quarta-feira, 26 de julho de 2017

Espiritualidade pós-moderna

Entenda por que a fé perdeu o vigor e se tornou superficial, apesar de a religiosidade estar em alta 



Nunca o mundo foi tão religioso. Parece que, finalmente, a fé triunfou. Em cada esquina há um templo. E, ao zapear com o controle remoto pelos canais de televisão, é mais fácil encontrar um culto para assistir do que um filme ou uma partida de futebol. Apesar de tanto esforço, nos últimos séculos, para esvaziar a política da religião, os eleitores anseiam cada vez mais que seus representantes pautem suas agendas conforme os preceitos das igrejas.

Vá a uma livraria, mesmo uma livraria secular, e você encontrará muitas Bíblias! O livro mais perseguido e odiado da história não mais precisa ser repassado restritamente nas igrejas, discretamente: é comercializado no balcão principal de uma grande livraria, em todas as cores e tamanhos, onde crentes e descrentes o apalpam e compram, como fazem com os lançamentos de autoajuda ou os romances.

Se há uma geração os cultos eram celebrados em igrejas com algumas dezenas de assentos (bancos de tábua dura), hoje é comum grandes templos para milhares de pessoas (acomodadas em poltronas acolchoadas). Se as ofertas eram moedinhas atiradas na sacola, hoje os cheques (e às vezes o cartão de crédito e a transferência bancária) injetam recursos vultuosos para as igrejas. Os líderes religiosos são figuras carismáticas. Cantores e pregadores atraem multidões que lotam estádios de futebol, mesmo que o privilégio de os ouvir signifique comprar um ingresso. Isso sem falar nos milagreiros, aqueles que surpreendem enormes concentrações com paraplégicos que se erguem da cadeira de rodas e dores nas costas remidas por uma enfática ordem proferida do alto do palanque.

Mas, tudo isso significa que as pessoas estão mais próximas de Deus? Surpreendentemente, a resposta é não! As estrelas da fé levam uma vida frívola cercada de luxo e exposta nas colunas sociais. Os milagres não transformam vidas, não contemplam todas as necessidades do corpo e da alma e não reproduzem as manifestações do poder do Espírito Santo narradas no Novo Testamento. As ofertas são obtidas sob manipulação e dadas com o interesse de o ofertante barganhar Deus e receber em troca mais do que deu, sem qualquer espírito de abnegação ou desejo de fazer prosperar a causa do evangelho. Os políticos religiosos costumam ser tão incoerentes como costumam ser os velhos políticos que nunca vão à igreja. A Bíblia é artigo de decoração, e é mais fácil encontrar a capa da Bíblia combinando com o estilo da vestimenta do que reconhecer seu conteúdo combinando com o estilo de vida de quem costuma carregá-la.

Houve um tempo parecido com estes tempos pós-modernos. Muita religiosidade, mas rara consagração a Deus. O mundo orbitava em torno da fé, mas isso não significava que as pessoas fossem espirituais. A igreja controlava o governo, mas isso nem de longe era uma bênção. Em vez de a idade da fé ser conhecida como idade da luz, foi conhecida como idade das trevas ou a Idade Média. Incomodados com os abusos cometidos em nome da religião nessa época, os historiadores nomearam a era seguinte, marcada por uma incredulidade reacionária, de Idade Moderna, ou Era das Luzes. O modelo de pensamento racionalista e irreligioso da Idade Moderna é chamado de iluminismo.

Mas as verdadeiras luzes da época das luzes não foram os céticos filósofos iluministas. Não se tratam dos nomes estudados nas escolas e resumidos nas enciclopédias, com John Locke (1632-1704), Voltaire (1694-1778), Jean-Jacques Rosseau (1712-1778), Diderot (1713-1784), D’Alambert (1717-1783), Immanuel Kant (1724-1804), David Hume (1711-1775), Adam Smith (1723-1790), Charles Darwin (1809-1882) ou Karl Marx (1818-1883), entre outros. Esses homens sem Deus podem ser valorizados pelos seus ensinamentos, mas as grandes luzes dessa época incrédula foram pessoas que viveram uma religiosidade muito diferente da hipocrisia medieval e da euforia contemporânea com o sagrado.

Um desses homens foi Martinho Lutero (1483-1546), que está sendo redescoberto em 2017 por ocasião dos 500 anos de seu ato de fixar as 95 teses contra a venda de indulgências na porta da igreja do castelo de Wittemberg. Lutero é conhecido por abalar o mundo, mas poucos sabem quanto ele esteve firmado na leitura da Bíblia e na oração. Antes de protagonizar a Reforma Protestante, Lutero já era um entusiasmado leitor das Escrituras, e fazia frequentes palestras sobre a Bíblia. Alguns biógrafos chegam a supor, com boa evidência, que ele conhecia a Bíblia de cor. De fato, Lutero viveu para Deus e Sua Palavra. Conheceu bem as línguas originais, o grego e o hebraico, e delas traduziu toda a Bíblia. Estudava e divulgava a Bíblia, tendo escrito longos comentários de quase todas as suas passagens. E orava muito. Certa vez, ao escrever e meditar sobre o Salmo 23, passou três dias e três noites trancado em um quarto, a pão e água, absorto no Pastor do Salmo 23, até que a esposa chamou um serralheiro para abrir a fechadura. Por mais atarefado que estivesse, nunca orava menos que duas horas por dia.

João Wesley (1703-1791), o grande avivalista metodista do século 18, orava pelo menos duas horas por dia. Ele dizia não confiar no pregador que orasse menos que isso. Durante parte da vida, acostumou-se a jejuar dois dias por semana, e era comum participar de vigílias, além das classes de encontro para oração que marcaram o movimento iniciado por ele. George Whitefield (1714-1770), evangelista que conviveu com Wesley, dividia o dia em três períodos de oito horas cada. Oito para o descanso e as refeições, oito para trabalhar pela salvação dos perdidos e oitos horas por dia para estar com Deus. O resultado de tanta oração foi que Wesley e Whitefield levaram dezenas de milhares de pessoas a Cristo. Isso no mesmo século em que os mais sagazes filósofos do iluminismo tentavam decretar a morte do cristianismo.

No mesmo século 19 em que Darwin e Marx tentaram tirar, respectivamente, Deus da origem e do destino do ser humano, um homem abandonou os sofismas materialistas e naturalistas de seu tempo e se devotou a estudar a Bíblia. Guilherme Miller (1782-1849), ex-adepto das filosofias iluministas, após sua conversão dedicava até seis horas diárias para estar com Deus e estudar a Bíblia. O resultado foi que esse fazendeiro da Nova Inglaterra provocou o despertamento milenarista na América do Norte, que levou multidões a Cristo e antecipou as expectativas de Sua volta para antes do milênio, diferentemente do que ensinava a teologia da época, influenciada pelo racionalismo dos iluministas.

