domingo, 7 de outubro de 2018

A Bíblia e o fim das esquerdas

A atual sucessão de governos na América do Sul revela o esgotamento das políticas de esquerda. Isso ocorre em paralelo a uma retomada da economia americana. Os Estados Unidos e o bloco europeu parecem reafirmar suas posições de liderança e hegemonia no mundo.

O que isso tem a ver com as profecias bíblicas?

De fato, o chamado chavismo perdeu espaço na Venezuela nas eleições legislativas de 2015, e a hegemonia de 16 anos da ideologia de Hugo Chávez está ameaçada. Na Argentina, o longo período de 12 anos dos Kirchner (Nestor, depois Cristina) chegou ao fim com a vitória do liberal Mauricio Macri. Na Bolívia, o socialista Evo Morales não poderá disputar um terceiro mandato; foi a decisão do referendo de fevereiro deste ano.

No início dos anos 2000, a ascensão de Lula, Chávez e Kirchner, respectivamente, no Brasil, Venezuela e Argentina, provocou uma onda das políticas sociais de esquerda na América do Sul. Na força dessa onda, em 2005 o Uruguai elegeu Tabaré Vázquez; em 2006 a Bolívia elegeu Morales e o Chile, Michelle Bachelet. Essa onda alimentou o ideal de políticas sociais igualitárias e paternalistas na população sul-americana, uma das sociedades mais desiguais do planeta.

Ao final de quase 15 anos, os elos dessa corrente têm se enfraquecido e quebrado um após o outro. No Brasil, a maior potência econômica da região, o governo de Dilma Rousseff está seriamente ameaçado pelos mesmos motivos dos demais: evidências de corrupção e falência das políticas populistas.

O enfraquecimento das esquerdas na América do Sul faz parte do processo de desorganização da ideologia socialista como um todo em curso desde a queda do Muro de Berlim, em 1989. A falência do maior estado sócio-político construído sobre essa ideologia, a União Soviética, fragilizou o discurso revolucionário ao redor do mundo. Além disso, o regime comunista em Cuba e na Coreia do Norte só tem fortalecido a mentalidade capitalista devido às agruras sociais e econômicas evidentes nesses países.

O comunismo chinês sustentou elevados índices de crescimento econômico nos últimos anos, mas somente graças à abertura para a economia de mercado em curso ali desde os anos 1970. No entanto, apesar de representar uma salvaguarda para a ideologia socialista, o milagre chinês começa a apresentar sinais de esgotamento. Nos dois últimos anos, a China tem enfrentado crescente fuga de capitais, queda da bolsa, desvalorização da moeda e do mercado imobiliário e evidências de corrupção. Este período da economia chinesa tem sido avaliado como o fim de um ciclo.

O enfraquecimento dessas economias coincide com a retomada do crescimento dos Estados Unidos. Muita coisa não vai bem nas economias modernas, mas o que se assiste nestes tempos pode ser considerado como um esgotamento quase final das ideologias de esquerda e um fortalecimento da economia de mercado em nível global.

Uso aqui a expressão “esquerda” em referência às políticas voltadas para o estado intervencionista e controlador da liberdade geral, e “economia de mercado” para aquelas fundadas na ideia da suficiência do mercado em regular a si mesmo. Em geral, as políticas de esquerda defendem a igualdade, e as de direita, a liberdade. No livro Destra e Sinistra, o filósofo italiano Norberto Bobbio diz que a esquerda procura eliminar as desigualdades sociais com medidas protecionistas, já a direita entende que essas desigualdades são naturais e que a sociedade se autorregula.

Outro aspecto das ideologias de esquerda é a negação da dimensão religiosa da sociedade. Por sua vez, a direita se adapta ao discurso religioso e o utiliza como parte de suas estratégias de poder.

Essa tensão entre uma esquerda que nega Deus e uma direita que pretende usar o nome de Deus foi prevista por Daniel, profeta e também estadista. As visões relatadas nos capítulos 2, 7 e 8, de seu livro, têm o foco no “tempo do fim”, quando o poder perseguidor dos “santos” emerge mais uma vez, mas só para ser destruído com a chegada do reino de Deus. O profeta diz que o reino de Deus “esmiuçará e consumirá todos estes reinos” humanos (Dn 2:44), e que “o domínio, e a majestade dos reinos” serão dados aos “santos do Altíssimo” (7:27; ver 8:9-12).

Mas, onde está a esquerda e a direita na profecia?


As profecias apocalípticas se desdobram em quadros paralelos, os quais acrescentam novos detalhes ao tema já abordado. Tratando do mesmo “tempo do fim”, a visão de Daniel 11 descreve um conflito prolongado entre o chamado “rei do Norte” e o “rei do Sul” (v. 40-45), no qual o Norte prevalece sobre o Sul, pouco antes de investir contra o “glorioso monte santo”, ou seja, os mesmos “santos” das visões de Daniel 7 e 8. As expressões “monte santo” e “monte Sião” frequentemente indicam o santuário e o povo de Deus (Ez 20:40; 28:14; Dn 9:16, 20).

O perseguidor dos “santos”, de acordo com Daniel 7 e 8, é o “chifre pequeno”, símbolo do papado. Ele muda a lei de Deus, persegue os que permanecem fiéis às Escrituras e pretende tomar o lugar de Deus na Terra (Dn 7:8, 21, 25; 8:9-12). Entretanto, antes de perseguir os santos, no tempo do fim, o “chifre pequeno”, que é o mesmo “rei do Norte” (Dn 11:31, 36, 37), terá de suprimir o “rei do Sul”. Mas, no clímax da investida contra o “monte santo”, o tal “rei do Norte” será derrotado (11:45; ver 8:25). Os “rumores do Oriente” que o perturbam são as claras evidências da chegada do reino de Deus com a volta de Cristo (11:44; 8:13, 22).

