quinta-feira, 28 de março de 2019

A chama do reavivamento


O que acontece quando um líder espiritual decide viver de acordo com a vontade de Deus


“Quem foi o melhor rei do Antigo Testamento?” Se você fizer essa pergunta à igreja, certamente a resposta oscilará entre Davi e Salomão. Este último é conhecido como o mais sábio, mas não necessariamente o melhor da história. Por sua vez, Davi é considerado um modelo, a ponto de outros reis serem comparados a ele. Por exemplo, é dito a respeito de Acaz que ele “não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai” (2Cr 28:1); sobre Ezequias, porém, se declara que fez “o que era reto perante o Senhor, segundo tudo quanto fizera Davi, seu pai” (2Cr 29:2).

Esses textos parecem indicar que Davi tenha sido o melhor monarca do Antigo Testamento. Contudo, 2 Reis 23:25 declara a respeito de Josias que “não houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse ao Senhor de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a Lei de Moisés; e, depois dele, nunca se levantou outro igual”.

Essa afirmação exige uma explicação. Por que Josias é considerado o melhor de todos? O que ele fez para que o autor bíblico o considerasse dessa maneira? O que um pastor pode aprender da vida de Josias e da influência dele sobre o povo de Deus? Neste artigo, eu gostaria de analisar o contexto do reinado de Josias, como ele governou e quais foram os resultados de sua liderança.

Reavivamento pessoal

A primeira parte da narrativa descreve uma situação paradoxal. A Bíblia declara em 2 Reis 22:3 a 7 que o rei Josias promoveu a restauração do Templo de Jerusalém. Nesse processo, ocorreu um fato sem precedentes. Hilquias, o sumo sacerdote, disse: “Achei o Livro da Lei na Casa do Senhor” (v. 8). O livro da Lei perdido em sua casa? Conforme Deuteronômio 31:24 a 26, o livro da Lei deveria estar ao lado da arca da Aliança. O problema da nação nos dias de Josias era que as pessoas haviam se esquecido do livro da Lei. Isso resultou em uma série de práticas que contrariavam explicitamente a Palavra de Deus.

Essa descoberta provocou um reavivamento na casa real e, em seguida, em toda a nação. Em 2 Reis 22:11, o autor bíblico explica que o rei escutou as palavras do livro da Lei e rasgou as vestes. Esse ato expressava profunda dor. Por exemplo, Jacó agiu da mesma forma quando recebeu a túnica de José banhada em sangue (Gn 37:33, 34). Jó, logo após perder suas posses e seus filhos, rasgou seu manto (Jó 1:20). Em ambos os casos, esses patriarcas rasgaram suas vestes em sinal de grande sofrimento. No caso de Josias, a atitude sucedeu a leitura das Escrituras. Como é possível que a leitura do texto sagrado tenha provocado uma reação tão intensa? A Bíblia pode causar dor no ser humano?

Para entender a atitude do rei é preciso compreender os eventos históricos. A descoberta do livro da Lei ocorreu em 621 a.C, quando o exército da Babilônia assediava a Assíria e pretendia conquistar a Palestina (J. B. Graybill, “Judah, Kingdom of”, The International Standard Bible Encyclopedia, v. 2, ed. Geoffrey W. Bromiley [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1986)], p. 1147). Nabopolasar, pai de Nabucodonosor, começou sua trajetória vitoriosa em 626 a.C e, em 612, conquistou Nínive (Paul R. House, 1, 2, Kings, New American Commentary 8 [Nashville, TN: Broadman & Holman, 1995], p. 354). Foi nesse contexto que Josias ouviu pela primeira vez o livro da Lei. De acordo com as Escrituras, se Israel se distanciasse do Senhor para adorar outros deuses, uma nação distante invadiria a Terra Prometida e levaria o povo para o cativeiro.