Na modernidade, quando a tendência era o declínio da espiritualidade, houve quem se dedicasse a Deus por meio da oração e do estudo da Bíblia. Essas pessoas inflamaram despertamentos e inspiraram reformas. Hoje, na chamada Era Pós-Moderna, as pessoas são religiosas, mas lhes falta o fervor dos grandes heróis de Deus do passado. A espiritualidade pós-moderna precisa deixar de lado o “fuzuê” e o “oba-oba” dos cultos pirotécnicos e se recolher na câmara de oração, como fizeram os grandes homens e mulheres do passado. A Bíblia tem que deixar de ser simplesmente o adereço da moda. Sua verdade precisa moldar o pensamento e as atitudes de quem professa segui-la.

FERNANDO DIAS é pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira

Texto original: Espiritualidade pós-moderna

O uso do vinho em Provérbios 31:6, 7 (Beber para Esquecer)

Provérbios 31:6 e 7 ensina que pessoas amarguradas podem beber vinho para esquecer sua pobreza e fadiga?

O capítulo 31 de Provérbios apresenta o consumo de vinho como algo negativo: essa bebida entorpece a mente das autoridades, fazendo-as se esquecerem da lei e perverterem o direito (Pv 31:4, 5). E aquilo que prejudica a mente das autoridades deve também prejudicar a mente das demais pessoas.


No entanto, como uma exceção, é dito para se dar bebida forte “aos que perecem e vinho aos amargurados de espírito” (Pv 31:6). Esse verso bíblico tem sido empregado para justificar a ingestão de bebidas alcoólicas por prazer ou como antídoto contra o estresse do dia a dia e as mágoas que, vez por outra, se abatem sobre todos. Estaria ele justificando a ingestão de bebidas alcoólicas, como beber socialmente ou “para esquecer”? Outros pensam que esse verso bíblico permite o uso de bebidas embriagantes apenas para doentes em fase terminal, como antídoto contra a dor e as angústias advindas de uma situação extrema. Afinal, nos tempos bíblicos, esse era o costume, visto que em Israel não se usavam as modernas drogas (morfina, por exemplo) contra a dor.

A palavra “vinho” em Provérbios 31:6 é yayin e é empregada tanto em sentido de algo bom, recomendável (cf. Sl 104:14, 15), quanto em sentido mau, reprovável (Pr 23:31; 31:4). Somente o contexto de um verso bíblico pode lançar luz se “vinho” seria alusão a suco de uva não fermentado ou ao suco já fermentado e transformado em bebida embriagante.

O significado de “vinho” nessa passagem pode ser explicado pela palavra shekar, presente no mesmo verso e traduzida como “bebida forte”, bebida fermentada – sempre apresentada em sentido negativo todas as vezes em que aparece no Antigo Testamento. Vê-se que “vinho” (yayin) está em paralelo sinônimo com “bebida forte” (shekar) e deve ser vinho embriagante. Note o paralelismo: Dai bebida forte (shekar) aos que perecem e vinho (yayin) aos amargurados de espírito.

Deve-se notar ainda que a expressão “os que perecem” está em paralelo sinônimo com “os amargurados de espírito”, uma lançando luz sobre a outra. Ou seja, os “amargurados de espírito” são os mesmos “que perecem”. E essas expressões apontam para alguém que está morrendo, em fase terminal, ao qual deviam ser dadas bebidas embriagantes para alívio da dor e da angústia. Esse verso não está absolutamente permitindo bebidas embriagantes a pessoas sadias, que não estejam passando por situações extremas, nem correndo risco de morte iminente.

Com respeito às bebidas alcoólicas, sejam elas feitas do suco de uva fermentado ou de algum cereal, como a cevada, o melhor que alguém deveria fazer é abster-se totalmente. A verdade é que nunca se sabe até onde irá alguém que ingeriu o primeiro gole. Na dúvida, não prove. Siga o conselho paulino: “Não vos embriagueis com vinho […], mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). A embriaguez começa com a primeira dose.

OZEAS MOURA, doutor em Teologia, com especialização em Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)

(Texto publicado originalmente na edição de março de 2016 da Revista Adventista)

Texto original: Beber para Esquecer

Beber vinho faz bem ao coração? (Propaganda enganosa)

Que a dieta mediterrânea faz bem para o coração é um fato. Duvidoso é concluir que o segredo dela é o consumo moderado de vinho
SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida.
 
Nas últimas duas décadas sobraram pesquisas científicas que apontaram a chamada dieta do Mediterrâneo como um modelo de cardápio saudável. De carona nessa onda, o consumo diário de uma taça de vinho foi alardeado por muitos como elemento importante nesse menu e um fator na prevenção de doenças coronárias.

Imagem relacionadaAssim que foram revelados os primeiros resultados desses estudos, médicos, nutricionistas e outros profissionais da saúde se animaram com os supostos benefícios do vinho e recomendaram seu consumo em quantidades moderadas. Para mim, esse fato é um exemplo clássico do poder que o capital tem de formar opiniões e mudar comportamentos a partir da visibilidade que a mídia oferece para pesquisas acadêmicas tendenciosas.


Lamentavelmente, muitos cristãos foram levados por essa retórica e passaram a consumir álcool como medida para a proteção do coração. Alguns chegaram até a citar textos bíblicos para apoiar seu novo hábito. Resultado: conclusões científicas duvidosas acabaram levando alguns a uma postura teológica equivocada (para entender por que essa interpretação carece de melhor base bíblica, leia a seção “Boa Pergunta” de março/2016, Revista Adventista).

Os vinicultores da Califórnia (EUA) viram no interesse pela dieta do Mediterrâneo uma oportunidade sem precedentes para mudar a imagem pública do vinho, que se havia desgastado nas décadas de 1980 e meados de 1990 por causa da ampla conscientização nos Estados Unidos sobre os efeitos negativos do álcool.

Ao levar a dieta mediterrânea para o laboratório, basicamente, os pesquisadores deveriam responder à seguinte pergunta: por que a população que vive próximo ao mar Mediterrâneo come mais gordura do que os norte-americanos, mas tem menor índice de doenças cardiovasculares? Ignorando fatores importantíssimos de hábitos alimentares dessas comunidades, vários cientistas concluíram que a diferença estava no resveratrol, antioxidante presente no vinho.

No entanto, o que não podia ser ignorado foi esquecido: a diferença significativa entre o estilo de vida das duas populações. O povo do Mediterrâneo, por exemplo, consome cinco ve­zes mais frutas e verduras, três vezes mais nozes e mais cereais integrais do que os norte-americanos. Além de comerem de modo mais saudável, fazem do almoço sua principal refeição diária, enquanto a população dos Estados Unidos sobrecarrega o jantar com um cardápio gorduroso. Por fim, o povo do Mediterrâneo é cinco vezes mais ativo do que os norte-americanos.