Da perspectiva de Israel, o Norte era a posição de Babilônia e o Sul, a do Egito. Na Bíblia, frequentemente o Norte representa aquele que deseja estar em lugar de Deus. Lúcifer desejava subir ao “céu”, exaltar seu trono “nas extremidades do Norte” e ser “semelhante ao Altíssimo” (Is 14:13, 14). Babilônia é referida como o poder do “Norte” que derrama “o mal sobre todos os habitantes da terra” (Jr 1:13-16; 6:22, 23). O rei de Babilônia teve a arrogância de desafiar a Deus (Dn 3:15; 4:24, 25). Daniel afirma que o “chifre pequeno” provém do Norte (Dn 8:9). No Apocalipse, o poder que se levanta contra os fiéis de Deus no tempo do fim é retratado como “besta” ou “Babilônia” (Ap 13:1, 7; 14:8; 17:5; 18:2, 10, 21).

Se o “rei do Norte” é o mesmo “chifre pequeno”, que é o papado em sua investida contra os “santos”, quem é o “rei do Sul” que será suprimido antes da perseguição aos “santos do Altíssimo”?

Jacques Doukhan, em seu livro Secrets of Daniel, comentando Daniel 11, diz que o Sul simboliza, na tradição bíblica, “o poder humano sem Deus”. O Sul aponta para o Egito (Dn 11:43), especialmente para o orgulhoso faraó: “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor” (Êx 5:2). Uma aliança de Israel com o Egito seria um deslocamento da fé, uma troca de Deus pela humanidade, ou seja, a fé na humanidade substituindo a fé em Deus. Isaías diz: “Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, … mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor! … Pois os egípcios são homens e não deuses” (Is 31:1-3).

Assim, no conflito protagonizado pelo Norte e o Sul, nessa visão de Daniel 11, “o Norte representa o poder religioso” que pretende ocupar o lugar de Deus, o poder do estado perseguidor dos “santos”; e o “Sul representa os esforços humanos que rejeitam Deus e têm fé apenas na humanidade”, ou seja, os poderes seculares fundados nas ideologias ateísticas e materialistas (Secrets of Daniel, p. 173). Nesse caso, as ideologias de esquerda e seus estados socialistas são aqui retratados com a figura do Egito e do Sul.

Assim, Daniel previu um conflito prolongado, no tempo do fim, entre o poder político-religioso e o poder ateísta e materialista. Ele visualizou a resistência do poder materialista, mas profetizou que este último terminaria sendo suplantado.

O Apocalipse não dá esses detalhes do conflito providos pelo estadista Daniel. João visualizou o momento posterior em que todos os que “habitam sobre a terra” (Ap 13:14) e os “reis do mundo inteiro” serão envolvidos pelo poder da Babilônia, no Armagedom (16:14, 16).

Essa profecia de Daniel 11 é extremamente significativa diante da nova configuração geopolítica do mundo desde a queda do muro de Berlim. Os poderes políticos capitalistas, unidos ao poder religioso cristão desviado da verdade bíblica, conseguiram desorganizar o estado comunista e materialista europeu no fim da Guerra Fria. Nos anos 1990, o poder americano despontou como a única potência global, deixando em seu rastro as ideologias de esquerda em completa confusão. O Norte se sobrepôs ao Sul.

No desfecho desse conflito que resultou na queda do comunismo no Leste europeu, os Estados Unidos tiveram um decisivo aliado: o papa João Paulo II, que conseguiu restaurar a influência religiosa do Vaticano no mundo. Isso é o que contam os jornalistas Carl Bernstein e Marco Politi, no livro Sua Santidade: João Paulo II e a História Oculta do Nosso Tempo (Objetiva, 1996).

Nesta década, a segunda etapa de desorganização das ideologias e dos regimes de esquerda, incluindo os da América do Sul, aponta para o crescente poder do “rei do Norte”. Segundo a profecia, sua agenda prevê investidas iminentes contra o “monte santo de Deus”. Esta será a última batalha do “rei do Norte”, na qual, porém, será completamente derrotado. O Apocalipse prevê a dramática queda da confederação da Babilônia, que é o mesmo “rei do Norte” (Ap 18:1-8).

Daniel garante que Deus se levantará em defesa de seu povo, e o fim chegará para o opressor, e “não haverá quem o socorra” (Dn 11:45).

VANDERLEI DORNELES, pastor e jornalista, é doutor em Ciências pela Escola de Comunicação e Artes (USP), onde defendeu tese sobre os aspectos mitológicos da cultura norte-americana. Autor dos livros O Último Império e Pelo Sangue do Cordeiro, entre outros, atua como redator-chefe associado na CPB.

http://www.revistaadventista.com.br/blog/2016/03/04/a-biblia-e-o-fim-das-esquerdas/

Atos 2:42-47 defende o socialismo?

"Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações.
Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos" (Atos 2:42-47, NVI)



Está cada vez mais fácil encontrar pessoas, muitas vezes sinceras, acreditando que o socialismo pode ser encontrado na Bíblia Sagrada. Um dos argumentos principais consiste na utilização do texto do livro de Atos, capítulo 2, versos 41 a 47, que seria um “suposto” apoio a esse pensamento. O texto completo é este: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.”

Neste texto, estão listadas as três principais razões pelas quais o livro de Atos não pode ser um indicativo ou algum tipo de apoio para o socialismo dentro do cristianismo. De forma alguma os apóstolos estariam prescrevendo alguma norma de conduta para as sociedades cristãs posteriores.

