Confira respostas a questionamentos sobre algumas predições da pioneira adventista
A Bíblia estabelece os critérios para se reconhecer um profeta
verdadeiro. Entre esses, está a realização de suas previsões (Dt 18:22),
um indicativo de que o profeta em questão realmente recebeu mensagens
Daquele que é presciente e conhece o fim desde o princípio (Is 46:10).
Os autores da Bíblia atendem a esse requisito, uma vez que as predições
bíblicas têm se cumprido ao longo da história.
Mas não foram só os cerca de 40 autores da Bíblia que foram profetas.
A própria Bíblia descreve muitos outros que não escreveram uma linha
sequer das Escrituras Sagradas, mas que trouxeram mensagens inspiradas
por Deus ao mundo. A lista inclui Abraão (Gn 20:27), Arão (Êx 7:1),
Miriã (Êx 15:20), Débora (Jz 4:4), Eliseu (2Rs 9:1), Hulda (2Rs 22:14;
2Cr 34:22), a esposa de Isaías (Is 8:3), João Batista (Mc 11:32), Ana
(Lc 2:36), Ágabo (At 21:10) e as quatro filhas de Filipe (At 21:9).
A Bíblia também menciona profetas que escreveram livros que não
compõem o cânon bíblico. Entende-se que essas obras foram inspiradas por
Deus, mas não estão na Bíblia porque sua mensagem tinha uma aplicação
para pessoas específicas que viveram em determinada época, ou porque seu
conteúdo apenas repete ou explica o que está nos livros da Bíblia.
Entre esses livros, a Bíblia menciona: uma carta do profeta Elias (2Cr
21:12); um livro sobre a vida do rei Uzias, escrito pelo profeta Isaías
(2Cr 26:22); os escritos do profeta Natã (2Cr 9:29); o livro do profeta
Aías (2Cr 9:29); o livro do profeta Ido (2Cr 9:29; 12:15; 13:22); o
livro do profeta Semaías (Cr 12:15); as crônicas do profeta Jeú (2CR
20:34); um volume de Lamentações de Jeremias sobre a morte de Josias
(2Cr 35:21); uma carta de Paulo escrita aos cristãos coríntios
anteriormente à carta de 1 Coríntios encontrada na Bíblia (1Co 5:9);
outra carta aos coríntios escrita entre 1 e 2 Coríntios, cheia de
repreensões, mas que não está na Bíblia (2Co 7:8); uma carta de Paulo
aos laodicenses (Cl 4:16); e um possível evangelho escrito por Paulo (Rm
2:16; 16:25; 2Tm 2:8).
Mesmo não tendo como saber tudo o que esses profetas disseram e
escreveram, cremos que eles, sua mensagem e seus escritos atenderam aos
critérios bíblicos de um verdadeiro profeta, independentemente de
estarem na Bíblia. Caso contrário, não seriam chamados assim nas
Escrituras. A Palavra de Deus tem a autoridade doutrinária sobre o
cristão (2Tm 3:16, 17), mas, se nem mesmo na época de composição do
cânon bíblico Deus restringiu Sua revelação ao que deveria compor a
Bíblia, por que seria diferente após a conclusão do livro sagrado?
O dom de profecia tem sido dado por Deus a homens e mulheres ao longo
da história. Na Bíblia, há a predição de que, no tempo do fim, pessoas
receberiam revelações especiais de Deus (Jl 2:28-31; At 2:17-21; 1Co
14:1). Cada vez mais, diferentes segmentos do cristianismo aceitam a
verdade bíblica de que a manifestação dos dons espirituais, entre eles o
dom de profecia, não ficou restrita ao período de composição das
Escrituras e é uma dádiva de Deus que será concedida à igreja até a
segunda vinda de Cristo (1Co 13:8-13).