Portanto, parece claro que, independentemente do consumo de vinho, o estilo de vida mediterrâneo é o grande fator para que a dieta dessa região seja associada à prevenção de doenças cardiovasculares. E, para quem deseja os benefícios do antioxidante resveratrol, a boa notícia é que essa substância pode ser encontrada no suco de uva integral com melhor biodisponibilidade do que no vinho, sem o inconveniente dos prejuízos do álcool. Tim-tim!


(Texto publicado originalmente na edição de maio de 2016 da Revista Adventista)

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Sete mentiras sobre Deus

Saiba quais são alguns dos equívocos mais populares sobre a natureza e os atributos divinos
 
Primeiro de abril é conhecido como o dia da mentira. Tradicionalmente, pessoas pregam peças em amigos e desconhecidos e passam “trotes” com a desculpa de que é o dia da mentira. Às vezes, a brincadeira não traz consequências, e a pessoa iludida ri por ter acreditado, durante alguns instantes, em uma farsa. Outras vezes, a travessura leva alguém a ser prejudicado por imaginar que a ilusão fosse real.
Entre as mentiras com consequências mais trágicas, estão as mentiras sobre Deus. Deus é o Deus da verdade (Is 65:16), e é avesso à mentira (Pv 12:22; Hb 6:18). No entanto, o diabo existe e é o “pai da mentira” (Jo 8:44). Ele tem se empenhado em espalhar falsidades sobre Deus, a fim de que tenhamos um conceito incorreto de sua Pessoa divina (At 13:10; Gn 3:4, 5). As informações erradas sobre Deus são produto da especulação de filósofos sem compromisso com a revelação bíblica e justificativa para dogmas religiosos não fundamentados nas Escrituras Sagradas. Infelizmente, esses mitos levam muita gente a ter atitudes equivocadas para com o Único que pode salvar (At 4:12).
Com palavras poéticas, o profeta Isaías descreveu o estado de perdição espiritual em que se encontra quem crê numa mentira a respeito daquele que é a Verdade: “O seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira aquilo em que confio?” (Is 44:20).
A seguir, menciono sete mentiras muito populares sobre Deus, com a respectiva apresentação do que a Bíblia tem a dizer sobre quem o Senhor realmente é.

1. Deus determina tudo o que acontece. Muita gente entende mal um dos atributos de Deus: a sua soberania. Imagina que o Todo-Poderoso, que tem autoridade sobre todo o Universo, comande tudo o que acontece em sua vasta criação a ponto de determinar cada coisa que vai acontecer. Na verdade nem tudo o que acontece é por que Deus quer. Se Deus realmente determinasse tudo, seria impossível desobedecer-lhe!
Deus intervém na história humana (Dn 2:21), mas não determina tudo. Ele concedeu ao ser humano a faculdade de tomar as decisões que determinarão seu próprio destino (Dt 30:15-20; Js 24:15; 1Rs 18:21). Pessoas podem optar por dedicar a vida a Deus (Mc 9:24; At 8:37; At 16:13), ou podem escolher permanecer sob o domínio do pecado (Gn 4:6, 7; Is 66:3, 4), mesmo que a vontade de Deus seja que todos escolham o arrependimento e a salvação (2Pe 3:9). Deus deixa as pessoas praticarem sua própria vontade, mesmo que a vontade humana seja contrariar a vontade de Deus (Rm 1:24, 25). Ele dá liberdade para você e eu escolhermos se queremos acreditar ou não nele (Jo 3:16).

2. Quando alguém morre, é porque foi a vontade de Deus. Muito ao contrário, Deus não quer que ninguém morra, mas que se arrependa e tenha a vida eterna (2Pe 3:9). Quem deseja que pessoas morram é o diabo, que “vem para roubar, matar e destruir”. Mas Deus quer nos dar “vida completa” (Jo 10:10, NTLH).
Para Deus, a morte de uma pessoa que tem a vida entregue a Ele é um momento especial (Sl 116:15). É algo comparado a um sono, do qual Deus deseja despertar-nos (Jo 11:11; 1Ts 4:14). Portanto, Deus, além de não desejar a morte de ninguém, ressuscitará aqueles que pertencem a Ele (1Ts 4:16).

3. Deus é energia. No imaginário popular, Deus frequentemente é descrito como sendo uma “energia”, uma “luz”, que permeia o Universo; uma espécie de grande fantasma, invisível, sem forma, um espírito sem corpo que está em todos os lugares, algo impessoal. Nada poderia estar mais longe da verdade. A Bíblia descreve Deus com um Ser pessoal, com aparência física, apesar de diferente da nossa natureza humana, e extremante grandioso (1Co 15:40; 1Rs 8:27).
Deus, o Pai, é apresentado na Bíblia como tendo boca (Nm 12:8), costas (Êx 33:18-23), cabeça (Ez 1:26; Dn 7:9), rosto (Lv 10:1; Dt 5:4, 1Ts 1:9), olhos (Am 9:8), dedo (Êx 8:19; 31:18; Dt 9:10), mão (Êx 9:3), pés (Êx 24:10), se assentando num trono (Is 6: 1-6; Ez 1:26-28), usando roupas (Is 6:1; Dn 7:9), com cabelos brancos (Dn 7:9); enfim, com aparência de um ser humano (Ez 1:26). E não é para menos que Ele seja parecido conosco, uma vez que nos fez semelhantes à sua imagem (Gn 1:26, 27). Apesar de Ele ser agora invisível para nós (Cl 1:15; 1Tm 1:17; Hb 11:27), um dia os salvos verão a Deus (Mt 5:8).
Deus também tem uma personalidade. Ele tem desejos (Ef 5:17), sente ira (Dt 6:15), faz reconsiderações (Gn 6:6), se compadece (2Rs 13:23), enfim, Deus tem emoções e gostos. Deus é pessoal, conhece nossa experiência. Por meio de seu Espírito Santo, pode estar em todos os lugares (Sl 139), e podemos nos aproximar dele e conversar com Ele (Hb 4:16).

4. Deus nunca vai desistir de alguém. Essa afirmação é muito próxima da verdade, mas não deixa de ser incorreta. Deus deseja que todos se salvem (2Pe 3:9), enviou Cristo para morrer por todas as pessoas do mundo (Jo 3:16), e trabalha para persuadir cada uma a aceitar a salvação (Rm 2:4). Mas, como há pessoas que desistem completamente de Deus, não há nada que Ele possa fazer para convencê-las a se arrependerem de sua vida de pecado (Hb 6:4-7).
A Bíblia descreve algumas pessoas que, apesar de Deus ter demonstrado seu favor para com elas e de terem sido agraciadas com ricos privilégios espirituais, rejeitaram de modo tão obstinado a vontade de Deus para sua vida que o Senhor não pôde fazer mais nada para salvá-las. Um exemplo bíblico claro é Saul, que rejeitou a Palavra de Deus e foi, por isso, rejeitado por Deus (1Sm 15:26).

