Estudos bíblicos
sábado, 11 de agosto de 2018
O vegetarianismo nos escritos e na experiência de Ellen G. White
O tema da mensagem de
saúde é um dos assuntos mais controvertidos na Igreja Adventista. Mesmo
em uma análise superficial, prontamente se percebe dois grupos:
extremistas que vivem como se a reforma de saúde fosse o aspecto mais
importante da experiência cristã, e um grupo maior que considera esse
importante ponto da mensagem adventista apenas um anexo sem importância
para a vida do cristão.
Nesse conflito, o vegetarianismo está entre os temas mais discutidos.
Encontrar a melhor maneira de abordar o assunto não é tarefa simples,
especialmente pelas diferenças culturais, sociais e econômicas que
existem no mundo. Ellen G. White foi a principal voz no adventismo sobre
a mensagem de saúde, e seus livros estabeleceram a base para o estilo
de vida adventista. Portanto, compreender e interpretar corretamente o
que ela escreveu é o caminho mais coerente e seguro.
Adventismo e reforma de saúde
O movimento da mensagem de saúde adventista teve como base a grande
corrente americana de reformas sanitárias entre os anos 1800 e 1850.
Essas reformas criaram as condições necessárias para a compreensão
adventista da saúde, conferindo-lhe alto grau de relevância já nos
primeiros anos da denominação.1 Em
1848, quatro anos após sua primeira visão, Ellen G. White recebeu as
primeiras informações sobre a mensagem de saúde. Ela viu que tabaco, chá
e café eram prejudiciais e deveriam ser completamente abandonados.2
No entanto, sua mais importante visão sobre saúde ocorreu em 6 de junho
de 1863, em Otsego, Michigan. Seu conteúdo foi relatado em 16 páginas
que descrevem a essência da mensagem adventista de saúde. Entre os
muitos princípios apresentados, os mais importantes foram: (1) os que
não controlam o apetite tornam-se intemperantes; (2) bolos, tortas e
pudins muito substanciosos são prejudiciais; (3) a carne de porco não
deve ser consumida em nenhuma circunstância; (4) fumo, chá e café devem
ser abandonados; (5) comer entre as refeições prejudica o estômago; (6)
cuidar da higiene do corpo e da casa; (7) o consumo de carne é
prejudicial ao organismo; e (8) fazer bom uso dos oito remédios da
natureza.3
Apesar das orientações de Ellen G. White não serem uma completa novidade
no contexto das reformas do século 19, a relação da saúde com a
espiritualidade constitui o grande diferencial de seus ensinos. A
mensagem de saúde estava inserida em um sistema de doutrinas chamado de a
verdade presente pelos pioneiros adventistas.4
Em 1900, a autora escreveu: “A verdade presente repousa na obra da
reforma de saúde tanto quanto nos outros aspectos do evangelho.”5 Para ela, o cuidado da saúde “não é um apêndice desnecessário à verdade, é uma parte da verdade”.6
Esse conceito integrado foi fundamental para formar o estilo de vida
adventista. Por isso é importante estabelecer uma conexão entre a
mensagem de saúde e a espiritualidade. Uma das citações de maior
destaque que evidencia essa ligação foi publicada em 1867: “Foi-me
mostrado que a reforma de saúde faz parte da mensagem do terceiro anjo, e
está tão intimamente ligada a ela como o braço e a mão estão ao corpo.”7
O vegetarianismo nos escritos de Ellen G. White
O contexto apresentado quanto à reforma de saúde serve como base para
compreender a posição de Ellen G. White sobre o uso da carne. Ela nunca
tratou desse assunto de forma isolada, ainda que seus pontos de vista a
respeito de uma dieta vegetariana sejam vastos. Em seus escritos, o
controle do apetite, inclusive a questão de comer carne, está
relacionado ao princípio central de “manter nosso corpo na melhor
condição de saúde”.8
O tema da carne foi apresentado pela primeira vez à autora na visão de
1863. Os principais conceitos relacionados ao alimento cárneo também
foram recebidos nessa ocasião. A carne de porco foi condenada como
imprópria para o consumo.9 Além
disso, a visão orientou para a abstinência de outros tipos de carne,
dando preferência ao vegetarianismo. É importante esclarecer que o
sentido da palavra “carne” usada por Ellen G. White quase sempre se
refere à carne vermelha, uma vez que os peixes são tratados como um tema