Deuteronômio 28 declara que, como resultado da desobediência dos israelitas, “o Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o voo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás; […] Sitiar-te-á em todas as tuas cidades, até que venham a cair, em toda a tua terra, os altos e fortes muros em que confiavas; […] sereis desarraigados da terra à qual passais para possuí-la. O Senhor vos espalhará entre todos os povos” (v. 49, 52, 63, 64).

Evidentemente, Josias era consciente da situação espiritual em que se encontrava o povo, por isso rasgou as vestes. O rei temia que as palavras do livro da Lei se cumprissem. Logo a seguir, ele consultou a profetisa Hulda, para saber se as maldições da aliança se cumpririam. Ela confirmou as palavras das Escrituras; no entanto, também anunciou que Deus, por causa da atitude humilde do rei, do enternecimento do coração e do rasgar das vestes, adiaria o decreto celestial (2Rs 22:18-20).


Esse foi o início do reavivamento espiritual que ocorreu na vida do rei Josias. Fica evidente o papel fundamental que a Bíblia desempenhou nesse processo. Não existe renascimento espiritual sem o estudo das Escrituras Sagradas. Os ministros de Deus devem passar mais tempo com Sua Palavra, a fim de experimentar o reavivamento que só o Senhor pode realizar. Também é interessante notar o papel importante que o ofício profético desempenhou nessa narrativa. A profetisa Hulda confirmou a mensagem das Escrituras e exerceu influência sobre o rei para promover, mais adiante, uma reforma sem precedentes entre o povo de Deus.

Reavivamento coletivo

A resposta da profetisa Hulda deu início a uma série de ações que transformaram a atitude do povo. O rei mandou convocar todos os anciãos de Judá e Jerusalém. Em seguida, “subiu à Casa do Senhor, e com ele todos os homens de Judá, todos os moradores de Jerusalém, os sacerdotes, os profetas e todo o povo, desde o menor até ao maior” (2Rs 23:2). Ali, leu em voz alta todas as palavras do livro da Lei que havia sido achado no Templo do Senhor. Depois, fez um pacto diante de Deus, como representante da nação, comprometendo-se a segui-Lo, a guardar Seus mandamentos, testemunho e estatutos, de todo coração e alma, e a cumprir as palavras que estavam no livro da Lei. E todo povo anuiu à aliança (2Rs 23:1-3).

Assim, o reavivamento espiritual que o rei experimentou foi seguido por uma reforma que envolveu todo o povo. É importante destacar que essa mudança também foi guiada pela Palavra de Deus, uma vez que todos decidiram ser fiéis à aliança do Senhor (2Rs 23:3).

O que se vê na sequência é uma série de reformas relacionadas com a vida religiosa da nação. Por muito tempo, as pessoas acharam que, por pertencerem ao povo escolhido, estavam seguras, independentemente de seu compromisso pessoal com a aliança divina. Contudo, ao terem conhecimento do livro da Lei, perceberam que pesava sobre elas a condenação predita em caso de desobediência aos preceitos do Senhor.

Desse modo, 2 Reis 23:4 a 24 descreve todas as reformas realizadas. Em primeiro lugar, Josias eliminou os elementos idolátricos que se achavam no Templo do Senhor. Tirou de lá os utensílios que não pertenciam ao santuário e eram usados na adoração a Baal, ao poste-ídolo e a todo o exército dos céus (v. 4); destruiu as acomodações dos prostitutos cultuais, onde se adorava a deusa Aserá (v. 7); e demoliu os diferentes altares espalhados em todo território de Judá (v. 8-15), inclusive aqueles que estavam em Samaria e Betel (v. 19). Além disso, agiu contra os líderes da adoração idolátrica. O rei “destituiu os sacerdotes que os reis de Judá estabeleceram para incensarem sobre os altos nas cidades de Judá e ao redor de Jerusalém” (v. 5) e “matou todos os sacerdotes dos altos” que viviam em Samaria (v. 20). Por fim, eliminou os “médiuns, os feiticeiros, os ídolos do lar, os ídolos e todas as abominações que se viam na terra de Judá e em Jerusalém” (v. 24).