5. Deus é Deus de bênção, não de maldição! Esse lema pode até trazer segurança para o fiel, mas trata-se de uma inverdade. Deus abençoa aqueles que lhe obedecem e fazem a sua vontade (Dt 28:1, 2), mas adverte que maldições estão reservadas para os que não guardam os seus mandamentos (Dt 28:15-68).

6. Muitos caminhos levam a Deus. Não! Só há um único caminho, que é Jesus Cristo, e ninguém pode se achegar a Deus a não ser por meio dele (Jo 14:6). Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Outras alternativas espirituais além de Jesus Cristo são “vaidade. Suas obras não são coisa alguma” (Is 41:29), e quem procurar se aproximar de Deus por outros caminhos, além de Jesus Cristo, está percorrendo “caminhos de morte” (Pv 14:12; 16:25), ou “caminho que conduz para a perdição” (Mt 7:13).

7. Deus não condena ninguém. Deus não enviou Cristo ao mundo “para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3:17). No entanto, pessoas que rejeitam a salvação oferecida a elas por Deus receberão a condenação reservada aos desobedientes e incrédulos (Jo 3:18-21). Um dia, Deus, por meio de Jesus Cristo, vai julgar os segredos de todos (Rm 2:16), e castigará aqueles que terão rejeitado Cristo como seu Salvador (Hb 10:29), condenando-os à morte eterna (Mt 25:41).
Infelizmente, muita gente tem sido enganada com mentiras sobre Deus. Mas a Palavra de Deus é “em tudo verdade” (Sl 119:160). E, na Bíblia, a Palavra de Deus, podemos conhecer a verdade sobre Ele, ser libertos pela verdade (Jo 8:38), e ter a vida eterna, que advém de conhecer verdadeiramente a Deus (Jo 17:3).

FERNANDO DIAS é pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira

http://www.revistaadventista.com.br/blog/2017/03/31/sete-mentiras-sobre-deus/

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Ellen White fez profecias que não se cumpriram?

Confira respostas a questionamentos sobre algumas predições da pioneira adventista
 
A Bíblia estabelece os critérios para se reconhecer um profeta verdadeiro. Entre esses, está a realização de suas previsões (Dt 18:22), um indicativo de que o profeta em questão realmente recebeu mensagens Daquele que é presciente e conhece o fim desde o princípio (Is 46:10). Os autores da Bíblia atendem a esse requisito, uma vez que as predições bíblicas têm se cumprido ao longo da história.
Mas não foram só os cerca de 40 autores da Bíblia que foram profetas. A própria Bíblia descreve muitos outros que não escreveram uma linha sequer das Escrituras Sagradas, mas que trouxeram mensagens inspiradas por Deus ao mundo. A lista inclui Abraão (Gn 20:27), Arão (Êx 7:1), Miriã (Êx 15:20), Débora (Jz 4:4), Eliseu (2Rs 9:1), Hulda (2Rs 22:14; 2Cr 34:22), a esposa de Isaías (Is 8:3), João Batista (Mc 11:32), Ana (Lc 2:36), Ágabo (At 21:10) e as quatro filhas de Filipe (At 21:9).
A Bíblia também menciona profetas que escreveram livros que não compõem o cânon bíblico. Entende-se que essas obras foram inspiradas por Deus, mas não estão na Bíblia porque sua mensagem tinha uma aplicação para pessoas específicas que viveram em determinada época, ou porque seu conteúdo apenas repete ou explica o que está nos livros da Bíblia. Entre esses livros, a Bíblia menciona: uma carta do profeta Elias (2Cr 21:12); um livro sobre a vida do rei Uzias, escrito pelo profeta Isaías (2Cr 26:22); os escritos do profeta Natã (2Cr 9:29); o livro do profeta Aías (2Cr 9:29); o livro do profeta Ido (2Cr 9:29; 12:15; 13:22); o livro do profeta Semaías (Cr 12:15); as crônicas do profeta Jeú (2CR 20:34); um volume de Lamentações de Jeremias sobre a morte de Josias (2Cr 35:21); uma carta de Paulo escrita aos cristãos coríntios anteriormente à carta de 1 Coríntios encontrada na Bíblia (1Co 5:9); outra carta aos coríntios escrita entre 1 e 2 Coríntios, cheia de repreensões, mas que não está na Bíblia (2Co 7:8); uma carta de Paulo aos laodicenses (Cl 4:16); e um possível evangelho escrito por Paulo (Rm 2:16; 16:25; 2Tm 2:8).
Mesmo não tendo como saber tudo o que esses profetas disseram e escreveram, cremos que eles, sua mensagem e seus escritos atenderam aos critérios bíblicos de um verdadeiro profeta, independentemente de estarem na Bíblia. Caso contrário, não seriam chamados assim nas Escrituras. A Palavra de Deus tem a autoridade doutrinária sobre o cristão (2Tm 3:16, 17), mas, se nem mesmo na época de composição do cânon bíblico Deus restringiu Sua revelação ao que deveria compor a Bíblia, por que seria diferente após a conclusão do livro sagrado?
O dom de profecia tem sido dado por Deus a homens e mulheres ao longo da história. Na Bíblia, há a predição de que, no tempo do fim, pessoas receberiam revelações especiais de Deus (Jl 2:28-31; At 2:17-21; 1Co 14:1). Cada vez mais, diferentes segmentos do cristianismo aceitam a verdade bíblica de que a manifestação dos dons espirituais, entre eles o dom de profecia, não ficou restrita ao período de composição das Escrituras e é uma dádiva de Deus que será concedida à igreja até a segunda vinda de Cristo (1Co 13:8-13).
Entre as pessoas em quem se reconhece a manifestação do dom de profecia está Ellen White (1827-1915). Essa senhora recebeu aproximadamente 2 mil visões e sonhos proféticos entre 1844 e o ano de sua morte. Seu trabalho foi essencial para a formação e organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia. De sua lavra, foram produzidas cerca de 35 mil páginas de conteúdo impresso, entre livros, folhetos e artigos de revista, além de centenas de cartas, sermões, manuscritos e vários diários. Esses escritos são frequentemente chamados de “Espírito de Profecia”. Entende-se que os textos de Ellen White são inspirados por Deus da mesma forma que a Bíblia é, mas os escritos dela são uma mensagem específica para o povo de Deus no tempo do fim e não têm a mesma autoridade da Bíblia. Sua importância e autoridade é semelhante ao que os profetas antigos falaram ou escreveram inspirados por Deus, mas que não está na Bíblia.
A maior parte dos escritos de Ellen White trata de Jesus Cristo e do plano da salvação (seu assunto preferido), ou são comentários sobre passagens bíblicas e conselhos sobre a vida cristã, educação, saúde, liderança e a vida em família. No entanto, ela também fez algumas predições ou fez afirmações científicas e históricas que só se confirmaram bem depois de ela as ter dito ou escrito. Apesar disso, é acusada de ter feito algumas profecias que nunca teriam se cumprido.
Desde o início de seu ministério profético, Ellen G. White teve seu dom de profecia contestado inúmeras vezes por vários opositores. A maioria dos ataques contra Ellen G. White já foi respondida. O livro de Francis D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics (Review and Herald, 703 páginas), concentra praticamente todos os questionamentos possíveis feitos contra o que Ellen G. White escreveu ou disse. Mesmo assim, muita gente tem dúvida a respeito de afirmações feitas pela profetisa sobre o futuro e que, supostamente, não se realizaram. A seguir, há uma lista de quatorze previsões de Ellen White que tem sido usada por muitos para desacreditarem a autenticidade de seu dom profético. Cada uma dessas predições supostamente não cumpridas é acompanhada de um comentário explicando porque os argumentos não desqualificam Ellen G. White como uma autêntica demonstração de alguém que, em época relativamente recente, recebeu do Espírito Santo o dom de profecia.