à parte.10
No ano seguinte, com a publicação do quarto volume de Spiritual Gifts,
a autora passou a insistir na adoção de uma dieta sem carne. Ela
declarou que: (1) o alimento ideal de Deus para Suas criaturas está no
Éden; (2) o Senhor permitiu que se comesse carne após o dilúvio para
diminuir a vida do homem; (3) na peregrinação do deserto, Ele não
proibiu a carne, mas proveu um alimento melhor; (4) a carne condimentada
produz um estado febril e contamina o sangue; (5) quem consome muita
carne não apreciará uma alimentação saudável de imediato; (6) crianças
que comem carne favorecem as tendências animais; e (7) a carne de muitos
animais está enferma devido às condições precárias em que eles são
mantidos antes de serem abatidos.11
Anos mais tarde, Ellen G. White continuou a escrever sobre os malefícios
do regime cárneo, e apontou que ele: (1) afeta a atividade intelectual
(1890);12 (2) prejudica a capacidade mental para entender a Deus e a verdade (1897);13 (3) debilita as faculdades físicas, mentais e morais (1901);14 (4) desperta o desejo de consumir bebidas alcoólicas (1901);15 e (5) aumenta a possibilidade de contrair enfermidades (1905).16
Em um dos seus mais importantes livros sobre saúde, ela também alertou
sobre outro aspecto que raras vezes é mencionado. O regime cárneo
“envolve crueldade para com os animais [...] criaturas de Deus”17 e, também por isso, seu consumo é objetável.
Ao longo de seu ministério, as advertências de Ellen G. White sobre a
carne se tornaram mais enfáticas. Ela reconheceu que a qualidade da
carne estava cada vez pior. Em 1905, escreveu que “a carne nunca foi o
melhor alimento; seu uso agora é duplamente objetável, visto as doenças
nos animais estar crescendo com tanta rapidez”.18
No entanto, por mais que Ellen G. White advogasse fortemente em favor da
dieta vegetariana, ela não insistia nisso para todas as pessoas em
todos os lugares.19 É importante
admitir que havia exceções que ela mesma experimentou em sua vida
pessoal. No fim de 1868, a autora escreveu ao esposo de uma senhora
muito doente que teria sido melhor comer uma pequena porção de carne que
sentir um profundo desejo por ela.20 Ela também recomendou cautela quanto ao deixar a carne: “Ninguém deve ser solicitado a fazer abruptamente a mudança.”21 Para Ellen G. White, o vegetarianismo jamais seria uma prova de comunhão entre os membros da igreja.22
Já no fim da vida, em 1909, a escritora registrou o que pode ser
entendido como o resumo de sua ideia em relação ao consumo de carne:
“Não estabelecemos regra alguma para ser seguida no regime alimentar,
mas dizemos que nos países em que há muita fruta, cereais e nozes, os
alimentos cárneos não constituem alimentação própria para o povo de
Deus.”23 Assim, por mais que não
exista uma regra fixa quanto a uma dieta particular, está claro que onde
e quando for possível, o povo de Deus deve preferir comer “frutas,
cereais e verduras, preparados de forma simples”.24
A experiência pessoal de Ellen G. White
Alguns criticam Ellen G. White por não ter vivido a mensagem de saúde
como ela mesma propôs em seus escritos quanto ao comer carne. No
entanto, um estudo cuidadoso de sua biografia aponta que a autora foi
fiel e coerente às instruções que recebeu. Ela afirmou que, depois da
visão de 1863, eliminou de imediato a carne de seu menu diário, mas isso
não significaria que ela não comeria mais carne.25
Em 1933, William White escreveu a George Starr que a família White
havia sido vegetariana, mas não totalmente abstêmia de carne.26
Apesar de seu vegetarianismo, o consumo esporádico de carne podia
acontecer devido a uma viagem longa ou quando a cozinheira não sabia
preparar comida vegetariana.27
Foi somente em 1894 que Ellen G. White decidiu que não comeria mais
carne, nem mesmo ocasionalmente. Ela relatou: “Desde a reunião campal de
Brighton (janeiro de 1894) bani absolutamente a carne da minha mesa.”28
A autora sempre demonstrou bom senso quanto ao consumo de alimento
cárneo e foi tolerante a seu uso ocasional até quando entendeu que
comê-lo seria demasiado prejudicial. Foi a partir desse período que suas
advertências mais sérias contra a carne foram escritas.