Todas as reformas feitas por Josias foram fundamentadas nas orientações encontradas no livro da Lei (v. 2, 24). Sob sua liderança, tudo que contrariava as indicações bíblicas relacionadas com a verdadeira adoração a Deus foi eliminado. Contudo, a verdadeira reforma não está completa quando se elimina os elementos estranhos à verdadeira adoração, mas quando inclui o verdadeiro sentido da adoração. Sensível a essa realidade, o rei ordenou “a todo o povo, dizendo: Celebrai a Páscoa ao Senhor, vosso Deus, como está escrito neste Livro da Aliança. Porque nunca se celebrou tal Páscoa como esta desde os dias dos juízes que julgaram Israel, nem durante os dias dos reis de Israel, nem nos dias dos reis de Judá” (v. 21, 22).

Três pontos da atitude do rei se destacam e devem ser aplicados em nossos dias. Em primeiro lugar, as reformas em favor da verdadeira adoração são promovidas por ministros que têm sido reavivados pelo estudo da Palavra de Deus. Em segundo lugar, uma mudança espiritual implica o estabelecimento da celebração da Páscoa como clímax da reforma. Finalmente, o ministro deve fazer o máximo possível para honra e glória de Deus.

O centro do reavivamento

A centralidade da celebração da Páscoa nas reformas de Josias é importante para entender o caráter de um reavivamento e uma reforma espiritual. A fim de compreender melhor esse assunto, é necessário analisar o significado da Páscoa no momento em que ela foi instituída. Nos dias do cativeiro egípcio, o Senhor Se manifestou de maneira poderosa em favor de Seu povo, executando Seus juízos contra o poder opressor do maior império daqueles dias.

Nove pragas já haviam caído, e Deus então declarou a Seu povo que deveria se preparar para finalmente sair da terra da escravidão (Êx 11, 12). Entretanto, os israelitas deveriam sacrificar um cordeiro sem mácula, de um ano, e passar o sangue do animal imolado nas ombreiras e na verga da porta de sua casa (Êx 12:3-7). O motivo para esse ritual era que, à meia-noite, o Senhor passaria pelo meio do povo, e o sangue do cordeiro seria o sinal para, em primeiro lugar, conservar com vida o primogênito daquele lar e, em seguida, libertar o povo da escravidão no Egito. Essa é a Páscoa do Senhor (Êx 12:11, 12).

Entender esse evento da história de Israel nos permite compreender a natureza e o propósito último dos atos divinos em favor de Seu povo: a libertação por meio de uma provisão celestial, a saber, o sacrifício do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Em harmonia com essa realidade, João, no Apocalipse, afirmou que a vitória é obtida somente “por causa do sangue do Cordeiro” (Ap 12:11). O apóstolo Paulo também declarou que “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1Co 5:7).

O reavivamento e a reforma liderados por Josias são exemplos para pastores e igrejas da atualidade. À luz de 2 Reis 22 e 23, é importante destacar que o papel do líder espiritual é fundamental nesse processo. Em outras palavras, se o ministro não se importa com a espiritualidade, ele e o povo correm o risco de se perderem para sempre. Contudo, o desenvolvimento espiritual deve estar fundamentado no estudo da Bíblia e dos escritos inspirados. Como resultado, deve-se produzir um reavivamento (o desejo de seguir a vontade de Deus de maneira fiel e sincera) e uma reforma (mudanças nas práticas religiosas), eliminando condutas erradas e se entregando exclusivamente a Deus, por meio de Cristo, nossa Páscoa, como o centro da adoração e da vida religiosa.

ALVARO RODRÍGUEZ, doutor em Teologia, é professor da Universidade Peruana União
(Artigo publicado na edição de março-abril da Revista Ministério

Dieta do Éden fora do Éden?