Entre as pessoas em quem se reconhece a manifestação do dom de
profecia está Ellen White (1827-1915). Essa senhora recebeu
aproximadamente 2 mil visões e sonhos proféticos entre 1844 e o ano de
sua morte. Seu trabalho foi essencial para a formação e organização da
Igreja Adventista do Sétimo Dia. De sua lavra, foram produzidas cerca de
35 mil páginas de conteúdo impresso, entre livros, folhetos e artigos
de revista, além de centenas de cartas, sermões, manuscritos e vários
diários. Esses escritos são frequentemente chamados de “Espírito de
Profecia”. Entende-se que os textos de Ellen White são inspirados por
Deus da mesma forma que a Bíblia é, mas os escritos dela são uma
mensagem específica para o povo de Deus no tempo do fim e não têm a
mesma autoridade da Bíblia. Sua importância e autoridade é semelhante ao
que os profetas antigos falaram ou escreveram inspirados por Deus, mas
que não está na Bíblia.
A maior parte dos escritos de Ellen White trata de Jesus Cristo e do
plano da salvação (seu assunto preferido), ou são comentários sobre
passagens bíblicas e conselhos sobre a vida cristã, educação, saúde,
liderança e a vida em família. No entanto, ela também fez algumas
predições ou fez afirmações científicas e históricas que só se
confirmaram bem depois de ela as ter dito ou escrito. Apesar disso, é
acusada de ter feito algumas profecias que nunca teriam se cumprido.
Desde o início de seu ministério profético, Ellen G. White teve seu
dom de profecia contestado inúmeras vezes por vários opositores. A
maioria dos ataques contra Ellen G. White já foi respondida. O livro de
Francis D. Nichol,
Ellen G. White and Her Critics (Review and
Herald, 703 páginas), concentra praticamente todos os questionamentos
possíveis feitos contra o que Ellen G. White escreveu ou disse. Mesmo
assim, muita gente tem dúvida a respeito de afirmações feitas pela
profetisa sobre o futuro e que, supostamente, não se realizaram. A
seguir, há uma lista de quatorze previsões de Ellen White que tem sido
usada por muitos para desacreditarem a autenticidade de seu dom
profético. Cada uma dessas predições supostamente não cumpridas é
acompanhada de um comentário explicando porque os argumentos não
desqualificam Ellen G. White como uma autêntica demonstração de alguém
que, em época relativamente recente, recebeu do Espírito Santo o dom de
profecia.
1.
Questionamento. Ellen G. White predisse que a
Inglaterra declararia guerra contra os Estados Unidos. Sua profecia com
relação à Inglaterra dizia respeito à Guerra Civil americana e não se
cumpriu (
Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 259).
Resposta. Na página citada, escrita em 1862, durante
a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, Ellen White escreveu: “A
Inglaterra está estudando se é melhor tirar proveito da presente
condição do país, guerreando contra ele. Examina a questão e sonda
outras nações. Teme que, se iniciar uma guerra no exterior, ela se
enfraqueça e outras nações possam tirar proveito da situação. Outros
países estão fazendo preparativos silenciosos, mas diligentes, para a
luta armada e esperando que a Inglaterra combata os Estados Unidos, para
então terem a oportunidade de vingar-se da exploração e injustiças de
que foram vítimas no passado. Uma parte dos países sujeitos à rainha
está esperando uma chance favorável para quebrar seu jugo. Mas se a
Inglaterra pensar que isso valerá a pena, não vacilará um momento para
aumentar as chances de exercer o poder e humilhar nosso país. Quando a
Inglaterra declarar guerra, todas as nações terão interesses próprios a
atender, haverá guerra e confusão totais.”