1. Questionamento. Ellen G. White predisse que a Inglaterra declararia guerra contra os Estados Unidos. Sua profecia com relação à Inglaterra dizia respeito à Guerra Civil americana e não se cumpriu (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 259).

Resposta. Na página citada, escrita em 1862, durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, Ellen White escreveu: “A Inglaterra está estudando se é melhor tirar proveito da presente condição do país, guerreando contra ele. Examina a questão e sonda outras nações. Teme que, se iniciar uma guerra no exterior, ela se enfraqueça e outras nações possam tirar proveito da situação. Outros países estão fazendo preparativos silenciosos, mas diligentes, para a luta armada e esperando que a Inglaterra combata os Estados Unidos, para então terem a oportunidade de vingar-se da exploração e injustiças de que foram vítimas no passado. Uma parte dos países sujeitos à rainha está esperando uma chance favorável para quebrar seu jugo. Mas se a Inglaterra pensar que isso valerá a pena, não vacilará um momento para aumentar as chances de exercer o poder e humilhar nosso país. Quando a Inglaterra declarar guerra, todas as nações terão interesses próprios a atender, haverá guerra e confusão totais.”
Nessa citação, Ellen G. White revelou a seus leitores que o alto escalão do governo britânico considerava intervir na Guerra Civil Americana, mas a possibilidade de que a participação inglesa no conflito pudesse dar ocasião ao surgimento de movimentos separatistas nas colônias pesava contra a decisão. De fato, a história registra que o país europeu cogitou, durante os primeiros dezoito meses da guerra (exatamente a época em que Ellen G. White escreveu o texto mencionado), uma intervenção militar na Guerra de Secessão. É provável que os leitores de Ellen G. White (e talvez nem ela mesma) não tivessem como saber o que o governo britânico planejava em relação à guerra nos Estados Unidos. Deus, porém, revelou a Ellen que, do outro lado do oceano Atlântico, autoridades britânicas consideravam um ataque que poderia ser trágico para os Estados Unidos, mas estavam prestes a desistir da ideia por temerem as consequências da investida para a integridade de seu vasto império. Finalmente, o Reino Unido optou por permanecer neutro em relação à Guerra Civil nos Estados Unidos, e manteve o domínio sobre suas colônias durantes as décadas seguintes. Na Bíblia, há um exemplo semelhante de profecia que descreve as consequências que poderiam seguir se determinada decisão fosse tomada (ver Jeremias 42:10-19).

2. Questionamento. Ellen G. White predisse que Jerusalém jamais seria reconstruída. A cidade de Jerusalém foi reconstruída e Israel voltou a existir como país (Primeiros Escritos, p. 75).

Resposta. Antes de comentar, vamos ler o trecho, escrito em 1851: “Foram-me indicados então alguns que estão em grande erro de crer que é seu dever ir à antiga Jerusalém, entendendo que têm uma obra a fazer ali antes que o Senhor venha. Tal opinião é de molde a afastar a mente e o interesse da presente obra do Senhor, sob a mensagem do terceiro anjo, pois os que pensam ser seu dever, não obstante, ir à velha Jerusalém terão sua mente firmada ali, e os seus recursos serão tirados da causa da verdade presente para permitir a eles e a outros estarem ali. Vi que tal missão não realizaria nenhum bem real, que levaria um bom espaço de tempo para levar alguns judeus a se tornarem crentes mesmo na primeira vinda de Cristo, quanto mais no Seu segundo advento. Vi que Satanás havia enganado sobremodo alguns neste ponto e que as almas ao redor deles, neste país, poderiam ser ajudadas por eles e levadas a guardar os mandamentos de Deus, mas deixaram-nas a perecer. Vi também que a velha Jerusalém jamais seria reconstruída, e que Satanás estava fazendo o máximo para levar a mente dos filhos do Senhor para essas coisas agora, no tempo do ajuntamento, impedindo-os de dedicar todo o seu interesse à presente obra do Senhor, levando-os assim a negligenciar a necessária preparação para o dia do Senhor.”
Nesse trecho, Ellen White expõe e combate as decisões equivocadas que podem tomar os que acreditam em teorias proféticas que tentam encaixar a todo custo Jerusalém e os judeus nos eventos do tempo do fim. Ela simplesmente afirma que viu que “a velha Jerusalém” não seria reconstruída. Em 1851, quando Ellen White escreveu esse texto, Jerusalém não era uma cidade destruída, mas a capital da província otomana da Palestina. Um censo de 1845 mensurou a população da cidade em 16.410 pessoas. A cidade, destruída no ano 70 d.C., foi total ou parcialmente reconstruída e destruída inúmeras vezes desde então. Ellen G. White, ao falar em “a velha Jerusalém”, se referia à restauração da cidade ao mesmo papel que teve nos tempos bíblicos como palco das manifestações de Deus na Terra e à reconstrução do Templo. De fato, “a velha Jerusalém”, totalmente judaica e com o Templo, nunca foi reconstruída.

3. Questionamento. Ellen G. White, fundamentando-se equivocadamente em outros autores, predisse que a Turquia deixaria de existir. A Turquia continua a existir e atualmente não parece haver possibilidades de que venha a deixar de ser um país tão cedo. (Veja Josias Litch, “The Rise and Progress of Adventism”, em The Advent Shield and Review, maio de 1844, p. 92, citado no Seventh-day Adventist Bible Students’ Source Book, p. 513). (Veja também: The Seventh-day Adventist Encyclopedia, v. 11, p. 51 e 52).