A busca pela dieta perfeita tem atraído muitos reformadores da saúde contemporâneos da mesma forma que a mitológica fonte da juventude atraiu milhares de pessoas ao longo dos séculos. Entre os diferentes grupos que buscam a dieta perfeita estão os que defendem a dieta edênica como padrão dietético para nossos dias, alegando que a dieta originalmente dada a Adão e Eva é válida para nosso tempo. Porém, uma análise dessa proposta não resiste ao escrutínio teológico nem ao científico. Ela mostra sérias inconsistências nessas duas áreas, como pontuaremos.

  1. É impossível ter uma dieta perfeita neste mundo imperfeito, em que os seres humanos e toda a criação sofrem as consequências do pecado (Rm 8:22). Isso significa que, em menor ou maior quantidade, todos os alimentos possuem algum ingrediente tóxico. Fitatos, fitohemaglutinina, ácido fítico, tanino, cianetos, solaninas, oxalatos, urushiol e goitrogênicos são alguns elementos tóxicos presentes em muitos alimentos considerados saudáveis, entre eles castanha de caju, trigo, repolho, brócolis, tomate, maçã, cereja, amêndoa, feijões e espinafre, para citar alguns exemplos. Em resumo, eles são considerados alimentos bons, mas não perfeitos. Mesmo a germinação não consegue neutralizar as toxinas presentes em alguns alimentos. O segredo para reduzir os efeitos dessas toxinas a longo prazo é buscar uma alimentação variada com produtos da estação, dando ao organismo a oportunidade de metabolizá-los em tempos diferentes e evitando o acúmulo em um nível que possa ser prejudicial.
  1. A dieta edênica também defende o crudivorismo, ou seja, consumir os alimentos crus. O problema é que muitas substâncias tóxicas perigosas neles presentes são neutralizadas pelo cozimento e, paradoxalmente, certos nutrientes, como o licopeno (existente no tomate), são potencializados quando cozidos. Portanto, comer alimentos crus com alimentos cozidos é uma escolha estratégica e equilibrada. Uma dieta crudívora por um período de tempo pode ter efeitos positivos na recuperação de enfermidades, mas como estilo de vida pode ter efeitos não desejáveis.
  1. A dieta edênica original continha o fruto da árvore da vida, ao qual não temos acesso desde a entrada do pecado na Terra (Gn 3:22). Na realidade, um estudo dos primeiros livros da Bíblia nos revela que, para cada período, Deus indicou uma dieta especial: a edênica, a pós-edênica, a pós-diluviana e a israelita. O regime para o nosso tempo (do fim) é descrito por Ellen White como constituindo-se de “cereais, nozes, frutas e verduras”. E inclui alimentos que nascem debaixo da terra, como a batata.
  1. Deus não exige nossa perfeição em termos de alimentação, mas sim que cada um busque os alimentos mais saudáveis dentro da sua realidade, aproveitando cada oportunidade que Ele nos deu para escolher o melhor disponível. Isso significa, por exemplo, que a população ribeirinha do Amazonas, que tem uma dieta à base de peixe e farinha e vive onde há carência de frutas, verduras e cereais integrais, deve ser orientada de maneira diferente das pessoas que moram em regiões onde existe variedade de alimentos. No contexto da selva, o conselho aos ribeirinhos é para que evitem os animais imundos (Lv 11), cuidem da higiene pessoal e ambiental e busquem alternativas mais saudáveis quando disponíveis.
  1. Os componentes da dieta edênica foram preservados por Deus e voltaremos a usar esse regime na nova Terra. Lá tornaremos a comer do fruto da árvore da vida, e os animais desfrutarão da dieta originalmente dada a eles (Gn 1:30; Is 65:25). Porém, até lá, temos que fazer nosso melhor, sempre com responsabilidade e equilíbrio, nas condições imperfeitas em que vivemos.
(Dr. Silmar Cristo, Revista Adventista)

Lições da vida de João Batista


“Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados, graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de manifestar-se a Israel” (Lucas 1:76-80).