Nessa citação, Ellen G. White revelou a seus leitores que o alto
escalão do governo britânico considerava intervir na Guerra Civil
Americana, mas a possibilidade de que a participação inglesa no conflito
pudesse dar ocasião ao surgimento de movimentos separatistas nas
colônias pesava contra a decisão. De fato, a história registra que o
país europeu cogitou, durante os primeiros dezoito meses da guerra
(exatamente a época em que Ellen G. White escreveu o texto mencionado),
uma intervenção militar na Guerra de Secessão. É provável que os
leitores de Ellen G. White (e talvez nem ela mesma) não tivessem como
saber o que o governo britânico planejava em relação à guerra nos
Estados Unidos. Deus, porém, revelou a Ellen que, do outro lado do
oceano Atlântico, autoridades britânicas consideravam um ataque que
poderia ser trágico para os Estados Unidos, mas estavam prestes a
desistir da ideia por temerem as consequências da investida para a
integridade de seu vasto império. Finalmente, o Reino Unido optou por
permanecer neutro em relação à Guerra Civil nos Estados Unidos, e
manteve o domínio sobre suas colônias durantes as décadas seguintes. Na
Bíblia, há um exemplo semelhante de profecia que descreve as
consequências que poderiam seguir se determinada decisão fosse tomada
(ver Jeremias 42:10-19).
2.
Questionamento. Ellen G. White predisse que
Jerusalém jamais seria reconstruída. A cidade de Jerusalém foi
reconstruída e Israel voltou a existir como país (
Primeiros Escritos, p. 75).
Resposta. Antes de comentar, vamos ler o trecho,
escrito em 1851: “Foram-me indicados então alguns que estão em grande
erro de crer que é seu dever ir à antiga Jerusalém, entendendo que têm
uma obra a fazer ali antes que o Senhor venha. Tal opinião é de molde a
afastar a mente e o interesse da presente obra do Senhor, sob a mensagem
do terceiro anjo, pois os que pensam ser seu dever, não obstante, ir à
velha Jerusalém terão sua mente firmada ali, e os seus recursos serão
tirados da causa da verdade presente para permitir a eles e a outros
estarem ali. Vi que tal missão não realizaria nenhum bem real, que
levaria um bom espaço de tempo para levar alguns judeus a se tornarem
crentes mesmo na primeira vinda de Cristo, quanto mais no Seu segundo
advento. Vi que Satanás havia enganado sobremodo alguns neste ponto e
que as almas ao redor deles, neste país, poderiam ser ajudadas por eles e
levadas a guardar os mandamentos de Deus, mas deixaram-nas a perecer.
Vi também que a velha Jerusalém jamais seria reconstruída, e que Satanás
estava fazendo o máximo para levar a mente dos filhos do Senhor para
essas coisas agora, no tempo do ajuntamento, impedindo-os de dedicar
todo o seu interesse à presente obra do Senhor, levando-os assim a
negligenciar a necessária preparação para o dia do Senhor.”
Nesse trecho, Ellen White expõe e combate as decisões equivocadas que
podem tomar os que acreditam em teorias proféticas que tentam encaixar a
todo custo Jerusalém e os judeus nos eventos do tempo do fim. Ela
simplesmente afirma que viu que “a velha Jerusalém” não seria
reconstruída. Em 1851, quando Ellen White escreveu esse texto, Jerusalém
não era uma cidade destruída, mas a capital da província otomana da
Palestina. Um censo de 1845 mensurou a população da cidade em 16.410
pessoas. A cidade, destruída no ano 70 d.C., foi total ou parcialmente
reconstruída e destruída inúmeras vezes desde então. Ellen G. White, ao
falar em “a velha Jerusalém”, se referia à restauração da cidade ao
mesmo papel que teve nos tempos bíblicos como palco das manifestações de
Deus na Terra e à reconstrução do Templo. De fato, “a velha Jerusalém”,
totalmente judaica e com o Templo, nunca foi reconstruída.
3.
Questionamento. Ellen G. White, fundamentando-se
equivocadamente em outros autores, predisse que a Turquia deixaria de
existir. A Turquia continua a existir e atualmente não parece haver
possibilidades de que venha a deixar de ser um país tão cedo. (Veja
Josias Litch, “The Rise and Progress of Adventism”, em
The Advent Shield and Review, maio de 1844, p. 92, citado no
Seventh-day Adventist Bible Students’ Source Book, p. 513). (Veja também:
The Seventh-day Adventist Encyclopedia, v. 11, p. 51 e 52).