Conclusão
Em resumo, pode-se afirmar que os escritos de Ellen G. White nos ensinam
que a carne deve ser evitada nos lugares em que há abundância de
frutas, cereais e verduras. No entanto, é preciso cautela, pois não se
pode descartar o alimento cárneo abruptamente, sem prover adequada
substituição nutricional. A carne não é um alimento saudável e pode
trazer prejuízos em nossa relação espiritual com Deus.
Ellen G. White foi fiel a esses princípios e sempre advogou bom senso e
cuidado com extremismos. Em 1904, ela afirmou: “Tenho melhor saúde, não
obstante achar-me com setenta e seis anos de idade, do que tinha em meus
tempos juvenis. Dou graças a Deus pelos princípios da reforma de
saúde.”29
Alberto Tasso Barros (via Revista Ministério)
Referências
1 George W. Reid, A Sound of Trumpets (Washington, D.C: Review and Herald, 1982), p. 22.
2 James White, “Western tour: Kansas camp meetting”, Review and Herald, 8/11/1870, p. 165.
3 Herbert Douglass, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), p. 283, 284.
4 Alberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas, 6ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), p. 123-131.
5 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 327.
6 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 1 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 546.
7 Ibid., p. 486.
8 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 65.
9 Ron Graybill, “The development of adventist thinking on clean and unclean meats”, < https://goo.gl/FecV4K>.
10 Andrés Afonso Tovar Galarcio,
“Análisis de citas controversiales sobre el consumo de la carne en
escritos de Ellen G. White: un estudio históricocontextual” (dissertação
de mestrado, Universidade Peruana União, 2016), p. 56.
11 Ellen G. White, Spiritual Gifts, v. 4, p. 120-150.
12 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 388.
13 Ibid., p. 383.
14 Ibid., p. 268.
15 Ibid.
16 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 313.
17 Ibid., p. 315.
18 Ibid., p. 313.
19 Denis Fortin, Jerry Moon,
Michael W. Campbell e George R. Knight, eds. The Ellen G. White
Encyclopedia (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2013), p. 1247.
20 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 384.
21 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 317.
22 Ellen G. White, Conselhos Para a Igreja, p. 240.
23 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 9 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 159.
24 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 355.
25 Ibid., p. 482.
26 Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, p. 316.
27 Denis Fortin, Jerry Moon, Michael W. Campbell e George R. Knight, eds. The Ellen G. White Encyclopedia, p. 1247.
28 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 488.
29 Ibid., p. 482.
Adolescentes, dependência tecnológica, depressão e comportamentos autolesivos
A adolescência é uma das
etapas da vida em que o ser humano se vê frágil diante das grandes e
bruscas mudanças. Essa vulnerabilidade, quando não bem administrada, tem
resultados emocionais, que, por vezes, geram certos comportamentos. Um
deles é o comportamento autolesivo, caracterizado por agressões físicas
ou emocionais que a pessoa causa a si mesma. Diversos cenários colaboram
para essa prática, mas o que mais chama atenção para a realidade de
hoje é a dependência da tecnologia. Segundo estudos, a forte ligação
entre o indivíduo e a tecnologia faz com que haja um distanciamento
entre as pessoas, abrindo brecha para atitudes extremas, como a
autolesão. Para entender mais sobre o assunto, a Agência Sul-Americana de Notícias
conversou com a psicóloga e mestre em psicologia Carolina Raupp, que
desenvolveu estudos específicos sobre este tema em sua dissertação.
A que principais conclusões você
chegou, em suas pesquisas, quanto às razões pelas quais adolescentes
praticam o chamado comportamento autolesivo (CA)?