1. Acreditar que Atos dá suporte à ideologia socialista é um anacronismo.

Como se sabe pela História, 18 séculos separam o socialismo do Novo Testamento! O Dicionário de Política de Norberto Bobbio diz o seguinte: “Em geral, o Socialismo tem sido historicamente definido como programa político das classes trabalhadoras que se foram formando durante a Revolução Industrial” (fim do século 18 e começo do século 19).

O significado vulgar de socialismo é a “estatização dos bens e meios de produção”; e algumas pessoas adicionam ainda a expressão “numa sociedade sem classes”. Há dois tipos de socialismo, basicamente, nos quais se caracterizam duas ideias principais: o socialismo utópico e o socialismo científico.

“Socialismo utópico” tem esse nome por causa da obra de Thomas More, Utopia, em que o autor propõe uma sociedade harmônica, justa e contrapondo as sociedades injustas. A principal linha de pensamento do socialismo utópico é idealizadora, justa e igualitária, em que se alcançaria o progresso por meio da razão e do interesse comum sem, necessariamente, uma luta de classes. A característica utópica se dá devido à impossibilidade de alcançar tal sociedade. Seus principais pensadores foram o inglês Robert Owen e os franceses Saint-Simon, Charles Fourier, Pierre Leroux e Louis Blanc, na transição entre os séculos 18 e 19.

O “socialismo científico” ou “socialismo marxista” foi desenvolvido pelos prussianos (atual Alemanha) Karl Marx e Friedrich Engels, no século 19. Ao contrário do idealismo do socialismo utópico, o socialismo científico tinha como principal ideia a crítica ao sistema capitalista. Era necessário aprofundar as análises políticas, econômicas e sociais para então propor mudanças concretas na sociedade. Seu foco era na luta de classes (visão do patrão explorador e do empregado explorado), na mais-valia, na divisão do trabalho e na produção de capital.

A doutrina política de Marx (falecido no fim do século 19) fundamenta-se no materialismo dialético e histórico. Denomina-se materialismo porque seus conceitos diretivos são de conteúdo material; é dialético porque se apoia no método dialético de Hegel, no que tange à evolução dos fenômenos sociais; enfim, qualifica-se como histórico porque os princípios do materialismo dialético são aplicados à evolução dos fatos sociais e à política dos povos no decurso da marcha do tempo.

Se não bastasse o monstruoso intervalo de tempo entre os dois momentos históricos, o que já categorizaria o anacronismo evidente, podemos elencar outra disparidade entre essas ideologias e o texto bíblico no que se refere ao tempo do eventos mencionados: não havia concordância entre os apóstolos e o Império (“Estado”), primeiro porque não era intuito de unir a comunidade Cristã com o império Romano; e segundo porque não havia o Estado como o concebemos hoje e a favor do qual Marx pretendia estatizar os meios de produção.

Mesmo que houvesse o Estado moderno, ainda assim seria impraticável no socialismo porque a autoridade do Estado provém de Deus (como explícito em Romanos 13:1-7, 1 Pedro 2:13 e na conversa de Jesus com Pilatos, em João 19:10, 11), e poderia ter sido estabelecido por conta do pecado da humanidade, embora não fosse plano de Deus original (como descrito nos capítulos de 12, 24 e 26:9-11 de 1 Samuel, e o primeiro capítulo de 2 Samuel).

Embora todo o esforço desses pensadores em criar uma sociedade com oportunidades iguais a toda população e manter certo controle social, a verdade é que a História mostra que os governos socialistas foram em grande parte ditatoriais e um verdadeiro desastre econômico e político. Liberdades individuais foram suprimidas e as guerras e a fome mataram milhões de pessoas. Estima-se que as mortes foram cerca de cem milhões nestes últimos cento e poucos anos:

URSS: 20 milhões de mortos

China: 65 milhões

Vietnã: 1 milhão

Coreia do Norte: 2 milhões

Camboja: 2 milhões de mortos

Leste Europeu: 1 milhão

América Latina: 150.000 mortos

África: 1,7 milhão de mortos

Afeganistão: 1,5 milhão

O movimento comunista internacional e os partidos comunistas fora do poder levaram dezena de milhões de pessoas à morte. Isso mostra que, sim, o socialismo falhou e continuará falhando.

O que esse banho de sangue tem que ver com o livro de Atos capítulo 2? Absolutamente nada! Nem de perto podemos comparar a Bíblia com a ideologia socialista. São coisas completamente diferentes.

3. O texto de Atos 2 não é prescritivo.


Quando lemos o livro de Atos devemos ter em mente que estamos tratando de um livro histórico. A seguir você lerá uma pequena parte de um artigo do teólogo brasileiro Wilson Paroschi:

“A rigor, conforme o próprio Lucas afirma (At 1:1-5; cf. Lc 1:1-4), Atos é um documento histórico e, como tal, narra o desenvolvimento da igreja apostólica nos primeiros trinta anos após a ascensão de Cristo. Em muitos círculos eclesiásticos e evangelísticos, porém, predomina a crença, explícita ou implícita, de que esse livro consiste verdadeiramente numa espécie de manual da igreja ou manual de evangelismo, com orientações e exemplos práticos que, se forem seguidos à risca, produzirão os mesmos resultados. […] Cuidadosa análise da evidência, porém, parece apontar para outra direção. Em primeiro lugar, convém observar que, ao descrever a história da igreja primitiva, Lucas não registra somente os triunfos e sucessos dos apóstolos, mas também seus erros e retrocessos.”

