Pergunta: Os trinitarianos negam que Cristo
seja o Filho de Deus. Ele só se torna Filho quando vem à Terra. Mas a Bíblia
diz que Cristo é o Filho de Deus, sendo lógico concluir que Ele nasceu
de Deus, foi gerado de Deus, portanto, não tem a eternidade pretérita.
1 João 5:1 diz que Jesus foi gerado. A própria Ellen White chama Jesus
de Filho de Deus antes de Sua encarnação. Como entender isso?
Resposta: Nenhum trinitariano nega que Jesus é o Filho de
Deus. A Bíblia afirma e o próprio Jesus Se autointitula o Filho de Deus. O
problema está na compreensão equivocada que os antitrinitarianos têm dessa
expressão. Algumas expressões usadas naquela época, se isoladas de seu
contexto, não são bem compreendidas. Por exemplo: quando a Bíblia chama Jesus de
Filho do homem, quer dizer que Ele é totalmente homem, ser humano; quando chama
Jesus de Filho de Davi, quer dizer que Ele era o Messias, o Rei, o prometido
que viria resgatar Israel (na visão do judeu), a humanidade; da mesma forma,
quando a Bíblia chama Jesus de Filho de Deus, quer dizer que Ele era totalmente
Divino, Deus.
O termo “gerado” usado, por exemplo, em Hebreus 1:5, quando visto em seu
contexto, nota-se, pelo Salmo 2:7, que primariamente foi utilizado para Davi,
quando ele foi entronizado. Por que o verbo “gerar” usado em Salmo referindo-se
a Davi significa entronização e quando repetido em Hebreus para ser
aplicado a Cristo significa nascer, vir a existência? Da
mesma forma, observando o contexto de 1 João, será que no capítulo 5, verso 1
era propósito do autor descrever a suposta origem, o suposto nascimento de
Jesus? Vejamos:
a) “TODO aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo
aquele que ama ao que O gerou também ama ao que dEle é nascido” (1Jo 5:1).
Πᾶς ὁ πιστεύων ὅτι Ἰησοῦς ἐστὶν ὁ χριστός, ἐκ τοῦ θεοῦ γεγέννηται·
καὶ πᾶς ὁ ἀγαπῶν τὸν γεννήσαντα ἀγαπᾷ καὶ τὸν γεγεννημένον
ἐξ αὐτοῦ.
No destaque acima está a palavra gennao (γεννάω), que significa nascido
ou gerado. Apesar de o verso em português ser traduzido assim: “TODO
aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo
aquele que ama ao que O gerou também ama ao que dEle é nascido.”
Note que há um intercâmbio entre os verbos “gerar” e “nascer”. No grego,
entretanto, trata-se do mesmo verbo. A pergunta é: Em que consiste o nascimento
ou geração de Cristo? Será que essa expressão, esse verbo só se refere a
nascimento no sentido de vir à existência?
Analisemos outras ocorrências do verbo gennao em 1 João para saber
o que ele significa, e depois em outras passagens no Novo Testamento:
b) “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer
que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 João 4:7).
Ἀγαπητοί, ἀγαπῶμεν ἀλλήλους, ὅτι ἡ ἀγάπη ἐκ τοῦ θεοῦ ἐστιν, καὶ πᾶς ὁ ἀγαπῶν
ἐκ τοῦ θεοῦ γεγέννηται καὶ γινώσκει τὸν θεόν.
c) “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e
esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 João 5:4).
ὅτι πᾶν τὸ γεγεννημένον ἐκ τοῦ θεοῦ νικᾷ τὸν κόσμον· καὶ
αὕτη ἐστὶν ἡ νίκη ἡ νικήσασα τὸν κόσμον, ἡ πίστις ἡμῶν.
d) “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca;
mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno
não lhe toca” (1 João 5:18).
Οἴδαμεν ὅτι πᾶς ὁ γεγεννημένος ἐκ τοῦ θεοῦ οὐχ ἁμαρτάνει,
ἀλλ᾽ ὁ γεννηθεὶς ἐκ τοῦ θεοῦ τηρεῖ αὐτόν καὶ ὁ πονηρὸς οὐχ
ἅπτεται αὐτοῦ.