Pesquisadores encontraram diferentes razões para a prática dos CA. Na
pesquisa que desenvolvi, a fala dos adolescentes indicou que um dos
principais motivos era a dificuldade em lidar com emoções avassaladoras
como a tristeza e a raiva. Já em relação à percepção delas quanto aos
fatores ambientais, problemas familiares foram, também, associados como
causa.
Esse comportamento está associado principalmente à depressão, certo?
Sim. A depressão pode ocorrer em todas as etapas da vida, mas nas etapas
de transição e na adolescência existe maior vulnerabilidade. Um estudo
identificou que a psicopatologia mais prevalente, associada aos
comportamentos autolesivos, foi a depressão. Segundo o Instituto
Nacional de Saúde Mental, mais de 90% das pessoas que cometem suicídio
apresentam depressão, e este pode acontecer quando se intensifica a
prática de autolesões.
E quanto a fatores de instabilidade e
relacionamentos familiares ruins, especialmente entre os pais e os
adolescentes? O que você detectou nessa área?
Os dados obtidos por meio da pesquisa reforçaram que a percepção da
baixa qualidade das relações familiares, assim como a sensação de pouca
coesão, são fatores de risco para os CA. A falta de manifestações de
afeto e de apoio emocional, bem como a presença de conflito familiar,
também foram percebidos como fatores facilitadores para a prática do
comportamento.
O que você pode falar a respeito da chamada dependência tecnológica, muito comum nessa faixa etária, atualmente?
O celular é o objeto mais oferecido para acalmar o bebê, antes mesmo da
mamadeira e da chupeta, ou seja, desde cedo os pequenos não estão sendo
ensinados a lidar com a frustração, a administrar as próprias emoções.
Nossa população mundial é de aproximadamente 7 bilhões de pessoas. No
ano de 2016, havia o registro de 6 bilhões de celulares, ou seja, há
celulares até onde a água potável não chegou. O uso excessivo de
tecnologias leva a um estado de fluxo, um estado alterado de
consciência. É fácil se tornar dependente e, consequentemente, elevar os
problemas interpessoais, especialmente algum tipo de deterioração da
vida familiar.
A dependência tecnológica tem relação com o comportamento autolesivo?
A dependência tecnológica facilmente pode gerar um afastamento entre as
pessoas (autismo digital). É fácil utilizar eletrônicos como uma rota de
fuga ou evitação, da mesma forma que pode ocorrer com os CA. Um estudo
da Universidade de Cardiff, Reino Unido, descobriu que as pessoas que
se autolesionam não apenas usam as mídias sociais para compartilhar
imagens das lesões. Alguns usam as imagens como parte do “ritual” de
autolesão. Outro estudo desenvolvido no Reino Unido, na Universidade de
Oxford, evidenciou que há aumento de risco para o suicídio e autolesão
entre os jovens que passam mais horas conectados na internet. Além
disso, nestes casos se observaram métodos mais violentos de autolesão.
Esses quadros de autolesão podem levar um número considerável de adolescentes ao suicídio? E como isso se dá?
Em uma investigação realizada em uma amostra clínica de adolescentes com
depressão, identificou-se que um histórico de CA antes do tratamento
foi um dos maiores preditores para posteriores tentativas de suicídio.
Alguns autores consideram os CA em um contínuo de um espectro
suicidário, envolvendo um processo de dessensibilização em direção ao
suicídio. Nem sempre acaba assim, mas existe uma elevação do risco
nestes casos.
Que orientações você dá para os adolescentes e para os pais quanto a esse problema?
Aos adolescentes: observar se houve progressiva mudança no humor,
diminuição no interesse ou prazer em fazer as coisas, cansaço,
alteração no apetite e/ou sono, vontade de se isolar dos amigos e
familiares, vontade de morrer etc. Procurar, então, alguma pessoa
confiável para conversar e pedir ajuda. Caso se autolesione, encontrar
estratégias de redução de danos para lidar com os impulsos. Por exemplo,
segurar gelo até derreter quando o impulso para se machucar se tornar
mais intenso.
Aos pais: olhar nos olhos, buscar formas de conectar coração a
coração, conversar. Grande parte dos filhos atuais são filhos órfãos de
pais vivos, que estão mais conectados com as redes sociais, trabalho e
com o cansaço que com o coração dos seus filhos. Amar é cuidar. Amor
indisponível não previne nem cura.