“Em Atos, não encontramos apenas uma sucessão de experiências e relatos positivos que culminam com o evangelho sendo pregado destemidamente e sem qualquer impedimento até mesmo em Roma, no coração do Império (At 28:30-31). Ali também estão registradas inúmeras situações negativas envolvendo diretamente os apóstolos, suas decisões e atitudes.

“Exemplos disso são a negligência para com as viúvas helenistas (6:1), o preconceito e a reticência deles diante da pregação aos gentios (10:1–11:18), a desavença entre Paulo e Barnabé (15:36-40), a transigência de Paulo para com a lei cerimonial (21:17-26) e sua opção por ser julgado em Roma (25:9-12), o que se revelou um grave erro estratégico (cf. 26:30 32). Há também duas outras experiências que se revelaram particularmente negativas: a crença na volta imediata de Jesus e o consequente arrefecimento do fervor evangelístico logo após o Pentecoste.

“A perspectiva evangelística predominante na tradição judaica, tanto no Antigo Testamento (Sl 22:27; Is 2:2-5; 56:6-8; Sf 3:9-10; Zc 14:6) quanto na literatura intertestamentária (Tob 13:11; T. Ben. 9:2; Pss. Sol. 17:33-35; Sib. Or. 3.702-718, 772-776), é a do chamado movimento centrípeto, ou seja, não é Israel que vai às nações; são as nações que vêm a Israel, atraídas pela prosperidade e fidelidade do povo de Deus. E há claros indícios de que, apesar da ordem de Jesus em Atos 1:8, os apóstolos entenderam que, com a pregação no dia de Pentecoste e a conversão de mais de três mil pessoas, a missão deles no mundo já estava cumprida, ou pelo menos substancialmente cumprida.

“Como James D. G. Dunn salienta, o modelo evangelístico que eles conheciam era o que prevalecia no judaísmo de seus dias (cf. Mt 8:11-12; 10:5-6, 23; Mc 11:17) e, no Pentecoste, o mundo todo veio até eles; Lucas menciona mais de quinze diferentes nacionalidades ali representadas (At 2:9-11). O que houve em seguida foi uma diminuição do entusiasmo evangelístico, associado à ideia de que Jesus estaria voltando naqueles dias, como ficara implícito na promessa no dia da ascensão (1:6-11; cf. 3:20-21; Mt 10:23). Foi por isso que eles permaneceram tão firmemente arraigados em Jerusalém e centrados no templo (At 2:46; 3:1; 5:12, 20-21, 25, 42), até porque, de acordo com a profecia de Malaquias (3:1), o templo seria o ponto focal da iminente consumação.

“O elevado senso de fraternidade e comunidade demonstrado pela igreja apostólica logo após o Pentecoste (At 2:44-45; 4:32-35) revela que eles viviam na expectativa diária da volta de Jesus. Posses ou bens materiais perderam o valor. Tudo era vendido e o lucro trazido para um caixa comum para o benefício de todos. Eles não precisavam mais se preocupar com o futuro, pois não haveria futuro.

“A atitude foi louvável, sem dúvida, mas o momento foi errado, ainda que a iniciativa possa ter atendido a algumas necessidades específicas, como a ajuda aos pobres da comunidade de crentes. O espírito de desprendimento e fraternidade que manifestaram é, de fato, o que deve caracterizar o povo de Deus pouco antes da volta de Jesus, mas, naquele momento, representou um retrocesso para a igreja. A igreja de Jerusalém empobreceu (At 11:28; Rm 15:26; Gl 2:10), passou a depender da generosidade das igrejas gentílicas (At 11:29, 30; Rm 15:25, 26; 1Co 16:1-3) e não pôde sequer financiar o evangelismo mundial. Isso coube às próprias igrejas gentílicas (At 13:1-3; 15:35, 36; 2Co 11:8, 9; Fp 4:15-18). Deus permitiu que se levantasse uma perseguição contra a igreja (At 8:1-3) para dispersá-la de Jerusalém e, assim, levá-la a cumprir sua missão mundial (8:4, 5-8, 26-40; 11:19-21).

“Ou seja, é certamente um erro tratar o Livro de Atos como um manual da igreja, e a igreja apostólica como um modelo em tudo para a igreja de todos os tempos e lugares. Ao contrário do que mantém a concepção popular, a igreja apostólica não era perfeita, nem do ponto de vista doutrinário e muito menos do ponto de vista administrativo ou eclesiástico.

“A segunda razão pela qual a igreja apostólica não deve necessariamente ser vista como um modelo em tudo é que ela mesma foi produto de uma época, um lugar e uma cultura específica. A igreja apostólica nasceu no contexto do judaísmo do primeiro século. Ela aparece no cenário bíblico como mais uma dentre as várias denominações ou seitas judaicas da época. Ela teve que lidar com problemas tais como uma expectativa messiânica distorcida, o escândalo da cruz e o legalismo judaico, a inclusão dos gentios e a circuncisão, a idolatria no mundo greco-romano, filosofias pagãs, enfim, uma longa lista de problemas, quase todos muito diferentes dos nossos. É por isso que muito cuidado deve ser tido na hora de apontar os elementos prescritivos no Livro de Atos. Não é só abri-lo e achar que, porque foi assim no passado, tem que ser assim no presente. […]”

Voltei. Gostaria de enfatizar dois pontos importantes: primeiro, é que a empolgação da comunidade se dava exclusivamente pela promessa da vinda de Jesus, pela crença de que o pecado e a morte teriam fim e, finalmente, eles estariam para sempre com Jesus Cristo. O movimento cristão não se manteve unido e motivado no início por conta do ideal revolucionário de transformação social. Eles não estavam ali para reivindicar direitos humanos ou qualquer coisa do tipo. Apenas a alegria do evangelho que os motivava a ficar unidos.