Assim, notamos que o verbo γεννάω (gennao) em 1 João não traz
necessariamente o sentido de nascimento físico, o que implica vir à existência.
Em todo o livro não é essa a conotação do verbo. Por que seria apenas nessa
passagem? Veja mais este exemplo fora da literatura joanina:
e) “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei
nas minhas prisões” (Filemom 1:10).
Παρακαλῶ σε περὶ τοῦ ἐμοῦ τέκνου, ὃν ἐγέννησα ἐν τοῖς
δεσμοῖς μου, Ὀνήσιμον.
Em todas as situações mostradas acima percebemos que o gerar não
tem o significado de nascer literalmente, vir à existência
(mesmo que esse também possa ser um significado possível ao termo). Por que,
então, quando se refere a Jesus, sempre o termo gerar é imposto pelos
antitrinitarianos como sendo algo literal, vir à existência, nascer
fisicamente?
Os antitrinitarianos tentam fazer certas dicotomias entre os termos “gerar”,
“nascer” e “criar”. A questão é: a palavra pode até ser diferente, mas o
conceito é o mesmo – Cristo veio à existência de alguma forma; houve um momento
na eternidade em que Ele não existia. O Pai O trouxe à existência, seja por
geração ou criação, não importa. Aqui se encontra o primeiro grande erro: Deus
não é um ser que pode ser criado ou gerado (no sentido de vir à existência).
Esse é o conceito grego quando falavam de suas divindades. A Bíblia nega o conceito
de uma divindade que não possui a eternidade. Ser Deus implica,
necessariamente, ser eterno, tanto para frente quanto para trás. Se foi criado,
não é Deus. Se nasceu, não é Deus, se foi gerado (no sentido de vir à
existência e não no sentido bíblico de entronização), não é Deus. Deus é eterno.
Cristo é Deus? É eterno? Sim. A Bíblia diz que sim:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”
(João 1:1).
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre
os Seus ombros, e Se chamará o Seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6).
Como o Pai da Eternidade, aquele que cria a eternidade, não seria eterno?
Vejamos abaixo mais alguns textos inspirados sobre a divindade e eternidade
de Cristo:
“Ao falar de Sua preexistência, Cristo faz o pensamento remontar aos séculos
eternos. Ele nos assegura que nunca houve um tempo em que não estivesse
em íntima ligação com o Deus eterno. Aquele cuja voz os judeus estavam
então ouvindo estivera com Deus como Alguém que Se achava em Sua presença”
(Ellen G. White, Signs of the Times, 29 de agosto de 1900).
“Antes de serem criados homens ou anjos, a Palavra [ou Verbo] estava com
Deus, e era Deus. O mundo foi feito por Ele, ‘e sem Ele nada do que foi feito
se fez’ (João 1:3). Se Cristo fez todas as coisas, existiu Ele antes de todas
as coisas. As palavras faladas com respeito a isso são tão positivas que
ninguém precisa deixar-se ficar em dúvida. Cristo era, essencialmente e
no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda
a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre. O Senhor Jesus
Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade,
como pessoa distinta, mas um com o Pai. Era
Ele a excelente glória do Céu. Era o Comandante dos seres celestes, e a
homenagem e adoração dos anjos era por Ele recebida como
de direito. Isto não era usurpação em relação a Deus” (Ellen G. White,
Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 247, 248).
O que significa toda eternidade? Toda é toda. Ou seja,
precisamos aceitar que:
a) Nunca houve um tempo em que Cristo não estivesse com o Pai. E nunca é nunca
b) Ele é Deus no mais alto sentido, portanto, não pode ter
vindo à existência de alguma forma, porque Deus não nasce, Deus é.
c) Estava com o Pai desde toda a eternidade. Toda é toda.