Qual o papel das igrejas e da religião em algum tipo de trabalho de apoio?
Entre as pessoas que entrevistei e atendi, as que pararam de se
autolesionar o fizeram por consideração ao pedido e/ou afeto de alguém.
Poucas contavam com o apoio familiar desejado. Desta forma, elas podem
encontrar nas igrejas alguém que as “enxergue”, as considere e que
também ajude a promover os vínculos familiares. O amor e a atenção
oferecidos pelas pessoas da igreja podem ser ferramentas
importantíssimas para o processo de cura. Até mesmo porque este amor
pode apontar para o amor de um Deus que as ama incondicionalmente, que
as fez com um propósito, doador de esperança e que não as deixa sós nos
momentos de maior angústia. Enfim, podem encontrar alguém que percebam
que se importa.
Felipe Lemos e Mauren Fernandes (via ASN)
As crianças que morrem na infância serão salvas?
A possibilidade dessas
crianças serem salvas parece, a primeira vista, descartada pelas
afirmações de que “quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não
crer será condenado” (Marcos 16:16), e que, para crer, é necessário
entender o evangelho (Romanos 10:12-15). Na tentativa de resolver esse
dilema, a Igreja Católica e mesmo alguns reformadores (inclusive Lutero)
argumentavam que Deus concede o “dom” da fé a um bebê que for batizado,
sendo assim salvo da culpa do “pecado original” de Adão. Mas essa
proposta é inaceitável, pois as Escrituras ensinam que os seres humanos
herdam apenas a natureza pecaminosa, sem que lhes seja atribuída a
“culpa” do pecado de Adão. Além disso, a Bíblia não recomenda a prática
do batismo infantil nem reconhece o caráter sacramental desse rito.
No entanto, a experiência do ladrão que se converteu na cruz (Lucas
23:39-43) confirma que entre os remidos estarão pessoas que não tiveram
condições de serem batizadas. Nessa categoria estão as crianças que
morreram antes de atingirem a idade ideal para o batismo. A salvação das
crianças é uma questão que transcende à mera questão do batismo. Se os
pecadores são justificados unicamente pela fé em Cristo (Romanos 5:1 e
2; cf. João 14:6), como pode uma criança que não exerceu conscientemente
tal fé ser justificada para a salvação?
As declarações de Ellen White nos livros Mensagens Escolhidas, vol. 2, pp. 259 e 260 (tópico “As Crianças na Ressurreição”); Ibid., vol. 3, pp. 313-316 (capítulo “Perguntas a Respeito dos Salvos”); e Eventos Finais,
pp. 253 e 254 (tópico “A Salvação de Criancinhas e Deficientes”)
revelam pelo menos três conceitos fundamentais sobre a salvação de
crianças que morreram em tenra idade. Um deles é que os filhos de pais
crentes serão salvos, pois a fé dos pais é extensiva aos filhos que
ainda não atingiram a idade da razão. É-nos assegurado que “a fé dos
pais que creem protege os filhos, como sucedeu quando Deus enviou Seus
juízos sobre os primogênitos dos egípcios” (Mensagens Escolhidas, vol. 3,
p. 314). Os pais crentes podem ter a certeza de que esses pequeninos
lhes serão devolvidos na gloriosa manhã da ressurreição. “Ao surgirem os
pequenos, imortais, de seu leito poento, imediatamente seguirão
caminho, voando, para os braços maternos. Reencontrar-se-ão, para nunca
mais se separarem.” (Ibid., vol. 2, p. 260).
Outro conceito fundamental é que no Céu estarão também criancinhas cujos
pais não serão salvos, e que elas serão cuidadas pelos próprios anjos
até atingirem a estatura necessária para se manterem sozinhas. Ellen
White declara que “muitos dos pequeninos, porém, não terão mãe ali. Em
vão nos pomos à escuta do arrebatador cântico de triunfo por parte da
mãe. Os anjos acolherão os pequeninos sem mãe e os conduzirão para junto
da árvore da vida” (Ibid.).