Segundo, é que quanto à distribuição financeira e a comunhão de bens, a comunidade veio à falência pouco tempo depois! Agora veja: se os ideólogos modernos do socialismo procuram encontrar em Atos indícios de modelo econômico para comunidades locais, o que, de fato, eles encontrarão é o modelo ideal de como não distribuir renda e como chegar à falência!

3. Um cristão não pode ser socialista.

Certamente alguém falará que temos, como cristãos, uma função social importante. Isso é verdade e Cristo assim nos ensinou. Porém, existe um abismo entre ajudar o próximo e ser praticante do socialismo coercitivo (comunismo) que usa o aparelho estatal com mão de ferro para saquear a população e definir cada aspecto de sua vida. São ideologias nefastas que a história nos conta com desprezo. Infelizmente, ainda no Brasil poucas pessoas conhecem a história cruel e genocida dessas ideologias.

Considerando isso (e mais vários outros motivos não tratados neste texto), pode-se chegar à conclusão óbvia de que um cristão de verdade, que aguarda a vinda de Cristo, jamais pode perder tempo com essas ideologias ateias e fracassadas. Devemos lembrar sempre que este “Estado” é passageiro, mas o Reino de Deus é eterno.

Referências:

BOBBIO, NORBERTO;  MATTEUCCI, NICOLA ; PASQUINO, GIANFRANCO. Dicionário de Política. 11. Ed. Brasília: Editora UNB, 1998. (Volume 1).

BUKHARIN, NIKOLAI, ABC do Comunismo, Edipro, São Paulo, 2011.

ENGELS, FRIEDRICH, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, Edipro de Bolso, São Paulo, 2011.

FERACINE, LUIZ, Karl Marx ou a Sociologia do Marxismo, Lafonte, São Paulo, 2011.

JEAN-LOUIS PANNÉ, ANDRZEJ PACZKOWSKI, KAREL BARTOSEK, JEAN-LOUIS MARGOLIN  et al. O Livro Negro do Comunismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

PAROSCHI, WILSON, “Os Pequenos Grupos e a Hermenêutica: Evidências Bíblicas e Históricas em Perspectiva”, (Engenheiro Coelho, São Paulo, 2009). (artigo aqui). Ou no livro: SOUZA, ELIAS BRASIL (Ed.). Teologia e metodologia da missão: palestras teológicas apresentadas no VIII Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano. Cachoeira: CePliB, 2011).


Michelson Borges

Existe uma postura correta para orar?

Com muita frequência, os membros da igreja perguntam sobre a atitude adequada na oração. Desejam saber se na igreja devemos orar somente ajoelhados, e se em pé, ou sentados são, igualmente, posturas corretas. A questão é oriunda dos ensinos de alguns bem-intencionados membros da igreja, fundamentados em estudo pessoal, que chegaram à conclusão de que todas as orações na igreja devem ser proferidas de joelhos dobrados. O assunto revela que para tais membros da igreja a oração é muito importante e significativa. Nessa prática, eles desejam estar seguros de que estão seguindo as instruções divinas. Abordamos este assunto, não para desencorajar o interesse acerca desse tema de grande importância na liturgia cristã, mas para prover informação e esclarecimento.

Informação bíblica – De acordo com as Escrituras, as orações são apresentadas a Deus por Seu povo em diferentes circunstâncias e variadas posturas. Daremos um resumo das informações bíblicas mais importantes a esse respeito.

1. De joelhos dobrados
 

Na Bíblia, há muitos exemplos de pessoas que oraram ao Senhor de joelhos dobrados, dando a entender que essa prática era muito comum. Daniel orava ajoelhado três vezes ao dia (Dn 6:10). Estêvão prostrou-se ajoelhado, e falava com o Senhor pouco antes de sua morte de mártir (At 7:60). Pedro ajoelhou-se diante do corpo de Tabita, orou em favor dela e a vida foi-lhe restituída (At 9:40; ver também At 20:36; Ef 3:14). Às vezes, a pessoa punha a cabeça sobre os joelhos enquanto orava (1Rs 1:13). Ajoelhar-se era a expressão ritual da entrega voluntária, sem reservas, do suplicante a Deus. Pelo ato de ajoelhar-se, os adoradores baixavam voluntariamente ao pó do qual foram criados os seres humanos, entregando, em oração, a vida ao Senhor (2Rs 1:13).

2. Em pé

 

Estar em pé em oração diante do Senhor era, igualmente, prática usual, talvez mais comum que de joelhos sobrados. Um dos casos mais impressivos encontra-se em 2 Crônicas 20, onde é descrita uma oração coletiva. Quando a nação de Judá estava prestes a ser invadida pelas forças bélicas conjugadas de Moabe e Amom, Josafá convocou o povo para orar ao Senhor. Ele levantou-se na congregação na Casa do Senhor e orou suplicando livramento, enquanto o povo “permanecia em pé diante do Senhor”(2Cr 20: 5 e 13). Ana apresentou ao Senhor a sua prece, estando em pé. E o Senhor lhe respondeu (1Sm 1:20). Jó também orou em pé (Jó 30:20). Os judeus costumavam orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para mostrar sua religiosidade.