Resposta. A Turquia é um país que nem sequer existia
quando Ellen G. White viveu, pois só se tornou independente em 24 de
julho de 1923, com o Tratado de Lausana. Isso foi oito anos após ela ter
morrido. Mas Ellen G. White apoiou a interpretação do ministro
metodista Josias Litch, de que a ascensão e o declínio do Império
Otomano estão profetizados em Apocalipse 9:13-21 (veja
O Grande Conflito,
p. 334, 335). Devido ao fato de que no Império Otomano eram pessoas de
etnia turca que subjugavam povos de outras etnias, era comum na época
chamar esse império de “Turquia”, assim como é comum hoje chamar a
Grã-Bretanha de “Inglaterra” ou os Países Baixos de “Holanda”, apesar de
esses países incluírem outras nacionalidades. Por duas vezes, Ellen G.
White chamou o Império Otomano de Turquia (
O Grande Conflito, p. 35;
Evangelismo,
p. 408). De fato, esse império que dominou extensas áreas da Ásia,
África e Europa entre os séculos 14 e 19, foi perdendo muitos de seus
territórios durante o século 19, até ser reduzido a uma pequena área da
Anatólia e deixar de existir oficialmente em 1º de novembro de 1922,
confirmando a interpretação profética de Josias Litch.
4.
Questionamento. Ellen G. White profetizou que alguns que estavam vivos em 1856 estariam vivos por ocasião do retorno de Cristo. (
Testemunhos para a Igreja,
v. 1, p. 131, 132). Ela se referia a pessoas que estavam presentes em
uma reunião da Igreja Adventista e, por já haverem morrido todos, essa
profecia também não se cumpriu.
Resposta. A seguir, está a seguinte declaração feita por ela em 1856:
“Foi-me mostrado o grupo presente à assembleia. Disse o anjo: ‘Alguns
servirão de alimento para os vermes, alguns estarão sujeitos às setes
últimas pragas, outros estarão vivos e permanecerão sobre a Terra para
serem transladados na vinda de Jesus’”.
Todo aquele que crê que Cristo virá em breve à Terra costuma falar
dessa ocasião como sendo para seus dias. O apóstolo Paulo acreditava que
estaria vivo quando Jesus Cristo aparecesse nas nuvens do céu (1Ts
4:15). No entanto, o fato de Paulo ter morrido antes do regresso do
Senhor não faz dele um falso profeta. Ele apenas foi um cristão
esperançoso e confiante que acreditou que o segundo advento de Cristo
aconteceria em seus dias, como todo cristão deve acreditar. Ellen White
frequentemente descreveu a vinda de Cristo como estando para acontecer
em seus dias, seguindo o exemplo dos autores bíblicos.
Ela explicou sua declaração de 1856 em uma nota escrita em 1883, que foi citada por Francis M. Wilcox em
O Testemunho de Jesus
(CPB), p. 108: “Os anjos de Deus apresentam o tempo como sendo muito
breve. Assim me tem sempre sido apresentado. Verdade é que o tempo se
tem prolongado além do que esperávamos nos primitivos dias desta
mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão breve como esperávamos.
Falhou, porém, a Palavra de Deus? Absolutamente! Cumpre lembrar que as
promessas e as ameaças de Deus são igualmente condicionais”.
“Não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo houvesse sido assim
retardada. Não era desígnio Seu que Seu povo, Israel, vagueasse quarenta
anos no deserto. Ele havia prometido conduzi-los diretamente à terra de
Canaã, e estabelecê-los ali como um povo santo, sadio e feliz. Aqueles,
porém, a quem foi primeiro pregado, não entraram “por causa da
incredulidade”. Seu coração estava cheio de murmuração, rebelião e ódio,
e o Senhor não podia cumprir Seu concerto com eles”.
“Por quarenta anos a incredulidade, a murmuração e a rebelião
excluíram o antigo Israel da terra de Canaã. Os mesmos pecados têm
retardado a entrada do Israel moderno na Canaã celestial. Em nenhum dos
casos houve falta da parte das promessas de Deus. É a incredulidade, a
mundanidade, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo
de Deus que nos têm detido neste mundo de pecado e dor por tantos anos”
(Ms 4, 1883, citado em
Evangelismo, p. 695, 696).