Resposta. A Turquia é um país que nem sequer existia quando Ellen G. White viveu, pois só se tornou independente em 24 de julho de 1923, com o Tratado de Lausana. Isso foi oito anos após ela ter morrido. Mas Ellen G. White apoiou a interpretação do ministro metodista Josias Litch, de que a ascensão e o declínio do Império Otomano estão profetizados em Apocalipse 9:13-21 (veja O Grande Conflito, p. 334, 335). Devido ao fato de que no Império Otomano eram pessoas de etnia turca que subjugavam povos de outras etnias, era comum na época chamar esse império de “Turquia”, assim como é comum hoje chamar a Grã-Bretanha de “Inglaterra” ou os Países Baixos de “Holanda”, apesar de esses países incluírem outras nacionalidades. Por duas vezes, Ellen G. White chamou o Império Otomano de Turquia (O Grande Conflito, p. 35; Evangelismo, p. 408). De fato, esse império que dominou extensas áreas da Ásia, África e Europa entre os séculos 14 e 19, foi perdendo muitos de seus territórios durante o século 19, até ser reduzido a uma pequena área da Anatólia e deixar de existir oficialmente em 1º de novembro de 1922, confirmando a interpretação profética de Josias Litch.

4. Questionamento. Ellen G. White profetizou que alguns que estavam vivos em 1856 estariam vivos por ocasião do retorno de Cristo. (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 131, 132). Ela se referia a pessoas que estavam presentes em uma reunião da Igreja Adventista e, por já haverem morrido todos, essa profecia também não se cumpriu.

Resposta. A seguir, está a seguinte declaração feita por ela em 1856:
“Foi-me mostrado o grupo presente à assembleia. Disse o anjo: ‘Alguns servirão de alimento para os vermes, alguns estarão sujeitos às setes últimas pragas, outros estarão vivos e permanecerão sobre a Terra para serem transladados na vinda de Jesus’”.
Todo aquele que crê que Cristo virá em breve à Terra costuma falar dessa ocasião como sendo para seus dias. O apóstolo Paulo acreditava que estaria vivo quando Jesus Cristo aparecesse nas nuvens do céu (1Ts 4:15). No entanto, o fato de Paulo ter morrido antes do regresso do Senhor não faz dele um falso profeta. Ele apenas foi um cristão esperançoso e confiante que acreditou que o segundo advento de Cristo aconteceria em seus dias, como todo cristão deve acreditar. Ellen White frequentemente descreveu a vinda de Cristo como estando para acontecer em seus dias, seguindo o exemplo dos autores bíblicos.
Ela explicou sua declaração de 1856 em uma nota escrita em 1883, que foi citada por Francis M. Wilcox em O Testemunho de Jesus (CPB), p. 108: “Os anjos de Deus apresentam o tempo como sendo muito breve. Assim me tem sempre sido apresentado. Verdade é que o tempo se tem prolongado além do que esperávamos nos primitivos dias desta mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão breve como esperávamos. Falhou, porém, a Palavra de Deus? Absolutamente! Cumpre lembrar que as promessas e as ameaças de Deus são igualmente condicionais”.
“Não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo houvesse sido assim retardada. Não era desígnio Seu que Seu povo, Israel, vagueasse quarenta anos no deserto. Ele havia prometido conduzi-los diretamente à terra de Canaã, e estabelecê-los ali como um povo santo, sadio e feliz. Aqueles, porém, a quem foi primeiro pregado, não entraram “por causa da incredulidade”. Seu coração estava cheio de murmuração, rebelião e ódio, e o Senhor não podia cumprir Seu concerto com eles”.
“Por quarenta anos a incredulidade, a murmuração e a rebelião excluíram o antigo Israel da terra de Canaã. Os mesmos pecados têm retardado a entrada do Israel moderno na Canaã celestial. Em nenhum dos casos houve falta da parte das promessas de Deus. É a incredulidade, a mundanidade, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo de Deus que nos têm detido neste mundo de pecado e dor por tantos anos” (Ms 4, 1883, citado em Evangelismo, p. 695, 696).

5. Questionamento. Em 1850, Ellen G. White afirmou que Cristo retornaria em poucos meses (Primeiros Escritos, p. 58, 64, 67).

Resposta. Vejamos o que Ellen G. White realmente escreveu:
“Alguns estão supondo a vinda do Senhor num futuro muito distante. O tempo tem continuado alguns anos mais do que eles esperavam, e assim pensam que continuará mais alguns anos, e dessa maneira suas mentes são desviadas da verdade presente para irem após o mundo. Nisso vi grande perigo, pois se a mente está cheia de outras coisas, a verdade presente é deixada fora, e não há lugar em nossa fronte para o selo do Deus vivo. Vi que o tempo para Jesus permanecer no lugar santíssimo estava quase terminado e esse tempo podia durar apenas um pouquinho mais; que o tempo disponível que temos deve ser gasto em examinar a Bíblia, que nos julgará no último dia” (Primeiros Escritos, p. 58).
“Numa visão dada em 27 de junho de 1850, meu anjo acompanhante disse: ‘O tempo está quase terminado. Vocês estão refletindo, como deveriam, a amorável imagem de Jesus?’ Foi-me indicada então a Terra e vi que tinha que haver uma preparação da parte daqueles que, nos últimos tempos, abraçaram a terceira mensagem angélica. Disse o anjo: ‘Preparem-se, preparem-se, preparem-se! Vocês terão que experimentar uma morte para o mundo, maior do que jamais experimentaram antes.’ Vi que havia grande obra a ser feita por eles e pouco tempo para fazê-la. Vi então que as sete últimas pragas deviam ser logo derramadas sobre os que não têm abrigo” (Idem, p. 64).
“Ao ver o que precisamos ser para herdar a glória, e quanto Jesus havia sofrido para alcançar para nós tão rica herança, orei para que fôssemos batizados nos sofrimentos de Cristo, a fim de não recuarmos nas provas, mas sofrê-las com paciência e alegria, sabendo o que Jesus havia sofrido, para que por Sua pobreza e sofrimento fôssemos enriquecidos. Disse o anjo: ‘Neguem a si mesmos. Vocês precisam caminhar depressa.’ Alguns de nós têm tido tempo de ter a verdade e progredir passo a passo, e cada passo dado tem-nos propiciado força para o seguinte. Mas agora o tempo está quase findo, e o que durante anos temos estado aprendendo, eles terão que aprender em poucos meses. Terão também muito que desaprender e muito que tornar a aprender” (Idem, p. 67).
Ellen G. White, assim como o apóstolo Pedro (At 2:17), sempre acreditou que estava vivendo os últimos dias antes do retorno de Jesus. Ela escreveu muito sobre a necessidade de pressa em se preparar para esse dia. Nas citações, ela apenas mencionou que o último período de provação será breve, e que pessoas que negligenciam seu preparo espiritual hoje terão apenas “poucos meses” para aprender o que cristãos mais dedicados demoraram anos para desenvolver na vida.