Jesus condenou-lhes o orgulho, porém não a prática de orar em pé (Mt 6:5). Na verdade, Ele confirmou isso quando disse aos discípulos: “E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.” (Mc 11:25). Estar em pé, em oração, evidencia o privilégio que temos de nos aproximarmos de Deus e apresentar-Lhe nossas necessidades e preocupações, sabendo que Ele nos atende as orações. Os que eram recebidos em audiência diante de um rei, geralmente permaneciam em pé diante dele e lhe apresentavam suas petições (Et 5:2). Estar em pé, em oração, significa que reconhecemos a Deus como Rei do Universo e consideramos ser um privilégio poder aproximar-nos dEle para suplicar-Lhe orientação, bênçãos e favores.

3. Assentado
 

A prática de orar ao Senhor assentado é rara na Bíblia, mas não inteiramente ausente. Um bom exemplo é o do rei Davi: “Então, entrou o rei Davi na Casa do Senhor, ficou perante Ele [sentou-se] e disse: Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (2Sm 7:18). Esta é a postura assumida por aquele que busca instruções do Senhor, por meio de Seu profeta (2Rs 4:38; Ez 8:1; 33:31), e que está disposto a servi-Lo.

4. Deitado

 

Também encontramos na Bíblia casos em que pessoas oraram durante a noite, estando na cama. Deitados na cama, lembraram-se do Senhor e nEle meditaram (Sl 4:4; 63:6). Por vezes, a pessoa prostrava-se (na cama) e orava ao Senhor (1Rs 1:47). Orar estando deitado no leito enfatiza, na oração, a oportunidade de meditar na bondade do Senhor e de aproximar-se dEle, durante a noite, em busca de Seu auxílio. Este é um ato secreto de devoção individual.

5. Prostrado
 

Ao prostrar-se, o povo jazia horizontalmente, com o rosto em terra, geralmente com os braços estendidos. Um dos joelhos permanecia dobrado, a fim de facilitar o erguer-se do solo. Na Bíblia, raramente essa postura prostrada está claramente associada à oração (1Rs 1:47; Mc 14:35). Esta é fundamentalmente uma expressão de homenagem e submissão diante do Ser superior. A pessoa que procurava obter o auxílio de um rei prostrava-se diante dele em atitude dependente e submissa (2Sm 14:4). Era, igualmente, forma de cumprimentar um superior (2Sm 14:22), ou apenas para prestar homenagem (1Sm 28:14). No contexto religioso, esta era postura de adoração (2Cr 20:18). Esta atitude intensificava a convicção de que Deus é a própria fonte da vida humana e o único Ser capaz de resguardá-la (Nm 16:45; Js 7:6; 2Sm 7:16). Por vezes, os adoradores compareciam à presença do Senhor, prostravam-se diante dEle como ato de homenagem, e então, assumiam a postura de joelhos dobrados, provavelmente para orar (Sl 95:6). No Oriente Antigo, prostrar-se diante dos deuses era atitude muito comum a fim de expressar homenagem, submissão, adoração e dependência. Essa postura não se tornou aspecto indispensável da adoração na igreja cristã, provavelmente porque Deus não mais Se manifestou para habitar permanentemente em algum lugar específico na Terra, mas sim, tornou-Se acessível por meio do Seu Filho (Jo 4:21-24).

Esta revisão de posturas para oração através da Bíblia indica que não há uma postura particular exigida sempre dos adoradores quando dirigem ao Senhor suas petições. As posturas são importantes no sentido de ser manifestação exterior de reverência, sentimentos profundos e votos ao Senhor. Entretanto, apenas uma delas não abrange suficientemente todas essas experiências. Assim, encontramos nas Escrituras uma diversidade de opções e possibilidades. Qualquer tentativa de escolher apenas uma como suprema e indispensável, acima das demais, não tem o respaldo bíblico.

Escritos de Ellen G. White
 

Ellen G. White enfatiza a oração de joelhos dobrados e nos incentiva a assim proceder. Ela escreveu: “Tanto no culto público, como no particular, temos o privilégio de curvar os joelhos perante o Senhor ao fazer-Lhe nossas petições” (Obreiros Evangélicos, p. 178). Jamais devemos considerar a atitude de ajoelhar-se como sendo um fardo, mas um privilégio. Novamente, ela comenta: “Tanto no culto público como no particular é nosso dever prostrar-nos de joelhos diante de Deus quando Lhe dirigimos nossas petições. Este procedimento mostra nossa dependência de Deus” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 312).

Declarações semelhantes a estas não devem ser empregadas para ensinar que a única postura adequada para a adoração pública é a de joelhos dobrados. Ela deixa claro que nem sempre é necessário ajoelhar-se para orar (A Ciência do Bom Viver, pp. 510 e 511). Quando participava na adoração pública, a própria Ellen G. White por vezes pedia que a congregação se levantasse para uma oração de consagração (Mensagens Escolhidas, vol. 3, pp. 268 e 269), ou que a congregação permanecesse assentada (Ibidem, 267 e 268), ou que todos se ajoelhassem (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pp. 148 e 149). Pode-se concluir que, de acordo com as palavras de Ellen G. White, ajoelhar-se não é postura exclusiva para a oração na igreja. Em sua vida particular, ela orava até mesmo sentada sobre a cama (Review and Herald, 13 de dezembro de 1906).

Notas conclusivas
 

Por este sumário, podemos concluir que, em conformidade com a Bíblia e com os escritos de Ellen G. White, existem diferentes posturas para a oração e que a importância de uma delas não exclui nenhuma das demais. Durante os cultos de adoração, a Igreja Adventista permite para a oração várias posturas: sentada, em pé ou ajoelhada. Sendo que a adoração deve ser caracterizada pela ordem, é importante que a comunidade de crentes esteja unida em buscar ao Senhor e que todos nós sigamos os elementos da liturgia comum aceita em nossos cultos. Aqueles que, na igreja, se ajoelham para orar enquanto o restante da comunidade permanece em pé, podem estar, inadvertidamente, revelando religiosidade de maneira questionável.