5.
Questionamento. Em 1850, Ellen G. White afirmou que Cristo retornaria em poucos meses (
Primeiros Escritos, p. 58, 64, 67).
Resposta. Vejamos o que Ellen G. White realmente escreveu:
“Alguns estão supondo a vinda do Senhor num futuro muito distante. O
tempo tem continuado alguns anos mais do que eles esperavam, e assim
pensam que continuará mais alguns anos, e dessa maneira suas mentes são
desviadas da verdade presente para irem após o mundo. Nisso vi grande
perigo, pois se a mente está cheia de outras coisas, a verdade presente é
deixada fora, e não há lugar em nossa fronte para o selo do Deus vivo.
Vi que o tempo para Jesus permanecer no lugar santíssimo estava quase
terminado e esse tempo podia durar apenas um pouquinho mais; que o tempo
disponível que temos deve ser gasto em examinar a Bíblia, que nos
julgará no último dia” (
Primeiros Escritos, p. 58).
“Numa visão dada em 27 de junho de 1850, meu anjo acompanhante disse:
‘O tempo está quase terminado. Vocês estão refletindo, como deveriam, a
amorável imagem de Jesus?’ Foi-me indicada então a Terra e vi que tinha
que haver uma preparação da parte daqueles que, nos últimos tempos,
abraçaram a terceira mensagem angélica. Disse o anjo: ‘Preparem-se,
preparem-se, preparem-se! Vocês terão que experimentar uma morte para o
mundo, maior do que jamais experimentaram antes.’ Vi que havia grande
obra a ser feita por eles e pouco tempo para fazê-la. Vi então que as
sete últimas pragas deviam ser logo derramadas sobre os que não têm
abrigo” (
Idem, p. 64).
“Ao ver o que precisamos ser para herdar a glória, e quanto Jesus
havia sofrido para alcançar para nós tão rica herança, orei para que
fôssemos batizados nos sofrimentos de Cristo, a fim de não recuarmos nas
provas, mas sofrê-las com paciência e alegria, sabendo o que Jesus
havia sofrido, para que por Sua pobreza e sofrimento fôssemos
enriquecidos. Disse o anjo: ‘Neguem a si mesmos. Vocês precisam caminhar
depressa.’ Alguns de nós têm tido tempo de ter a verdade e progredir
passo a passo, e cada passo dado tem-nos propiciado força para o
seguinte. Mas agora o tempo está quase findo, e o que durante anos temos
estado aprendendo, eles terão que aprender em poucos meses. Terão
também muito que desaprender e muito que tornar a aprender” (
Idem, p. 67).
Ellen G. White, assim como o apóstolo Pedro (At 2:17), sempre
acreditou que estava vivendo os últimos dias antes do retorno de Jesus.
Ela escreveu muito sobre a necessidade de pressa em se preparar para
esse dia. Nas citações, ela apenas mencionou que o último período de
provação será breve, e que pessoas que negligenciam seu preparo
espiritual hoje terão apenas “poucos meses” para aprender o que cristãos
mais dedicados demoraram anos para desenvolver na vida.
6.
Questionamento. Ellen G. White afirmou que a Guerra Civil Americana era um sinal de que Cristo iria logo retornar (
Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 260). A Guerra Civil americana terminou em 1865.
Resposta. Jesus disse, em Mateus 24, que todas as
guerras são um sinal de sua segunda vinda, a começar pelas guerras que
levaram à destruição de Jerusalém no ano 70. Na página citada, ela
afirma: “Vi na Terra uma aflição maior do que nunca testemunhamos. Ouvi
gemidos e gritos de aflição, e vi grupos em diligente batalha.” Ela
prosseguiu descrevendo a cena de guerra e alertando para “a grande
angústia vindoura”. Em nenhum momento do texto ela falou que a guerra
que viu em visão era a Guerra Civil Americana, que acontecia em seus
dias. É claro, para quem lê todo o texto, que Deus aproveitou o contexto
da Guerra Civil Americana para dar a ela uma visão de um período de
grande aflição a acontecer imediatamente antes da vinda de Cristo.
