo a compreender isso. Devemos mostrar-lhe a importância de ter o sinal do reino de Deus ou o do reino da rebelião, porque cada indivíduo se reconhece súdito do reino cujo distintivo aceita. Deus nos chamou para desfraldar o estandarte do Seu sábado, que está sendo calcado a pés. É muito importante, portanto, que o nosso exemplo em observá-lo seja correto!” (Testemunhos para a Igreja, v. 6, p. 352).

      Apenas me resta uma pergunta: De que lado você estará? Pense nisso e compartilhe.

Jorge Rampogna
Notícias Adventistas