6. Questionamento. Ellen G. White afirmou que a Guerra Civil Americana era um sinal de que Cristo iria logo retornar (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 260). A Guerra Civil americana terminou em 1865.

Resposta. Jesus disse, em Mateus 24, que todas as guerras são um sinal de sua segunda vinda, a começar pelas guerras que levaram à destruição de Jerusalém no ano 70. Na página citada, ela afirma: “Vi na Terra uma aflição maior do que nunca testemunhamos. Ouvi gemidos e gritos de aflição, e vi grupos em diligente batalha.” Ela prosseguiu descrevendo a cena de guerra e alertando para “a grande angústia vindoura”. Em nenhum momento do texto ela falou que a guerra que viu em visão era a Guerra Civil Americana, que acontecia em seus dias. É claro, para quem lê todo o texto, que Deus aproveitou o contexto da Guerra Civil Americana para dar a ela uma visão de um período de grande aflição a acontecer imediatamente antes da vinda de Cristo.

7. Questionamento. Ellen G. White profetizou que Cristo voltaria antes de a escravidão ser abolida (Primeiros Escritos, p. 35).

Resposta. A Bíblia também fala que haveria escravos quando Cristo retornasse à Terra (Ap 18:13; 19:18). Apesar de legalmente abolida, a escravidão continua existindo ilegalmente em diferentes situações ao redor do mundo. Ellen G. White afirmou nesse trecho, em que descreve a vinda do Senhor: “Começou então o jubileu, período em que a Terra devia descansar. Vi o piedoso escravo levantar-se em triunfo e vitória e sacudir as cadeias que o prendiam, enquanto o seu ímpio senhor estava em confusão e não sabia o que fazer” (Primeiros Escritos, p. 35). O texto apenas descreve que o retorno de Cristo à Terra será ocasião de libertação dos cativos. Não fala nada a respeito de a escravidão ainda estar legalizada quando Cristo vier.

8. Questionamento. Ellen G. White profetizou que a escravidão seria restabelecida nos estados do sul dos Estados Unidos (Spalding Magan Collection, p. 21; e Manuscript Releases, v. 2, nº 153, p. 300). A escravidão não voltou a ser legalizada no sul dos Estados Unidos.

Resposta. A afirmação está num manuscrito datado de 1895, com respostas de Ellen G. White a perguntas sobre o trabalho com populações negras no sul dos Estados Unidos e as dificuldades enfrentadas pelos adventistas nessa região com leis locais que restringiam o trabalho aos domingos. Ao ser perguntada se os adventistas desses estados deveriam trabalhar aos domingos, Ellen G. White respondeu: “A escravidão novamente será revivida nos estados sulistas, pois o espírito da escravidão ainda vive.” O comentário não afirma que os escravos libertos retornariam à sua condição de cativeiro, mas que o “espírito” de dominar sobre outras pessoas ainda estava vivo nos antigos senhores de escravos (veja: “Slavery, Will It Be Revived?”). Prova disso é que, na segunda metade do século 20, décadas depois de as palavras de Ellen White terem sido escritas, a segregação racista dos descendentes dos antigos escravos estava legalizada em vários estados do sul dos Estados Unidos, uma nódoa que revivia a escravidão abolida em 1863.

9. Questionamento. Ellen G. White profetizou que a Terra seria logo despovoada se Jesus demorasse a voltar (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 304). A despeito de tantas guerras, fomes e epidemias, o que vemos é que a Terra está cada vez mais povoada a medida que o tempo passa.

Resposta. Esta é a declaração de Ellen G. White:
“Foi-me apresentada a condição de degeneração atual da família humana. Cada geração se tem vindo enfraquecendo mais, e a humanidade é afligida por toda forma de enfermidade. Milhares de pobres mortais de corpo deformado, doentio, nervos em frangalhos e mente sombria, vão arrastando uma existência miserável. Cresce o poder de Satanás sobre a família humana. Não viesse em breve o Senhor e destruísse o seu poder, e não tardaria que a Terra estivesse despovoada.”
Ao contrário do que foi questionado, Ellen G. White apresenta que Cristo destruirá em Sua vinda o poder de Satanás para causar doenças antes que todas as doenças que o diabo dissemina despovoem o mundo.

10. Questionamento. Ellen G. White predisse que os senhores dos escravos dos seus dias experimentariam as sete últimas pragas descritas no livro do Apocalipse (Primeiros Escritos, p. 276). Todos os senhores dos escravos de seu tempo já estão mortos.

Resposta. O texto apenas declara: “Vi que o senhor de escravos terá que responder pela salvação de seus escravos a quem ele tem conservado em ignorância; e os pecados dos escravos serão visitados sobre o senhor” (Primeiros Escritos, p. 276). A frase apenas descreve que os senhores de escravos terão que prestar contas a Cristo por ocasião de Sua vinda, assim como cada pecador terá que fazê-lo.

11. Questionamento. Ellen G. White profetizou que estaria viva quando Jesus regressasse (Primeiros Escritos, p. 15-16).

Resposta. No trecho mencionado em Primeiros Escritos (p. 14-16), Ellen White descreve uma visão que teve sobre a vinda de Cristo. Não menciona que estaria viva por ocasião do segundo advento de Jesus. Daniel, Paulo e João também descreveram visões do regresso de Cristo nas nuvens do céu sem que isso significasse que viveriam para presenciar o que Deus lhes revelava em visão.

12. Questionamento. Às vezes, Ellen G. White fazia predições específicas que envolviam certas pessoas. Uma delas foi o pioneiro adventista Moses Hull. Em 1862, Hull estava no processo de perder sua fé no adventismo. Parece que o casal White desistiu de argumentar com ele, e Ellen G. White profetizou sobre o terrível futuro que o aguardava se ele deixasse de fazer parte do povo do advento: “Se continuar da maneira em que começou, a miséria e a desgraça o esperam. A mão de Deus o prenderá de um modo que não lhe agradará. Sua ira não dormitará” (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 431). Isso nunca aconteceu. Apesar das advertências de Ellen G. White, ele abandonou o adventismo. Segundo testemunhas, o “senhor Hull se manteve bem por muitos longos anos até uma idade avançada e nada do que foi predito aconteceu” (D.M. Canright, Life of Mrs. E.G. White, The Standard Publishing Company, 1919, p. 234).