Ángel Manuel Rodríguez (via Revista Adventista)

https://megaphoneadv.blogspot.com/2018/09/existe-uma-postura-correta-para-orar.html

Não seja um incendiário cibernético


É muito fácil clicar em “enviar”, “postar” ou “publicar”. Basta um clique. Um toque na tela. Eu nem preciso pensar muito para fazer. Eu saco uma mensagem e a disparo, como um cowboy em um duelo. Talvez seja algo engraçado. Talvez seja uma crítica a alguém. A internet tornou fácil ser um incendiário. Tocar fogo no mundo. Ser uma bomba de napalm ambulante. Atravessar o dia espirrando gasolina virtual em tudo e em todos.

    "Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno." (Tiago 3:5-6)


O argumento de Tiago é que nossas palavras, que parecem pequenas e desimportantes, que vêm de nossas bocas como uma torrente, podem ser incrivelmente destrutivas. Nossas palavras são equivalentes ao fogo, que pode por em brasas toda uma floresta, derrubar edifícios e causar quantidades inenarráveis de sofrimento. Palavras não são coisas pequenas.

Essa passagem de Tiago se aplica o mesmo tanto para as palavras que dizemos digitalmente. Cada post no Facebook tem o potencial para queimar alguém. Cada tweet tem o potencial de iniciar um incêndio. Cada foto no Instagram, mensagem de texto, Pin ou Snapchat tem o potencial para tocar fogo em toda a sua vida. Deus leva a sério nossas palavras digitais tanto quanto nossas palavras verbalizadas. Será que nós mesmos levamos a sério nossas palavras digitais?

É fácil ser um incendiário na internet. Nela, é fácil dizer coisas que nunca diríamos diretamente a alguém. O brilho de nossas telas de LCD oferecem um falso senso de segurança e proteção. Podemos dizer algo sobre alguém sem vermos o efeito que isso tem na pessoa. Podemos criticar alguém sem ver os efeitos danosos e devastadores de nosso criticismo. Podemos postar uma imagem sem ver o quanto essa foto pode ser uma tentação para outras pessoas. A internet nos permite dizer o que quer que desejemos sem quaisquer das consequências normais de uma conversa.

Como podemos evitar o perigo de sermos incendiários cibernéticos? Seria muito sábio considerar regularmente os seguintes versos da Escritura:

    "Não saia da vossa boca [ou computador, smartphone, tablet] nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção." (Efésios 4:29-30)

Antes de clicar em “publicar”, preciso me perguntar: isso serve para a edificação dos outros? Ou minhas palavras estão derrubando e ferindo alguém? Se eu dissesse essas palavras diretamente para alguém, ela seria edificada ou derrubada? A afeição dessa pessoa por Cristo iria diminuir ou aumentar? Deus deseja que todas as nossas palavras, posts e tweets tenham um efeito edificador.

    "O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que de toda palavra [ou comentário, post] frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado." (Mateus 12:35-37)

As coisas que postamos online são um reflexo do que já está em nossos corações. Em outras palavras, nosso discurso é um reflexo de quem somos. Quando estivermos perante o Senhor no Dia do Julgamento, daremos conta de cada palavra que enunciarmos. Cada palavra dita, cada mensagem de texto, cada atualização no Facebook, cada tweet, cada Pin, cada Instagram. Antes de postar, então, preciso me perguntar: eu vou me envergonhar disso no último dia? Irei me arrepender dessas palavras quando estiver perante o trono do Julgamento?

Stephen Altrogge (via Reforma21.org / Traduzido por Filipe Schulz)

"O poder da palavra é um talento que deve ser cultivado diligentemente. De todos os dons que recebemos de Deus, nenhum é capaz de se tornar maior bênção que este. Com a voz convencemos e persuadimos; com ela elevamos orações e louvores a Deus, e também falamos a outros do amor do Redentor. Não se deve proferir uma única palavra imprudentemente. Nenhuma maledicência, palavreado frívolo algum, nenhuma murmuração impertinente nem sugestão impura sairá dos lábios do seguidor de Cristo. Palavras torpes não significam somente palavras vis. Denotam qualquer expressão contrária aos santos princípios e à religião pura e imaculada. Incluem idéias impuras e insinuações malévolas. Se não forem repelidas imediatamente, conduzem a grande pecado. Nossas palavras devem ser expressões de louvor e ações de graças. Se o coração e a mente estiverem repletos do amor de Deus, isto será revelado na conversação." (Ellen G. White, Meditação Matinal - E Recebereis Poder, p. 197)


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Como e por que devemos amar os nossos inimigos?



O pastor protestante e ativista político Martin Luther King, Jr., prêmio Nobel da Paz em 1964, nascido em Atlanta, Estado da Geórgia, no dia 15 de janeiro de 1929, e assassinado no dia 4 de abril de 1968, com apenas 39 anos de idade, disse certa vez em um de seus sermões: 