Em meus cultos diários, além de estudar a Bíblia e a lição da Escola Sabatina, também me aprofundo nos escritos de Ellen G. White. E foi nesse estudo detido, detalhado, minucioso, que eu me deparei com o décimo capítulo do Desejado de Todas as Nações, intitulado A Voz do Deserto. Fiquei impressionado com a personalidade e o caráter de João Batista. Por isso, quero partilhar com você algumas das características que encontrei na pessoa dele.

ELE ERA SANTO

João Batista foi chamado para ser o mensageiro de Jeová. Ele deveria “imprimir” nas pessoas uma “nova direção aos pensamentos”. Ele “devia impressioná-las com a santidade dos reclamos divinos”. Ora, se ele fora chamado para exercer uma obra de santidade, então ele próprio deveria ser santo. João Batista era um santo homem de Deus.
Como filhos de Deus, temos que ser santos. Sabe por quê? “Porque precisamos ser um templo para a presença de Deus”. Ser santo significa ser consagrado a Deus, dedicado a Deus, viver com uma conduta coerente com Deus, que nos convida a sermos santos. Nesse sentido, ser santo não é uma consecução, mas um estado: quando Deus me chama para uma obra, Ele me santifica; me escolhe; me separa; me dedica a Ele.
Você é santo(a)?

ELE ERA DISCIPLINADO

“Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e o amor do luxo e da ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais, e insensibilizando ao pecado”. As pessoas viviam como queriam, e quem quisesse ser diferente, quem quisesse viver a vontade de Deus, precisava dominar “os apetites e as paixões”. Para poder viver a expectativa de Deus, João Batista aprendeu a “dominar suas faculdades”. Dessa forma, ele foi capaz de se manter inabalável na sociedade, tão inabalável “como as rochas e montanhas do deserto”.
João Batista era disciplinado. Ele tinha um caráter firme, decidido, focado. Nada era capaz de distraí-lo da missão que tinha.
Como filhos e filhas de Deus, precisamos ser disciplinados: firmes, decididos, focados, inabaláveis como as rochas. Indisciplinado é alguém desorganizado, bagunçado, que não tem hora pra nada. Disciplinado é alguém organizado, metódico, sistemático.

Você é disciplinado(a)?

ELE ERA REFORMADOR

Diante da bagunça, da licenciosidade e da permissividade de seus dias, “João Batista devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época”.
Note que diante de uma sociedade desregrada, João Batista não fez campanha, projeto ou movimento; não fez cartaz, propaganda ou marketing. Ele era a campanha; ele era o projeto; ele era o movimento; sua vida era seu discurso. Antes mesmo de pregar o que as pessoas deveriam abandonar, ele já demonstrava em sua vida a mudança que deveria ocorrer. Antes mesmo de pregar como as pessoas deveriam viver, ele já demonstrava em sua vida o modo correto de vida.
Ser reformador significa mostrar na vida as mudanças que queremos que ocorram na igreja e na sociedade; ser reformador significa repreender os maus comportamentos com o poderoso sermão de uma vida pautada pela vontade de Deus.

Você é um(a) reformador(a)?