Em contraste com a fé dos pais crentes que é extensiva aos filhos em
tenra idade, não existe qualquer possibilidade de os pais incrédulos
protegerem seus filhos desta forma. A salvação de tais crianças é, por
conseguinte, um ato exclusivo da graça de Deus, a respeito do qual não é
apropriado conjecturar. Um terceiro conceito fundamental é que “não
podemos dizer se todos os filhos de pais descrentes serão salvos, porque
Deus não tornou conhecido o Seu propósito a respeito desse assunto” (Ibid., vol. 3, p. 315).
Ellen White esclarece também que, por ocasião da primeira ressurreição,
“todos saem do túmulo com a mesma estatura que tinham quando ali
entraram”, e que, durante o milênio, “os remidos crescerão até à
estatura completa da raça em sua glória primitiva” (O Grande Conflito,
pp. 644 e 645). Como, então, Ellen White pôde ver, em sua primeira
visão, a presença de crianças ainda na nova Terra (ver Primeiros Escritos, p. 19)? É provável que as cenas dessa visão tenham sido descritas tematicamente em Primeiros Escritos, sem a mesma precisão cronológica que caracteriza o conteúdo de O Grande Conflito.
Portanto, entre os salvos estarão os filhos que morreram em tenra idade
cujos pais se salvarão, bem como outras criancinhas cujos pais se
perderão. Durante o milênio essas crianças, juntamente com os demais
remidos, crescerão até atingirem a estatura original da raça humana.
Alberto R. Timm (via Centro White)
Título original: Serão salvas as crianças que morreram antes de atingirem a idade da razão?
Os Sete Pecados Capitais na visão de Ellen G. White
Os conceitos
incorporados no que se conhece hoje como os sete pecados capitais tratam
de uma classificação de condições humanas conhecidas atualmente como vícios, que precedem o surgimento do cristianismo, mas que foram usadas mais tarde pelo catolicismo com o intuito de educar os seguidores, de forma a compreender e controlar os instintos básicos do ser humano e assim se aproximar de Deus.
A lista final, apresentada no século XIII, é a versão aprimorada de uma
primeira versão, datada do século IV. Todo esse esforço em descrever
defeitos de conduta tinha um motivo: facilitar o cumprimento dos Dez
Mandamentos. A tradição católica considera que os setes pecados capitais
dão origem a todos os outros pecados. A Bíblia não diz isso, mas
concorda que são pecados e devem ser evitados. A seguir, vejamos os
pecados capitais sob a ótica de Ellen G. White:
1. Gula
"Não estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a sonolência vestirá de trapos o homem." (Pv 23:20-21)
"Sobrecarregar o estômago é um pecado comum, e quando se usa
demasiado alimento, todo o organismo é sobrecarregado. A vida e
vitalidade, em vez de aumentar, diminuem. É assim como Satanás planeja. O
homem utiliza suas forças vitais no desnecessário trabalho de cuidar de
excesso de alimentos. Por tomar demasiado alimento, não apenas gastamos
descuidadamente as bênçãos de Deus, providas para as necessidades da
natureza, mas causamos grande dano a todo o organismo. Contaminamos o
templo de Deus, que é enfraquecido e mutilado; e a natureza não pode
fazer o seu trabalho bem e sabiamente, como Deus designara que fosse. A
Palavra de Deus coloca o pecado de glutonaria na mesma categoria que a
embriaguez. Os que isto fazem não são cristãos, não importa quem sejam
ou quão exaltada seja sua profissão de fé. Comer demais é o pecado deste
século." (Conselhos sobre o Regime Alimentar, pp. 131-142)
2. Avareza
"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." (1Tm 6:10)
"Não deves ser avarento, mas honesto contigo mesmo e com teus irmãos.
A avareza é um abuso das beneficências de Deus. Seja qual for a vossa
vocação ou posição, se acariciardes o egoísmo e a cobiça, sobre vós
recairá o desagrado do Senhor. Não façais da obra e da causa de Deus uma
desculpa para tratar de maneira avara e egoísta com qualquer pessoa,
mesmo que estejais fazendo um negócio que se relacione com Sua obra.