"Talvez nenhum ensinamento de Jesus seja, hoje, tão difícil de ser seguido como este mandamento do 'amai os vossos inimigos'. Há mesmo quem sinceramente julgue impossível colocá-lo em prática. Consideramos fácil amar quem nos ama, mas nunca aqueles que abertamente e insidiosamente procuram prejudicar-nos. Outros ainda, como o filósofo Nietzsche, sustentam que a exortação de Jesus para amarmos os nossos inimigos prova que a ética cristã se destina somente aos fracos e aos covardes, e nunca se pode aplicar aos corajosos e aos fortes. Jesus – dizem eles – era um idealista sem sentido prático. Apesar dessas dúvidas prementes e persistentes objeções, o mandamento de Jesus desafia-nos hoje com nova urgência. Insurreições sobre insurreições demonstram que o homem moderno caminha ao longo de uma estrada semeada de ódios, que fatalmente o conduzirão à destruição e à condenação. O mandamento para amarmos os nossos inimigos, longe de ser uma piedosa imposição de um sonhador utópico, é uma necessidade absoluta para podermos sobreviver. O amor pelos inimigos é a chave para a solução dos problemas do nosso mundo. Jesus não é um idealista sem sentido prático; é um realista prático. Estou certo de que Jesus compreendeu a dificuldade inerente ao ato de amar os nossos inimigos. Nunca pertenceu ao número dos que falam fluentemente sobre a simplicidade da vida moral. Sabia que toda a verdadeira expressão de amor nasce de uma firme e total entrega a Deus. Quando Jesus diz: 'Amai os vossos inimigos', não ignora a dificuldade dessa imposição e conhece bem o significado de cada uma das suas palavras. A responsabilidade que nos cabe como cristãos é a de descobrir o significado desse mandamento e procurar apaixonadamente vivê-lo toda a nossa vida."

A prova suprema do cristianismo genuíno é amar os inimigos. Jesus estabeleceu esse elevado padrão em contraste com a ideia predominante em Seu tempo. A partir do mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19:18), muitos haviam concluído algo que o Senhor jamais disse nem planejou: Você deve odiar seu inimigo. Certamente, isso não estava implícito no texto.

    "Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam." (Lucas 6:27, 28)


Um adversário pode demonstrar inimizade de três formas diferentes: Por uma atitude hostil (“vos odeiam”), por meio de palavras ofensivas (“vos maldizem”) e através de ações abusivas (“vos maltratam e vos perseguem” [Mt 5:44]). A essa tríplice expressão de inimizade, Cristo nos ensina a responder com três manifestações de amor: fazer boas ações para com eles (“fazei o bem”), falar bem deles (“bendizei”), e interceder diante de Deus por eles (“orai”).

O Senhor sabe que não se pode ser um crente genuíno tendo um coração cheio de ódio, mesmo quando existam razões que o justifiquem. A resposta do cristão à hostilidade e antagonismo é vencer “o mal com o bem” (Rm 12:21). Observe: Jesus primeiro pede que amemos nossos inimigos e, como resultado, solicita que demonstremos esse amor por meio de boas ações, palavras amáveis e oração de intercessão. Sem o amor inspirado pelo Céu, essas ações, palavras e orações seriam uma ofensiva e hipócrita falsificação do verdadeiro cristianismo.

Por que então devemos amar nossos inimigos? Quais razões foram apresentadas por Jesus?

    "Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus." (Lucas 6:32-35)

A fim de nos ajudar a compreender esse elevado mandamento, o Senhor usou três argumentos. Em primeiro lugar, precisamos viver acima dos baixos padrões do mundo. Até mesmo os pecadores amam uns aos outros, e os criminosos se ajudam mutuamente. Qual seria o valor de seguir a Cristo, se isso não nos levasse a viver e amar de maneira superior à virtude dos filhos deste mundo? Em segundo lugar, Deus nos recompensará por amar nossos inimigos. Ainda que não amemos pela recompensa, Ele a concederá graciosamente para nós. Em terceiro lugar, esse tipo de amor é uma evidência de nossa estreita comunhão com nosso Pai celestial, que “é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6:35).

Os ensinamentos de Jesus estabelecem um ideal tão elevado, de uma vida altruísta e amorosa, que a maioria de nós provavelmente se sinta oprimida e desanimada. Como podemos nós, egoístas por natureza, amar o próximo de maneira altruísta? Além disso, é possível amar os inimigos? Do ponto de vista humano, é absolutamente impossível. Mas o Senhor jamais nos pediria que amássemos e servíssemos os detestáveis e desprezíveis sem nos prover os meios com que alcançar isso.

    “Essa norma não é impossível de ser alcançada. Em toda ordem ou mandamento dado por Deus, há uma promessa, a mais positiva, a fundamentá-la. Deus tomou as providências para que nos tornemos semelhantes a Ele, e realizará isso para todos quantos não interpuserem uma vontade perversa, frustrando assim Sua graça.” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 76)

Qual promessa está na base do mandamento de amar os inimigos? É a certeza de que Deus é bondoso e misericordioso para com os ingratos e maus (Lc 6:35, 36), o que nos inclui. Podemos amar nossos inimigos, porque Deus nos amou primeiro, embora fôssemos Seus inimigos (Rm 5:10). Quando diariamente reafirmamos nossa aceitação do Seu amoroso sacrifício por nós na cruz, Seu amor abnegado permeia nossa vida. Quanto mais compreendemos e experimentamos o amor do Senhor por nós, mais Seu amor fluirá de nós para os outros, até mesmo aos nossos inimigos.

Nossa necessidade diária não é apenas a de aceitar novamente a morte de Cristo por nós, mas render nossa vontade a Ele e nEle permanecer. Assim como Jesus não buscou Sua própria vontade, mas a vontade do Pai (Jo 5:30), precisamos confiar nEle e em Sua vontade. Pois, sem Ele, nada podemos fazer (Jo 15:5). Quando a cada dia decidimos nos submeter a Jesus, Ele vive em nós e por meio de nós. Então “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20), e transforma minhas atitudes egocêntricas em uma vida amorosa e altruísta.

Fonte: https://megaphoneadv.blogspot.com/2018/10/como-e-por-que-devemos-amar-os-nossos.html