ELE ERA ESTUDIOSO

João Batista tinha um discurso poderoso, tanto na forma quanto no conteúdo. Sim, sua pregação tinha conteúdo sólido. E onde ele estudou? O que ele estudou?
(1) João Batista não estudou nas escolas de teologia da época porque estas não o ajudariam a se preparar para cumprir a missão que ele tinha; os professores de teologia dessas escolas não eram confiáveis;
(2) ele foi ao deserto, local literal e simbólico, que lembra isolamento e concentração;
(3) os temas que estudou foram: a natureza e o Deus da natureza.
Além disso, Ellen G. White ressalta que “João encontrou no deserto sua escola e santuário”. O que ele fazia no deserto? No deserto, “sozinho, no silêncio da noite, [João Batista] lia a promessa feita por Deus a Abraão, de uma semente tão inumerável como as estrelas. A luz da aurora, dourando as montanhas de Moabe, falava-lhe dAquele que havia de ser “como a luz da manhã quando sai o Sol, da manhã sem nuvens”.
João Batista tinha um deserto literal, e nele tinha uma experiência de intenso aprendizado. No deserto, João Batista bebia da fonte do conhecimento.
Você e eu precisamos ter nosso “deserto”, que seja nossa escola e nosso santuário; nossa escola para fortalecer nosso intelecto, e nosso santuário para fortalecer nossa fé. Você tem seu “deserto” de aprendizado? Pode ser seu escritório em casa, no trabalho ou algum outro lugar. Você precisa ter um local onde diariamente possa ler, estudar, aprofundar e escavar a verdade.

Você é estudioso(a)?

ELE ERA SOCIÁVEL

Pelo que comentamos até aqui, pode parecer que João Batista era um alienado, um ermitão. Nada disso. Ellen White escreve que “A vida de João [Batista] não era […] passada em ociosidade, em ascética tristeza, em isolamento egoísta. [Ele] ia de tempos a tempos misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes chegar ao coração com a mensagem do Céu”.
João Batista tinha uma personalidade interessantíssima, que misturava estilo introvertido e extrovertido. Em sua introversão, passava longo tempo no deserto; em sua extroversão, se misturava com as pessoas.
A vida de João Batista, entre o deserto e as multidões, é um tremendo puxão de orelhas nas pessoas que pensam que a vida cristã se resume a morar nas montanhas, e de lá ficar criticando meio mundo. Preste atenção ao que Ellen G. White registrou: “Os que buscam esconder sua religião […] ocultando-a dentro de muros de pedra, perdem valiosas oportunidades de fazer o bem. Por meio das relações sociais, o cristianismo se põe em contato com o mundo”.
A vida de João Batista, entre o deserto e as multidões, é uma tremenda inspiração.

Você é sociável?

ELE ERA SINGULAR

João Batista era singular, único. Mas sua singularidade, em vez de torná-lo alguém estranho, esquisito, o tornava alguém atrativo. Ellen G. White afirma que “o singular aspecto de João fazia a mente dos ouvintes reportar-se aos antigos videntes. Nas maneiras e no vestuário, assemelhava-se ao profeta Elias. Com o espírito e poder deste, denunciava a corrupção nacional, e repreendia os pecados dominantes. Suas palavras eram claras, incisivas, convincentes. Muitos acreditavam que fosse um dos profetas ressuscitado. Toda a nação se comoveu. Multidões afluíam ao deserto”.
Ser singular significa ser diferente, inigualável, incomparável. Nós não devemos ser mera cópia de outro. Nós somos especiais, não a ponto de sermos excêntricos, bizarros, mas a ponto de sermos ímpares e sui generis.

Você é singular?

ELE ERA UM PREGADOR ENTUSIASTA

João Batista era um pregador poderoso e entusiasta. Os antigos compreendiam a palavra entusiasmo como se referindo a alguém inspirado ou possuído pela presença de Deus. Assim, o entusiasta seria alguém que tinha Deus. E João Batista certamente tinha Deus. Ellen G. White escreve que ele falava palavras que tocavam fundo no coração das pessoas, e ao ouvi-lo, as multidões reagiam com convicção, a ponto de perguntarem: “E agora, que faremos?” E ele respondia: “Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira” (Lucas 3:10, 11). E advertia os publicanos contra a injustiça, e os soldados contra a violência.
Quando você pregar, faça-o com tal poder e entusiasmo que as pessoas sintam o desejo de se entregar a Deus e mudar de vida.

Você é um(a) pregador(a) entusiasta?

