Michelson Borges (via Criacionismo)
É interessante notar
como, com o tempo, certas expressões de linguagem e “vícios” de
comportamento acabam sendo incorporados e cristalizados no meio
religioso (no que diz respeito às expressões, isso é até normal, em
qualquer língua falada). A lista abaixo é apenas uma sugestão para
ajudar especialmente os líderes e comunicadores das igrejas a aprimorar o
trabalho que desempenham e que é muito importante para Deus e para a
comunidade:
1. “Vamos cantar o hino ....... para a entrada da plataforma.”
A plataforma, sobre a qual ficam o púlpito e as cadeiras do pregador e
dos oficiantes, nunca entra, a menos que tenha rodinhas e seja móvel. A
plataforma sempre está lá. Quem entra são os oficiantes do culto ou
componentes da plataforma. Alguns podem alegar que em “entrada da
plataforma” há elipse e metonímia. Correto. Outros podem argumentar que o
uso consagrou a expressão, apesar da incorreção. Igualmente correto.
Então, para evitar maiores discussões, poderíamos simplesmente cantar
para que entrem os oficiantes que compõem a plataforma, sem precisar
chamá-los. Que tal?
2. Já que
mencionamos a música, é bom lembrar que o ideal é anunciar os hinos pelo
nome e depois informar o número deles. Assim, fica melhor: “Vamos
cantar o hino ‘Jubilosos Te adoramos’, nº 14.” E nada de dizer “Vamos cantar o hino três, quatro, dois.” O correto é “trezentos e quarenta e dois”.
3. “Senhor, abençoa os que não puderam vir por motivo justo.”
Esse tipo de súplica é comum em cultos de oração (às quartas-feiras),
quando geralmente há menos pessoas na igreja. Infelizmente, é um tipo de
oração legalista que procura excluir das bênçãos de Deus certas
pessoas. Se alguém deixou de ir à igreja por “motivo injusto”, aí, sim, é
que devemos orar por essa pessoa. O melhor mesmo é ser inclusivo e
orar: “Senhor, abençoa aqueles que não puderam vir. Que Teu Espírito
esteja com eles neste momento.” Outro detalhe: tem gente que parece ter
fixação pelos que não vieram à igreja. O dirigente começa a reunião e já
dispara: “Apesar de termos muitos bancos vazios...” ou “Mesmo sendo poucos...”
Vamos valorizar os que estão presentes. Pra que ficar falando toda hora
de quem não veio? Nenhum apresentador de TV fala sobre os que não estão
assistindo ao seu programa... Quem não veio que ore em casa por si
mesmo e vá à reunião seguinte, se for possível.
4. “Aqueles que puderem, vamos nos ajoelhar para orar.”
Essa também já virou “vício”. É evidente que somente se ajoelharão
aqueles que puderem. E os que não puderem por certo serão tão poucos que
nem é preciso mencionar. Essa frase é dispensável.
5. Às vezes, quando alguém vai apresentar os oficiantes do culto, na plataforma, diz algo do tipo: “À minha direita, à esquerda dos irmãos...”
Isso é quase como chamar a congregação de espacialmente desorientada.
Que tal simplesmente dizer: “À direita do pregador...”, ou algo assim?
6. “Senhor, que Tuas bênçãos venham de encontro às nossas necessidades.”
Tenho certeza de que quem ora dessa maneira não quer esbarrar nas
bênçãos de Deus nem ser atingido por elas. Vir de encontro é se chocar
contra. O correto, então, é pedir que as bênçãos de Deus venham ao
encontro das nossas necessidades, ou seja, estejam de acordo com o que
precisamos.
7. “Viemos aqui para celebrar...”
Viemos é pretérito perfeito de “vir”. Talvez o mais adequado seja dizer
“vimos”, presente do indicativo de “vir”. Mas dizer “Vimos aqui” fica
muito formal, não é? Então, que tal mudar para algo do tipo: “Estamos
aqui para celebrar...”? Na dúvida, saia pela tangente e busque sempre a
maneira mais simples (porém correta) de falar.
8. “Senhor, abençoa esta semana que para nós é desconhecida”; “Não temos mérito algum, mas confiamos nos méritos do Teu filho Jesus Cristo”;
etc. Não há nada de gramaticalmente errado nessas frases, mas será que
quem as usa está pensando no que diz? Aqui quero chamar atenção para as
“frases feitas” que povoam nossas orações. Oração, como bem definiu
Ellen White, é abrir o coração a Deus como se faz com um amigo.
Portanto, as orações, mesmo as feitas em público, deveriam ser dirigidas
a Deus com palavras simples e sem modismos ou tradicionalismos ditos
automaticamente.