7.
Questionamento. Ellen G. White profetizou que Cristo voltaria antes de a escravidão ser abolida (
Primeiros Escritos, p. 35).
Resposta. A Bíblia também fala que haveria escravos
quando Cristo retornasse à Terra (Ap 18:13; 19:18). Apesar de legalmente
abolida, a escravidão continua existindo ilegalmente em diferentes
situações ao redor do mundo. Ellen G. White afirmou nesse trecho, em que
descreve a vinda do Senhor: “Começou então o jubileu, período em que a
Terra devia descansar. Vi o piedoso escravo levantar-se em triunfo e
vitória e sacudir as cadeias que o prendiam, enquanto o seu ímpio senhor
estava em confusão e não sabia o que fazer” (
Primeiros Escritos,
p. 35). O texto apenas descreve que o retorno de Cristo à Terra será
ocasião de libertação dos cativos. Não fala nada a respeito de a
escravidão ainda estar legalizada quando Cristo vier.
8.
Questionamento. Ellen G. White profetizou que a escravidão seria restabelecida nos estados do sul dos Estados Unidos (
Spalding Magan Collection, p. 21; e
Manuscript Releases, v. 2, nº 153, p. 300). A escravidão não voltou a ser legalizada no sul dos Estados Unidos.
Resposta. A afirmação está num manuscrito datado de
1895, com respostas de Ellen G. White a perguntas sobre o trabalho com
populações negras no sul dos Estados Unidos e as dificuldades
enfrentadas pelos adventistas nessa região com leis locais que
restringiam o trabalho aos domingos. Ao ser perguntada se os adventistas
desses estados deveriam trabalhar aos domingos, Ellen G. White
respondeu: “A escravidão novamente será revivida nos estados sulistas,
pois o espírito da escravidão ainda vive.” O comentário não afirma que
os escravos libertos retornariam à sua condição de cativeiro, mas que o
“espírito” de dominar sobre outras pessoas ainda estava vivo nos antigos
senhores de escravos (veja: “
Slavery, Will It Be Revived?”).
Prova disso é que, na segunda metade do século 20, décadas depois de as
palavras de Ellen White terem sido escritas, a segregação racista dos
descendentes dos antigos escravos estava legalizada em vários estados do
sul dos Estados Unidos, uma nódoa que revivia a escravidão abolida em
1863.
9.
Questionamento. Ellen G. White profetizou que a Terra seria logo despovoada se Jesus demorasse a voltar (
Testemunhos para a Igreja,
v. 1, p. 304). A despeito de tantas guerras, fomes e epidemias, o que
vemos é que a Terra está cada vez mais povoada a medida que o tempo
passa.
Resposta. Esta é a declaração de Ellen G. White:
“Foi-me apresentada a condição de degeneração atual da família
humana. Cada geração se tem vindo enfraquecendo mais, e a humanidade é
afligida por toda forma de enfermidade. Milhares de pobres mortais de
corpo deformado, doentio, nervos em frangalhos e mente sombria, vão
arrastando uma existência miserável. Cresce o poder de Satanás sobre a
família humana. Não viesse em breve o Senhor e destruísse o seu poder, e
não tardaria que a Terra estivesse despovoada.”
Ao contrário do que foi questionado, Ellen G. White apresenta que
Cristo destruirá em Sua vinda o poder de Satanás para causar doenças
antes que todas as doenças que o diabo dissemina despovoem o mundo.
10.
Questionamento. Ellen G. White predisse que os
senhores dos escravos dos seus dias experimentariam as sete últimas
pragas descritas no livro do Apocalipse (
Primeiros Escritos, p. 276). Todos os senhores dos escravos de seu tempo já estão mortos.
