Provérbios 31:6 e 7 ensina que pessoas amarguradas podem beber vinho para esquecer sua pobreza e fadiga?
No entanto, como uma exceção, é dito para se dar bebida forte “aos que perecem e vinho aos amargurados de espírito” (Pv 31:6). Esse verso bíblico tem sido empregado para justificar a ingestão de bebidas alcoólicas por prazer ou como antídoto contra o estresse do dia a dia e as mágoas que, vez por outra, se abatem sobre todos. Estaria ele justificando a ingestão de bebidas alcoólicas, como beber socialmente ou “para esquecer”? Outros pensam que esse verso bíblico permite o uso de bebidas embriagantes apenas para doentes em fase terminal, como antídoto contra a dor e as angústias advindas de uma situação extrema. Afinal, nos tempos bíblicos, esse era o costume, visto que em Israel não se usavam as modernas drogas (morfina, por exemplo) contra a dor.
A palavra “vinho” em Provérbios 31:6 é yayin e é empregada tanto em sentido de algo bom, recomendável (cf. Sl 104:14, 15), quanto em sentido mau, reprovável (Pr 23:31; 31:4). Somente o contexto de um verso bíblico pode lançar luz se “vinho” seria alusão a suco de uva não fermentado ou ao suco já fermentado e transformado em bebida embriagante.
O significado de “vinho” nessa passagem pode ser explicado pela palavra shekar, presente no mesmo verso e traduzida como “bebida forte”, bebida fermentada – sempre apresentada em sentido negativo todas as vezes em que aparece no Antigo Testamento. Vê-se que “vinho” (yayin) está em paralelo sinônimo com “bebida forte” (shekar) e deve ser vinho embriagante. Note o paralelismo: Dai bebida forte (shekar) aos que perecem e vinho (yayin) aos amargurados de espírito.
Deve-se notar ainda que a expressão “os que perecem” está em paralelo sinônimo com “os amargurados de espírito”, uma lançando luz sobre a outra. Ou seja, os “amargurados de espírito” são os mesmos “que perecem”. E essas expressões apontam para alguém que está morrendo, em fase terminal, ao qual deviam ser dadas bebidas embriagantes para alívio da dor e da angústia. Esse verso não está absolutamente permitindo bebidas embriagantes a pessoas sadias, que não estejam passando por situações extremas, nem correndo risco de morte iminente.
Com respeito às bebidas alcoólicas, sejam elas feitas do suco de uva fermentado ou de algum cereal, como a cevada, o melhor que alguém deveria fazer é abster-se totalmente. A verdade é que nunca se sabe até onde irá alguém que ingeriu o primeiro gole. Na dúvida, não prove. Siga o conselho paulino: “Não vos embriagueis com vinho […], mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). A embriaguez começa com a primeira dose.
OZEAS MOURA, doutor em Teologia, com especialização em Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)
(Texto publicado originalmente na edição de março de 2016 da Revista Adventista)
Texto original: Beber para Esquecer
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