9. “Quando a porta da graça for fechada”; “Depois do tempo da sacudidura”; “O povo remanescente da profecia”; “A pena inspirada registra que...”; “O povo laodiceano”; “Segunda hora”; “Vamos para o lava-pés”; “O departamento de Mordomia”, “Fazer o pôr do sol” (não precisa fazer, ele é automático!); “Devolução do pacto”;
etc. Novamente, nada há de errado com essas frases e expressões. Mas
imagine que você não é adventista ou não é cristão e está visitando uma
igreja adventista pela primeira vez. Como interpretaria essas
expressões? Entenderia alguma coisa? Portanto, os pregadores devem tanto
quanto possível evitar o “adventistês”. Se tiverem que usar termos do
jargão adventista, o melhor é explicá-los em seguida. Nossa mensagem tem
que ser clara, simples e universal.
10. Devemos
evitar também termos denominacionais (esse é um deles) que se referem à
estrutura da igreja e que não têm muito sentido para quem não os
conhece. Imagine a cena: alguém anuncia que naquela manhã de sábado
falarão "o pastor da União e o pastor da Divisão".
Alguém pode pensar que um é bom, pois promove a união, e o outro é mau.
Assim, o ideal é explicar os termos ou simplesmente dizer: “Hoje
falarão o pastor fulano, diretor de Educação da Igreja no Estado de São
Paulo, e o pastor cicrano, líder de Jovens para a América do Sul.” Por
que “diretor” e “líder”? Porque é mais claro que “departamental”.
11. Que tal promover o culto jovem? Nos dois sentidos: promover a frequência ao culto e o nome dele desse jeito. “Culto JA”
não tem sentido (no meu Estado de origem, JA é Jornal do Almoço). E
“programa dos jovens” soa ainda pior. Culto jovem é mais bonito.
12. As pessoas oram, cantam alguns hinos e depois o dirigente diz: “Para começarmos o culto, cantemos o hino...” A oração e os hinos anteriores não eram parte do culto? Eram o que, então?
13. Outro “vício” envolve a palavra “possa” (e suas variantes) e até lança dúvida sobre o poder de Deus. Quer um exemplo? “Senhor, que Tu possas nos perdoar os pecados. Que Tu possas conceder a cura ao irmão fulano e que nós possamos ser fieis a Ti.”
Além de ficar sonoramente feio, quando repetido, o “possa” aplicado a
Deus relativiza o poder dEle. É claro que Deus pode! Talvez Ele não
queira algumas coisas, mas que pode, pode. Assim, melhor seria orar:
“Senhor, perdoa nossos pecados. Se Tu quiseres, cura o irmão fulano e
ajuda-nos a ser fieis a Ti.”
14. Imperativos são outro problema. Errado: “Senhor, cure”, “Senhor, ouça”, “Senhor, atenda”, “Senhor, faça”.
Correto: “Senhor, cura”, “Senhor, ouve”, “Senhor, atende”, “Senhor,
faze”. Ok, essa é um pouco mais complicada, mas, com o tempo, um pouco
de estudo e atenção, é possível orar direitinho sem perder a
espontaneidade. Devemos sempre oferecer o melhor a Deus, inclusive nosso
melhor português possível.
15. Como mais
ninguém (a não ser os mais antigos e alguns preciosistas) usa a palavra
“genuflexos”, basta dizer “ajoelhados”. Sim, porque “de joelhos” (desde que tenhamos pernas completas) sempre estaremos, mesmo quando ajoelhados. O mesmo vale para “de pé”. O certo é “em pé”. (Porém, fica aqui o registro de que o Dicionário Houaiss já aceita a expressão “de joelhos”.)
16. Devemos evitar o uso abusivo da palavra “alma”. Exemplos: “Foram batizadas mais de quinhentas almas”; “Sair para a conquista de almas”; “Ganhador de almas”;
etc. Para os que entendem “alma” como uma entidade separada do corpo e
que sai dele quando a pessoa morre, falar em “conquista de almas” talvez
possa configurar a intenção de proceder a essa separação, ou seja,
praticar assassinato! Melhor substituir a palavra “alma” por “pessoa”,
que é exatamente o sentido bíblico.
17. Para encerrar
esta lista (mas não o assunto e a preocupação que ele levanta), não
poderíamos deixar de fora expressões exclusivistas, como, por exemplo, “não adventistas”.
Você conhece alguém que gosta de ser chamado “não”? “Apresento-lhes
este meu não parente.” Horrível, né? Então, evitemos termos que dão a
impressão de que somos um clube fechado, exclusivo. Nada de “não
adventista”, “mundanos”, etc. Podemos nos referir a “amigos visitantes”, “irmãos evangélicos”, etc. É mais simpático.
Resumindo: temos que
descomplicar nossa linguagem e liturgia a fim de que não criemos
barreiras para a compreensão da mensagem que é simples e clara: Deus nos
ama e quer nos salvar.
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