Resposta. O texto apenas declara: “Vi que o senhor
de escravos terá que responder pela salvação de seus escravos a quem ele
tem conservado em ignorância; e os pecados dos escravos serão visitados
sobre o senhor” (
Primeiros Escritos, p. 276). A frase apenas
descreve que os senhores de escravos terão que prestar contas a Cristo
por ocasião de Sua vinda, assim como cada pecador terá que fazê-lo.
11.
Questionamento. Ellen G. White profetizou que estaria viva quando Jesus regressasse (
Primeiros Escritos, p. 15-16).
Resposta. No trecho mencionado em
Primeiros Escritos
(p. 14-16), Ellen White descreve uma visão que teve sobre a vinda de
Cristo. Não menciona que estaria viva por ocasião do segundo advento de
Jesus. Daniel, Paulo e João também descreveram visões do regresso de
Cristo nas nuvens do céu sem que isso significasse que viveriam para
presenciar o que Deus lhes revelava em visão.
12.
Questionamento. Às vezes, Ellen G. White fazia
predições específicas que envolviam certas pessoas. Uma delas foi o
pioneiro adventista Moses Hull. Em 1862, Hull estava no processo de
perder sua fé no adventismo. Parece que o casal White desistiu de
argumentar com ele, e Ellen G. White profetizou sobre o terrível futuro
que o aguardava se ele deixasse de fazer parte do povo do advento: “Se
continuar da maneira em que começou, a miséria e a desgraça o esperam. A
mão de Deus o prenderá de um modo que não lhe agradará. Sua ira não
dormitará” (
Testemunhos para a Igreja, v. 1, p. 431).
Isso nunca aconteceu. Apesar das advertências de Ellen G. White, ele
abandonou o adventismo. Segundo testemunhas, o “senhor Hull se manteve
bem por muitos longos anos até uma idade avançada e nada do que foi
predito aconteceu” (D.M. Canright,
Life of Mrs. E.G. White, The Standard Publishing Company, 1919, p. 234).
Resposta. Moses Hull foi um adventista de espírito
competitivo, que gostava de entrar em discussões sobre religião com
pessoas de outras crenças. Ele alimentou dúvidas com respeito à fé em
Cristo. Ellen G. White o advertiu de que, se continuasse com essa
atitude, arruinaria sua vida. O texto mencionado continua com uma
mensagem de esperança para Hull: “Mas agora Ele [Deus] o convida. Agora,
justamente agora, Ele lhe pede que volte para Ele sem demora, e Ele
graciosamente perdoará e curará todas as suas apostasias” (
Testemunhos para a Igreja,
v. 1, p. 431). Infelizmente, Hull não atendeu ao apelo para mudar de
vida, acabou abandonando a Cristo e se tornou adepto do espiritismo.
Hull pode não ter ficado pobre, mas a predição se cumpriu fielmente,
pois ele se tornou espiritualmente miserável por ter trocado a Palavra
do Deus vivo pelas mensagens do mundo dos mortos.
Dudley Marvin Canright, o autor original desse ataque a Ellen G.
White, foi um ex-pastor adventista. Tiago e Ellen G. White o prepararam
para que ele se tornasse um ministro do evangelho. Infelizmente,
Canright começou a alimentar a ambição de se tornar um pregador famoso.
Ellen G. White o advertiu dos perigos de alimentar o orgulho e a
vaidade. Canright acabou abandonando a Igreja Adventista e foi nomeado
pastor de outra denominação cristã, tornando-se um crítico mordaz da
doutrina adventista e da pessoa de Ellen G. White.
13.
Questionamento. Ellen G. White afirmou que a “a
enfermidade” do irmão Carl Carlstedt “não era para morte, mas para a
glória de Deus” (Carl Carlstedt estava gravemente enfermo de febre
tifoide e parecia que não viveria muito tempo mais). Ele morreu dois
dias depois. (Charles Lee,
Three Important Questions for Seventh-Day Adventists to Consider, 1876).