Se você pudesse viajar a qualquer ponto da eternidade, lá estaria Jesus. Se Ele
não estivesse, Ellen White seria mentirosa, pois ela disse toda
A Bíblia diz que Deus existe de eternidade a eternidade. Claramente o texto
está falando de eternidade pretérita e eternidade futura. Veja: “Antes que os
montes nascessem, ou que Tu formasses a Terra e o mundo, sim, de
eternidade a eternidade, Tu és Deus” (Salmo 90:2). De quem esse texto
está falando? Quem é esse ser eterno para frente e para trás? Veja o que Ellen
White escreveu:
“‘Antes que os montes nascessem, ou que Tu formasses a Terra e o mundo, sim,
de eternidade a eternidade, Tu és Deus” (Salmo 90:2). ‘O povo,
que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e aos que estavam
assentados na região e sombra da morte a luz raiou” (Mateus 4:16). Aqui
se apresentam a preexistência de Cristo e o propósito de Sua manifestação ao
mundo, como raios vivos de luz do trono eterno. ‘Agora ajunta-te em
esquadrões, ó filha de esquadrões; pôr-se-á cerco contra nós: ferirão com a
vara no queixo ao juiz de Israel. E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre
milhares de Judá, de ti Me sairá O que será Senhor em Israel, e cujas saídas
são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade’ (Miqueias 5:1, 2; Mensagens
Escolhidas, v. 1, p. 248).
Portanto, qualquer tentativa de afirmar que Cristo não é Deus eterno, que
Ele foi gerado e não existia desde sempre com o Pai é apenas um
esforço maligno para distorcer essa verdade tão bela da plena divindade e
eternidade de Jesus. Ele é Deus, sempre existiu, sempre foi um com o Pai,
sempre esteve com Ele. Ele é o YHWH do Antigo Testamento. Como disse a serva do
Senhor falando de Jeová, aquele que aparece no Antigo Testamento: “Jeová é o
nome dado a Cristo” (Signs of the Times, 3/5/1899).
Sobre Ellen White chamar Jesus de Filho de Deus antes de Sua
encarnação, essa é uma situação simples e muito comum. Trata-se de termos
retroativos e proféticos. Por que Ellen White chama Jesus de Filho de Deus
antes de Sua encarnação? Pelo mesmo motivo que
a) a Bíblia chama Jesus de Filho do homem em Daniel, antes de Sua
encarnação;
b) a Bíblia diz que Jesus é o cordeiro que foi morto antes da fundação do
mundo;
c) Ellen White chama Jesus de Jesus (nome dado pelo anjo quando
apareceu a Maria): “Lúcifer estava invejoso e enciumado de Jesus Cristo” (História
da Redenção, p. 14). Naquela época Jesus era chamado de Jesus Cristo?
Claro que não!
Portanto, nota-se claramente que certos títulos atribuídos a Cristo são retroativos
(termos conhecidos hoje) e proféticos. O fato de alguém dizer hoje que
“o Filho de Deus lutou contra Lúcifer no Céu”, ou “Jesus venceu Lúcifer lá no
Céu” não quer dizer necessariamente que Ele já era chamado com esses nomes lá
no Céu naquela ocasião; são termos conhecidos hoje e que usamos comumente ao
relatar histórias do passado, assim como Ellen White o fez. Nem seria lógico
Ellen White contar o que houve no Céu falando sempre “a segunda pessoa da
Divindade”, só porque naquela época Ele ainda não havia recebido o nome
(título) de Jesus ou Filho de Deus ou ainda Filho do homem.
Pergunta: Jesus disse mesmo as palavras de
Mateus 28:19 ou esse texto foi um acréscimo posterior ao livro de Mateus?
Resposta: Leia o texto “A fórmula batismal trinitária de Mateus 28:19 é autêntica?”
e você encontrará a resposta para essa pergunta.
Eleazar Domini, além de bacharel em Teologia, é mestre em Teologia na
área de Interpretação e Ensino da Bíblia com ênfase na língua hebraica.
Atualmente é pastor distrital em Aracaju.
Nenhum comentário:
Postar um comentário