ELE ERA HUMILDE

João Batista adquiriu reconhecimento, fama, boa reputação. Mas ele sempre se manteve humilde. Isso é bem ilustrado por estas palavras de Mateus 3:11: “Eu batizo vocês com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de carregar as sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
João Batista sabia quem ele era, mas também sabia quem não era. Ele era humilde. Humildade é a virtude que nos dá o sentimento de nossa fraqueza e limitações. Humildade é modéstia. Ser humilde é permitir que a vontade de Deus floresça em nossa vida. João Batista viveu assim. Nunca se considerou “a cereja do bolo”. E embora corajoso e decidido, se manteve humilde ao longo de seu ministério.

Você é humilde?

CONCLUSÃO

Eu quis partilhar com você algumas poucas características da pessoa de João Batista: Ele era santo, disciplinado, reformador, estudioso, sociável, singular, um pregador entusiasta, humilde.
Você consegue imaginar o efeito de alguém com essas características convivendo com outras pessoas?
O efeito será extraordinário, assim como foi a vida de João Batista. “Muitos deram ouvidos a suas instruções. Muitos sacrificaram tudo, a fim de obedecer. Multidões seguiam a esse novo mestre de um lugar para outro”.
Tudo o que eu escrevi pode ser resumido nesta frase: “Mais do que apenas impacto ou admiração, a vida de um verdadeiro cristão causa efeito transformador na vida das pessoas ao redor”.

Adolfo Suárez

Quatro lições para não quebrar a cabeça


Às vezes, atingir objetivos pode ser mais fácil do que parece

Pois começamos o novo ano montando um quebra-cabeça em nossa casa. Porém, não imaginávamos quão difícil seria. Eu, minha esposa, Marina, e minha filha, Caroline, que passou o fim de ano conosco, embarcamos numa missão quase impossível de montar um quebra-cabeça de uma obra do pintor impressionista Paul Cézanne. A pintura, denominada “Maçãs e Laranjas”, não tinha o mesmo foco de uma fotografia moderna, o que dificultava tremendamente o trabalho de achar as peças que combinavam.

Caroline sugeriu que iniciássemos pelas bordas. Assim, em poucos minutos completamos toda a parte de fora. Mas daí para a frente a coisa complicou. Eu me baseava na forma das peças, a Carol na combinação das cores e a Marina em ambas. Com isso, a pintura foi se tornando mais compreensível, mas levou dias para concluirmos tudo.

Montar um quebra-cabeça é uma ótima atividade para a família. Grande oportunidade para trabalhar em grupo, compartilhar estratégias e simplesmente conversar. Durante o processo, todo tipo de assunto pode ser abordado. Também é possível comer, cantar, assobiar, escutar música e realizar outras ações semelhantes. No entanto, algumas são incompatíveis, como, por exemplo, ler e escrever. Tentei e, infelizmente, não deu certo.

Movimentos calculados

O que devemos fazer durante o começo de um novo ano é usar estratégias semelhantes às que se empregam para completar um quebra-cabeça. Nossa vida é como um deles, e aqui está a primeira lição: se ela não for planejada ou estruturada, o futuro não será próspero. O método que eu, minha esposa e minha filha usamos – começar pelas bordas e comparar cores e formas – estava baseado na educação, no conhecimento que obtivemos ao longo do tempo. Esse foi o segredo para resolvê-lo.

Portanto, educação é o primeiro passo para impulsionar a vida. Se você não a tem (ou não como gostaria), ainda há tempo. Acredita não ter mais idade para isso? Uma de minhas pacientes tem 92 anos e está terminando um mestrado em Teologia. Assim, creio que você ainda pode se desenvolver.

Mas isso não é tudo. Ao começar a resolver o quebra-cabeça, a tarefa parecia impossível, mas trabalhando em grupo quase sempre um de nós conseguia achar a peça certa que os outros não haviam encontrado. Portanto, na vida, a segunda lição é esta: precisamos aprender a manter relacionamentos saudáveis com as pessoas e aprender que dependemos uns dos outros. Isolamento só traz problemas e acaba levando à depressão.

