sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Pare de se preocupar com o que os outros pensam

Revista Adventista

Karyne Correia

Psicóloga e Mestre em Psicologia. Atua na área clínica, é palestrante e consultora na área de treinamentos, realiza atendimento psicológico online, é coordenadora do Programa Pense Magro, e editora do Blog MulherAdventista.com. Twitter: @karynemlira Blog: www.karynemlira.com Facebook: https://www.facebook.com/KaryneMLiraCorreia



Preocupar-se com o que as pessoas pensam a nosso respeito é uma forma segura de desenvolver, em algum momento da vida, um problema de ordem psicológica. Tudo nessa vida tem limites e, para o nosso bem, a preocupação com o que se passa na mente alheia também deve ter.
Todos, absolutamente todos os pacientes que já atendi tinham algo em comum – se preocupavam com o que as outras pessoas iriam pensar. E eu acredito que a maior parte das pessoas que estão lendo essas palavras agora se identificam com isso também. E, em função do que pensavam que os outros poderiam pensar, eles acabavam por comprometer sua paz, sua felicidade e até mesmo sua saúde.
Pensar sobre o que o outro pensa é uma capacidade que desenvolvemos ainda na infância. A isso chamamos de Teoria da Mente, Leitura Mental, Metacognição, entre outros nomes. Uma pessoa tem essa capacidade desenvolvida se ela é capaz de inferir sobre o que ocorre em sua mente e na dos outros (em termos de pensamento, sentimentos, crenças, etc). E claro, uma vez que o que ocorre na mente do outro não é observável então essas inferências devem ficar no campo da teoria.
No entanto, a ocorrência frequente de pensamentos sobre o que se passa na mente do outro pode gerar muita ansiedade e também estresse nas relações, uma vez que se atribua muita importância a isso. Especialmente porque, normalmente, ao fazermos essas inferências, as tomamos como fatos ao invés de reconhecê-las como teoria. Dessa forma, o pensamento vai além de dúvidas (como “será que ele me acha isso?”, “e se eles pensarem que eu sou aquilo?”, etc), que está geralmente relacionada com transtornos de ansiedade, e admite a forma de conclusões (“eles pensam que eu sou…”, “eles me acham…”, etc) que são muito presentes em casos de problemas na autoestima e depressão.
Esse tipo de pensamento, de se preocupar com o que os outros pensam, pode ocorrer em relação a qualquer área da vida. Algumas pessoas são muito seguras como profissionais, mas sofrem com pensamentos desse tipo nas relações. Outros vivem exatamente o contrário. O fato de alguém ser seguro ou até mesmo bem-sucedido em alguma área da vida, não significa que ele está blindado de sofrer com esse tipo de preocupação.

Leitura mental

A leitura mental, uma vez que deixa de ser entendida como teoria e passa a ser compreendida como fato, é uma distorção cognitiva, uma forma equivocada de ler a realidade, que gera preocupação, sofrimento e dor. Nenhum de nós tem a habilidade de ler o que se passa na mente de outras pessoas. E a menos que as pessoas verbalizem aquilo que elas pensam, não deveríamos empregar tempo em alimentar suspeitas, e nem mesmo chegar a conclusões sobre o que elas possam pensar sobre nós em muitos casos. É claro que uma experiência passada de conflito com alguém, por ter nos interpretado mal nos deixa em estado de alerta contra um segundo possível conflito. Mas se essa preocupação se torna o foco do nosso pensamento e isso nos faz mais mal do que bem.
Algo que não me canso de repetir é que não há nada que possamos fazer para que as pessoas pensem bem a nosso respeito todo tempo. Existem coisas que você fará e agradará dezenas de pessoas. Mas essas mesmas coisas desagradarão outras dezenas de pessoas. As pessoas gostam de nós e não gostam de nós exatamente pelos mesmos motivos. Desejar ser alvo dos melhores pensamentos de cada ser humano com quem entramos em contato é matar-se aos poucos.
Mas e quando as pessoas não apenas pensam mal sobre nós, mas também falam mal de nós. Uma vez que elas verbalizaram o que pensam, não devemos nos preocupar? Eu costumo dizer que só devemos nos preocupar com aquilo com o qual podemos nos ocupar em resolver. É possível resolver algo desse tipo? É possível impedir que alguém saia por aí falando mal sobre nós? A resposta é NÃO.
Se você der motivo, as pessoas falarão. Se você não der, elas falarão também. Quando alguém tem o mau hábito de fazer fofoca, espalhar boatos, ou inventar mentiras a respeito de outras pessoas, não há nada que se possa fazer para impedi-la. Apenas quando ela se arrepender e se converter desse mau hábito é que ela deixará de praticá-lo. Então, preocupar-se com o que as pessoas pensam e dizem não resolve o problema, só gera novos problemas.
A esta altura, algum leitor pode estar se perguntando: mas e a minha reputação? Eu demorei a conseguir responder a essa pergunta. Há dez anos eu ajudo pessoas a se libertarem de diferentes distorções cognitivas, inclusive desta que estou comentando aqui – a leitura mental. Mas quando o paciente me confrontava com realidades como fofoca, calúnia, difamação, eu confesso que esse questionamento sempre vinha a minha mente: e como ficará a sua reputação? Este era o mesmo questionamento que eu me fazia quando eu era o alvo das más línguas também.
Então, Deus me guiou à leitura de um texto, escrito por Ellen White, que mudou a minha vida e por consequência tem mudado a vida de pacientes que eu atendo e que sofrem com situações como as que estou comentando aqui.
“Podemos esperar que circulem relatos falsos a nosso respeito; mas se seguirmos um procedimento reto, se nos mantivermos indiferentes a essas coisas, outros também assim ficarão. Deixemos com Deus o cuidado de nossa reputação. … A calúnia pode arrefecer pela nossa maneira de viver; não arrefece mediante palavras indignadas. Que nossa grande ansiedade seja no sentido de agir no temor de Deus e mostrar por nossa conduta que essas acusações são falsas.” Mente, Caráter e Personalidade, volume 2, página 548.
Eu comento um pouco mais sobre essa questão no vídeo Cristão com má reputação. Aqui quero apenas ressaltar um ponto: nossa preocupação (ou ansiedade) não deve ser sobre quem as pessoas pensam/ou dizem que somos, mas sobre quem realmente nós somos. Você não tem e nunca terá controle sobre o que as outras pessoas pensam sobre você. Mas você pode exercer a cada instante o poder de decisão e com isso cuidar de quem você de fato é.
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Filipenses 4:8

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