Resposta. Moses Hull foi um adventista de espírito competitivo, que gostava de entrar em discussões sobre religião com pessoas de outras crenças. Ele alimentou dúvidas com respeito à fé em Cristo. Ellen G. White o advertiu de que, se continuasse com essa atitude, arruinaria sua vida. O texto mencionado continua com uma mensagem de esperança para Hull: “Mas agora Ele [Deus] o convida. Agora, justamente agora, Ele lhe pede que volte para Ele sem demora, e Ele graciosamente perdoará e curará todas as suas apostasias” (Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 431). Infelizmente, Hull não atendeu ao apelo para mudar de vida, acabou abandonando a Cristo e se tornou adepto do espiritismo. Hull pode não ter ficado pobre, mas a predição se cumpriu fielmente, pois ele se tornou espiritualmente miserável por ter trocado a Palavra do Deus vivo pelas mensagens do mundo dos mortos.
Dudley Marvin Canright, o autor original desse ataque a Ellen G. White, foi um ex-pastor adventista. Tiago e Ellen G. White o prepararam para que ele se tornasse um ministro do evangelho. Infelizmente, Canright começou a alimentar a ambição de se tornar um pregador famoso. Ellen G. White o advertiu dos perigos de alimentar o orgulho e a vaidade. Canright acabou abandonando a Igreja Adventista e foi nomeado pastor de outra denominação cristã, tornando-se um crítico mordaz da doutrina adventista e da pessoa de Ellen G. White.

13. Questionamento. Ellen G. White afirmou que a “a enfermidade” do irmão Carl Carlstedt “não era para morte, mas para a glória de Deus” (Carl Carlstedt estava gravemente enfermo de febre tifoide e parecia que não viveria muito tempo mais). Ele morreu dois dias depois. (Charles Lee, Three Important Questions for Seventh-Day Adventists to Consider, 1876).
Charles Lee, um ex-pastor adventista, relata em seu livro que ele foi junto com Tiago e Ellen White, Urias Smith e outro homem visitar Carl Carlstedt, o editor da Revista Adventista em sueco, que estava doente com febre tifoide. Lee relata ter ouvido ela orando ao Senhor, “ali presente com Seu poder restaurador, para erguer Carlstedt, cuja doença não era para a morte, mas para a glória de Deus”. Lee também disse que, ao sair da casa, Ellen revelou que acreditava que Carlstedt teria a saúde restaurada novamente. Lee viajou para Chicago, e no dia seguinte recebeu uma correspondência informando que Carlstedt havia morrido.
Infelizmente, só existe registrada a versão de Lee sobre o incidente e a oração que Ellen G. White teria feito por ele. Nem Ellen, seu esposo Tiago, Urias Smith ou a outra pessoa presente escreveram sobre o episódio. Como as outras testemunhas da visita a Carlstedt não registraram o que Ellen G. White falou, não podemos ter certeza de que Lee tenha sido preciso ao relatar o que a senhora White disse em sua oração. Mas, mesmo que Ellen G. White tenha realmente dito o que Charles Lee afirmou que ela falou, precisamos entender que um profeta não é inspirado por Deus em tudo o que diz. Por exemplo, o profeta Natã, na Bíblia, deu uma orientação errada a Davi e teve que se retificar (2Sm 7:1-17); um velho profeta de Betel desencaminhou um profeta de Judá, levando-o a desobedecer a Deus, e depois foi usado por Ele para repreendê-lo e condená-lo (1Rs 13 11-32); Elias, em um momento nada inspirado por Deus, desejou a morte (1Rs 19:4); o apóstolo Pedro agiu contrariamente aos seus próprios ensinos, e foi repreendido por Paulo (Gl 2:11-14). Naturalmente, nem tudo o que Ellen G. White falava ao conversar corriqueiramente era inspirado por Deus, e pode ser que ela realmente acreditasse na recuperação de Carlstedt, sem ter recebido nenhuma mensagem de Deus sobre o que aconteceria com ele.

14. Questionamento. Embora tenha predito a destruição de São Francisco, ela não fez nenhuma menção de terremoto e incêndio como possíveis causas. Na mesma profecia (veja Manuscrito 30, 1903), ela incluiu a cidade de Oakland, que praticamente não foi atingida pelo tremor que destruiu São Francisco em 1906. Mais tarde ela escreveu sobre Oakland: “São Francisco foi visitada com duros juízos, mas Oakland foi misericordiosamente preservada” (Evangelismo, p. 296).
No Manuscrito 30, de 1903, Ellen G. White falou da necessidade de evangelizar as grandes cidades da costa oeste dos Estados Unidos e de estabelecer nelas instituições que promovessem um estilo de vida saudável. Ela afirmou que “São Francisco e Oakland estão se tornando como Sodoma e Gomorra, e o Senhor irá puni-las. Não vai longe o tempo em que elas sofrerão os Seus juízos”. Ela não especificou nesse texto, que tipo de punição seria esperado para ambas as cidades. Ela também mencionou punições divinas para algumas outras das maiores cidades dos Estados Unidos, que já naquela época estavam muito tolerantes com a criminalidade, a exploração sexual, o tráfico de drogas e álcool e os jogos de azar. Uma vez que, em 18 de abril de 1906, a cidade de São Francisco foi tragicamente destruída por um terremoto, o fato é apontado como uma predição de Ellen G. White que se cumpriu.
A respeito de Oakland, ela fez um apelo para a evangelização das grandes cidades, onde acentuadamente prosperava a impiedade: “São Francisco foi visitada com rigorosos juízos, porém Oakland foi até aqui misericordiosamente poupada. Virá o tempo em que nossa obra nesses lugares será abreviada; portanto, é importante que se façam diligentes esforços agora para proclamar a seus habitantes a mensagem do Senhor para eles” (Evangelismo, p. 404). Assim como a ímpia Nínive foi misericordiosamente poupada por Deus nos dias de Jonas (Jn 3:10; 4:11) apesar de o profeta ter anunciado sua destruição para uma data específica (Jn 3:4), Deus também poupou misericordiosamente Oakland, apesar de Ellen G. White ter anunciado que os juízos divinos estavam prestes a cair sobre a cidade.
A alegação de Ellen G. White, de ter sido inspirada por Deus, é muito séria, e é esperado que pessoas que não queiram aceitar a mensagem que ela ensinou questionem a autenticidade de seu dom profético. No entanto, a leitura cuidadosa de cada uma de suas declarações e o conhecimento de como a inspiração divina atuava nos profetas bíblicos dissipam as dúvidas sobre a validade de seu chamado profético.
Numa época em que há tantos líderes religiosos alegando ter o dom de profecia e de revelação, e se autoproclamando “apóstolos”, “profetas”, “levitas” e “sacerdotes”, é acertado verificar quem é realmente inspirado por Deus. Como vimos, em todos esses quatorze casos, os ataques feitos a Ellen G. White não foram suficientes para desqualificá-la como uma autêntica portadora do dom de profecia prometido na Bíblia a pessoas no tempo do fim (Jl 2:28-32; At 2:17-21; Ap 12:17; 19:10). O dom de profecia operou nela com as mesmas características apresentadas nos profetas descritos na Bíblia.

FERNANDO DIAS é pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira

Publicado no site da Revista Adventista.