Que a dieta mediterrânea faz bem para o coração é um fato. Duvidoso é concluir que o segredo dela é o consumo moderado de vinho
SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida.
Nas últimas duas décadas sobraram pesquisas científicas que apontaram
a chamada dieta do Mediterrâneo como um modelo de cardápio saudável. De
carona nessa onda, o consumo diário de uma taça de vinho foi alardeado
por muitos como elemento importante nesse menu e um fator na prevenção
de doenças coronárias.
Assim que foram revelados os primeiros resultados desses estudos,
médicos, nutricionistas e outros profissionais da saúde se animaram com
os supostos benefícios do vinho e recomendaram seu consumo em
quantidades moderadas. Para mim, esse fato é um exemplo clássico do
poder que o capital tem de formar opiniões e mudar comportamentos a
partir da visibilidade que a mídia oferece para pesquisas acadêmicas
tendenciosas.
Lamentavelmente, muitos cristãos foram levados por essa retórica e
passaram a consumir álcool como medida para a proteção do coração.
Alguns chegaram até a citar textos bíblicos para apoiar seu novo hábito.
Resultado: conclusões científicas duvidosas acabaram levando alguns a
uma postura teológica equivocada (para entender por que essa
interpretação carece de melhor base bíblica, leia a seção “Boa Pergunta”
de março/2016, Revista Adventista).
Os vinicultores da Califórnia (EUA) viram no interesse pela dieta do
Mediterrâneo uma oportunidade sem precedentes para mudar a imagem
pública do vinho, que se havia desgastado nas décadas de 1980 e meados
de 1990 por causa da ampla conscientização nos Estados Unidos sobre os
efeitos negativos do álcool.
Ao levar a dieta mediterrânea para o laboratório, basicamente, os
pesquisadores deveriam responder à seguinte pergunta: por que a
população que vive próximo ao mar Mediterrâneo come mais gordura do que
os norte-americanos, mas tem menor índice de doenças cardiovasculares?
Ignorando fatores importantíssimos de hábitos alimentares dessas
comunidades, vários cientistas concluíram que a diferença estava no
resveratrol, antioxidante presente no vinho.
No entanto, o que não podia ser ignorado foi esquecido: a diferença
significativa entre o estilo de vida das duas populações. O povo do
Mediterrâneo, por exemplo, consome cinco vezes mais frutas e verduras,
três vezes mais nozes e mais cereais integrais do que os
norte-americanos. Além de comerem de modo mais saudável, fazem do almoço
sua principal refeição diária, enquanto a população dos Estados Unidos
sobrecarrega o jantar com um cardápio gorduroso. Por fim, o povo do
Mediterrâneo é cinco vezes mais ativo do que os norte-americanos.
Portanto, parece claro que, independentemente do consumo de vinho, o
estilo de vida mediterrâneo é o grande fator para que a dieta dessa
região seja associada à prevenção de doenças cardiovasculares. E, para
quem deseja os benefícios do antioxidante resveratrol, a boa notícia é
que essa substância pode ser encontrada no suco de uva integral com
melhor biodisponibilidade do que no vinho, sem o inconveniente dos
prejuízos do álcool. Tim-tim!
(Texto publicado originalmente na edição de maio de 2016 da Revista Adventista)
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