Na semana passada, a norte-americana Judith Butler, que é considerada a criadora da ideologia de gênero, esteve no Brasil, mais precisamente em São Paulo, onde participou de um seminário sob protestos de uma multidão. Um abaixo-assinado com mais de 300 mil assinaturas pedia o cancelamento da palestra, o que não aconteceu. Até aí tudo bem. Protestar faz parte da democracia e as pessoas têm o direito de se expressar. Ocorre que alguns manifestantes exageraram na dose. Ostentando Bíblias e crucifixos, queimaram um boneco que representava a filósofa e gritaram “queima, bruxa”. Um dos cartazes dizia: “Vá para o inferno.” É verdade que a própria Butler já assinou uma carta aberta contra a participação de certo filósofo de extrema direita em uma conferência nos Estados Unidos, mas chamá-la de bruxa e mandá-la para o inferno já é demais. Empunhar a Bíblia com esse sentimento é uma tremenda contradição, afinal, Deus nos dá liberdade de escolha e, se for para aplicar um juízo, Ele mesmo Se encarrega disso, afinal, somente o Criador conhece as reais intenções do coração.
Ok. Em São Paulo o que se viu foi uma manifestação desmedida de extremistas de direita. A esquerda não seria capaz de tal coisa… Pense bem. Você acha mesmo que não? Vejamos. No último dia 13 de novembro, em pleno campus da Universidade Federal da Bahia, um protesto organizado pela extrema esquerda contra a exibição do filme “O Jardim das Aflições” conseguiu o que os organizadores queriam: o filme foi cancelado pela universidade. Mas não se tratou de um simples protesto. Entre gritos, um dos participantes carregava um cartaz com os dizeres “Morte aos cristãos”, algo estranhamente ignorado pela grande imprensa, diferentemente do que aconteceu com Butler. Veja por si mesmo:
Onde está o discurso do amor? Onde está o clamor por tolerância e a promoção do pensamento crítico e plural que deve caracterizar uma universidade? Eu estudei em uma federal e me lembro de que o campus abria as portas para quase todo tipo de programações e de discurso. Hoje em dia teatros e museus expõem conteúdos pornográficos, violentos e de apologia à pedofilia, e muitas vozes se levantam em favor da liberdade de expressão. Então por que em uma universidade pública não se pode exibir o filme de um filósofo conservador?
Apesar de tudo, o mais triste é perceber que essas manifestações de ódio ocorrem também entre os cristãos e até mesmo entre adventistas, pessoas que deveriam se pautar pela Bíblia, respeitar o semelhante, orar pelos inimigos e dialogar com educação. Em reação a um vídeo do programa “Está Escrito”, da TV Novo Tempo, algumas pessoas promoveram um verdadeiro ataque ao pastor Ivan Saraiva, apelando mais para o argumento ad hominem, ou seja, focado na pessoa e não nas ideias dela.
O pastor Saraiva falou sobre o aspecto diabólico da ideologia de gênero. Não disse nenhuma inverdade e utilizou a Bíblia para fundamentar seu ponto de vista. Obviamente que o assunto não foi tratado em profundidade, pois, além de se tratar de um programa de TV de pouco mais de 20 minutos, o objetivo da Novo Tempo é alcançar todas as classes sociais e pessoas das mais variadas formações acadêmicas e ideológicas. Como qualquer cristão criacionista, o pastor Saraiva se posicionou em favor do casamento heteromonogâmico sem, no entanto, ofender pessoas que pensam e vivem de modo diferente do prescrito pelas Escrituras Sagradas. Pessoas que não foram ofendidas se sentiram ofendidas com o que a Bíblia estabelece. O fato de a cultura ter mudado não significa que Deus tenha mudado. Seus ditames ainda são válidos em pleno século 21. Então por que se indignar quando um pastor abre a Bíblia e prega o que está ali? Isso não significa que nem Deus, nem a Igreja Adventista, nem Saraiva deixem de amar pessoas que optam por viver em desacordo com a Bíblia ou que sofram de algum tipo de distúrbio. Elas merecem tanto amor quanto qualquer outro pecador, incluindo o apresentador do “Está Escrito” e o ser humano que escreve este texto.
O pastor Ivan não está sozinho em seu questionamento dessa ideologia cuja base está enraizada no marxismo, com sua raiva visceral da família patriarcal. Vou citar apenas um exemplo. Em 2011 um documentário transmitido em rede nacional na Noruega abalou a credibilidade dos defensores da ideologia de gênero nos países da Escandinávia (os setes episódios podem ser vistos aqui). O Conselho Nórdico de Ministros, que inclui autoridades da Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia, determinou a suspensão dos financiamentos até então concedidos ao Instituto Nórdico de Gênero, entidade promotora de ideias ligadas às chamadas “teorias de gênero”. A conclusão das autoridades, com base em pesquisas científicas sérias, foi a de que realmente não existe fundamentação científica para a tal teoria ou ideologia de gênero. Aliás, um programa esclarecedor sobre esse assunto e que contou com a presença do respeitado psiquiatra César Vasconcelos de Souza é o “Conversa Sobre Identidade de Gênero”. Vasconcelos deixa claro que os portadores da chamada disforia de gênero são minoria absoluta, o que não justifica tratar do assunto como se o problema fosse algo tão generalizado. Fica óbvio que há bandeiras ideológicas por trás da promoção do debate.
Reportagem recentemente publicada pelo jornal Gazeta do Povo com o título “A verdade desagradável sobre a redesignação sexual que o lobby transgênero não quer que você saiba” deixou claro que tem aumentado os casos de cirurgias de “reversão” de pessoas que querem a genitália de volta. A matéria destaca ainda que pode haver um interesse econômico nessa história toda e um verdadeiro lobby transgênero. Mas é melhor que você leia o texto por si mesmo.
A missão dos cristãos em geral e dos adventistas, em especial, é a de levar a mensagem de salvação a todo o mundo. Faz parte da nossa missão denunciar erros ideológicos e teológicos justamente porque eles podem se colocar entre as pessoas e a verdade que liberta (João 8:32), mas isso não nos dá o direito de atacar de maneira injusta pessoas que estão pregando o evangelho e levando muita gente a Jesus. Aliás, não nos dá o direito de atacar ninguém.
Mais amor ou mais ódio? Depende de quem controla nosso coração, nossa mente. Jesus amava todas as pessoas, e mesmo quando denunciava o pecado fazia isso com voz embargada e lágrimas nos olhos. Quando vamos aprender a ser como Ele?
Michelson Borges
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