A terceira lição consiste em começar do simples para o complicado. Num quebra-cabeça, um dos segredos básicos é agregar as peças de cor semelhante. No nosso caso, o começo não foi fácil porque haviam várias áreas da pintura com tonalidades parecidas. Mesmo assim, essa técnica facilitou o término das partes específicas. Quando uma área era formada e tinha uma coloração similar, facilmente encontrávamos as outras peças. Muitas pessoas desenvolvem um grande estresse e não conseguem resolver os seus “quebra-cabeças” porque são acostumadas a complicar as situações.

Não transforme tudo em uma tempestade

Certa vez, um paciente me telefonou dizendo que sentia fortes dores abdominais. Me explicou que estava mal e não havia alívio que o permitisse dormir. Relatou que seu intestino não funcionava e a dor era tão terrível que achava que o diagnóstico era grave, talvez uma obstrução intestinal ou mesmo um câncer. Respondi que ele não deveria pensar no pior e que talvez fosse algo que havia comido ou uma combinação de alimentos que não deu certo.

Mas ele estava realmente preocupado. Sugeri então um tratamento diagnóstico: pedi para o mesmo ingerir um copo de água com carvão vegetal em pó. Assim, se fosse coisa simples, o tratamento resolveria; se não, ele deveria submeter-se a outros exames. Felizmente a dor passou em poucas horas e a “obstrução” e o “câncer” foram “curados” – provavelmente algum alimento havia causado indigestão. Se você tem problemas, primeiramente considere sempre a solução mais simples.
A última lição do quebra-cabeça é a persistência. Muitas vezes, chegávamos à conclusão de que uma peça estava faltando e que era impossível encontrá-la. E, mais adiante, ela era encontrada. Na vida, as coisas nem sempre acontecem da noite para o dia (como diz o ditado). Às vezes temos que persistir e dar mais tempo para que nossos projetos se realizem.

Agora, aplicando o conceito do quebra-cabeça para a área de saúde, em primeiro lugar precisamos planejar, estruturar. Muitas pessoas fazem resoluções de fim de ano que duram duas semanas porque não fizeram nenhum plano de como continuar e manter as mudanças. Por isso, aprenda mais sobre o hábito que você deseja mudar. Estude, pesquise, converse com pessoas especializadas e, principalmente, com aqueles que foram bem-sucedidos na mudança do hábito.
Segundo, se houver um apoio familiar ou de amigos, a mudança de hábitos, como dieta e exercício, será mais facilmente atingida. Para muitas pessoas, o exercício em grupo ou mesmo a dois produz mais motivação. Comece do simples para o complexo. Ninguém vai ter sucesso em um programa de exercício físico se iniciá-lo praticando esgrima, lançamento de dardos e mergulho submarino. E se por acaso alguém for bem-sucedido nestes “esportes”, as chances são de que em alguns meses eles serão abandonados. Assim, comece com o simples, talvez uma caminhada diária, por exemplo.

E, finalmente, não se esqueça da parte espiritual. O pintor Paul Cézanne retratava coisas naturais, como frutas e outras cenas da natureza. A natureza foi criada por Deus e aponta para Ele e sua grandiosidade. Deveríamos gastar mais tempo contemplando e visitando as florestas e montanhas. Uma vida ao ar livre produz paz, ativa o exercício, expõe o corpo ao ar puro, à luz solar, e aproxima a pessoa do Criador.

“Fazes jorrar as nascentes nos vales e correrem as águas entre os montes;
delas bebem todos os animais selvagens, e os jumentos selvagens saciam a sua sede.
As aves do céu fazem ninho junto às águas e entre os galhos põem-se a cantar.
Dos seus aposentos celestes ele rega os montes; sacia-se a terra com o fruto das tuas obras!”
(Salmos 104:10-13).

Hildemar Santos