Deus não aceita coisa alguma no sentido de ganho que seja levado para o
Seu tesouro por meio de transações egoístas." (Conselhos sobre Mordomia,
p. 145)
3. Luxúria
"Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos." (Ef 5:3)
"Os pecados que atraíram a vingança sobre o mundo antediluviano,
existem hoje. Aquilo que em si mesmo é lícito, é levado ao excesso.
Multidões não se sentem sob qualquer obrigação moral de reprimirem seus
desejos sensuais, e tornam-se escravos da luxúria. Os homens estão
vivendo para os prazeres dos sentidos, para este mundo e para esta vida
unicamente. A extravagância invade todas as rodas da sociedade. A
entrega de todas as faculdades a Deus, simplifica grandemente o problema
da vida. Enfraquece e abrevia milhares de lutas com as paixões do
coração natural." (Patriarcas e Profetas, p. 62)
4. Ira
"Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal." (Sl 37:8)
"Os que, a qualquer suposta provocação, se sentem em liberdade de
condescender com a zanga ou o ressentimento, estão abrindo o coração a
Satanás. Amargura e animosidade devem ser banidas da alma, se queremos
estar em harmonia com o Céu. Se condescendermos com a ira, a
concupiscência, a cobiça, o ódio, o egoísmo ou outro pecado qualquer,
tornamo-nos servos do pecado. Muitos consideram as coisas pelo seu lado
mais escuro; engrandecem suas supostas ofensas, nutrem a ira, e são
tomados de sentimentos de vingança e ódio, quando em verdade não tinham
causa real para esses sentimentos. Resisti a esses sentimentos errados, e
experimentareis grande mudança em vossas relações com os semelhantes."
(Mente, Caráter e Personalidade vol. 2, pp. 516-523)
5. Inveja
"O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos." (Pv 14:30)
"A inveja não é meramente uma perversidade do gênio, mas uma
indisposição que perturba todas as faculdades. Começou com Satanás. Ele
desejou ser o primeiro no Céu e, como não alcançasse todo o poder e
glória que buscava, rebelou-se contra o governo de Deus. Invejou nossos
primeiros pais, tentando-os ao pecado, e assim os arruinou, e a todo o
gênero humano. O invejoso fecha os olhos às boas qualidades e nobres
ações dos outros. Está sempre pronto a desprezar e representar
falsamente aquilo que é excelente. Os homens muitas vezes confessam e
abandonam outras faltas; do homem invejoso, porém, pouco se pode
esperar. Visto como invejar a alguém é admitir que ele é superior, o
orgulho não tolerará nenhuma concessão. O invejoso espalha veneno aonde
quer que vá, separando amigos, e suscitando ódio e rebelião contra Deus e
o homem. Procura ser considerado o melhor e o maior, não mediante
heroicos e abnegados esforços por alcançar ele mesmo o alvo da
excelência, mas sim ficando onde está e diminuindo o mérito dos outros."
(Testemunhos Seletos vol. 2, p. 19)
6. Preguiça
"O que trabalha com mão preguiçosa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se." (Pv 10:4)
"Foi-me mostrado que muito pecado é resultado da preguiça. Mãos e
mentes ativas não acham tempo para dar ouvidos a toda tentação sugerida
pelo inimigo; as mãos e os cérebros ociosos, porém, estão sempre em
condições de ser controlados por Satanás. Quando não devidamente
ocupada, a mente demora-se em coisas impróprias. É vil preguiça o que
faz com que criaturas humanas olhem com desprezo os simples deveres
diários da vida. A recusa a cumpri-los produz uma deficiência mental e
moral que há de ser vivamente sentida algum dia. Em algum tempo, na vida
do preguiçoso, sua deformidade aparecerá claramente definida. No
registro de sua vida, acham-se escritas as palavras: Um consumidor, mas
não produtor." (Conselhos para a Igreja, p. 197)
7. Soberba
"A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda." (Pv 16:18)
"A soberba é um terrível aleijão no caráter. 'A soberba precede a
ruína'. Isto é verdade na família, na igreja e na nação. O Redentor nos
adverte contra a soberba da vida, mas não contra sua graça e natural
beleza. Sempre que a ambição e o orgulho são tolerados, a vida é
maculada; pois o orgulho, não sentindo necessidade, cerra o coração para
as bênçãos infinitas do Céu." (Profetas e Reis, p. 60).
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