Charles Lee, um ex-pastor adventista, relata em seu livro que ele foi
junto com Tiago e Ellen White, Urias Smith e outro homem visitar Carl
Carlstedt, o editor da
Revista Adventista em sueco, que estava
doente com febre tifoide. Lee relata ter ouvido ela orando ao Senhor,
“ali presente com Seu poder restaurador, para erguer Carlstedt, cuja
doença não era para a morte, mas para a glória de Deus”. Lee também
disse que, ao sair da casa, Ellen revelou que acreditava que Carlstedt
teria a saúde restaurada novamente. Lee viajou para Chicago, e no dia
seguinte recebeu uma correspondência informando que Carlstedt havia
morrido.
Infelizmente, só existe registrada a versão de Lee sobre o incidente e
a oração que Ellen G. White teria feito por ele. Nem Ellen, seu esposo
Tiago, Urias Smith ou a outra pessoa presente escreveram sobre o
episódio. Como as outras testemunhas da visita a Carlstedt não
registraram o que Ellen G. White falou, não podemos ter certeza de que
Lee tenha sido preciso ao relatar o que a senhora White disse em sua
oração. Mas, mesmo que Ellen G. White tenha realmente dito o que Charles
Lee afirmou que ela falou, precisamos entender que um profeta não é
inspirado por Deus em tudo o que diz. Por exemplo, o profeta Natã, na
Bíblia, deu uma orientação errada a Davi e teve que se retificar (2Sm
7:1-17); um velho profeta de Betel desencaminhou um profeta de Judá,
levando-o a desobedecer a Deus, e depois foi usado por Ele para
repreendê-lo e condená-lo (1Rs 13 11-32); Elias, em um momento nada
inspirado por Deus, desejou a morte (1Rs 19:4); o apóstolo Pedro agiu
contrariamente aos seus próprios ensinos, e foi repreendido por Paulo
(Gl 2:11-14). Naturalmente, nem tudo o que Ellen G. White falava ao
conversar corriqueiramente era inspirado por Deus, e pode ser que ela
realmente acreditasse na recuperação de Carlstedt, sem ter recebido
nenhuma mensagem de Deus sobre o que aconteceria com ele.
14.
Questionamento. Embora tenha predito a
destruição de São Francisco, ela não fez nenhuma menção de terremoto e
incêndio como possíveis causas. Na mesma profecia (veja
Manuscrito 30,
1903), ela incluiu a cidade de Oakland, que praticamente não foi
atingida pelo tremor que destruiu São Francisco em 1906. Mais tarde ela
escreveu sobre Oakland: “São Francisco foi visitada com duros juízos,
mas Oakland foi misericordiosamente preservada” (
Evangelismo, p. 296).
No
Manuscrito 30, de 1903, Ellen G. White falou da
necessidade de evangelizar as grandes cidades da costa oeste dos Estados
Unidos e de estabelecer nelas instituições que promovessem um estilo de
vida saudável. Ela afirmou que “São Francisco e Oakland estão se
tornando como Sodoma e Gomorra, e o Senhor irá puni-las. Não vai longe o
tempo em que elas sofrerão os Seus juízos”. Ela não especificou nesse
texto, que tipo de punição seria esperado para ambas as cidades. Ela
também mencionou punições divinas para algumas outras das maiores
cidades dos Estados Unidos, que já naquela época estavam muito
tolerantes com a criminalidade, a exploração sexual, o tráfico de drogas
e álcool e os jogos de azar. Uma vez que, em 18 de abril de 1906, a
cidade de São Francisco foi tragicamente destruída por um terremoto, o
fato é apontado como uma predição de Ellen G. White que se cumpriu.
A respeito de Oakland, ela fez um apelo para a evangelização das
grandes cidades, onde acentuadamente prosperava a impiedade: “São
Francisco foi visitada com rigorosos juízos, porém Oakland foi até aqui
misericordiosamente poupada. Virá o tempo em que nossa obra nesses
lugares será abreviada; portanto, é importante que se façam diligentes
esforços agora para proclamar a seus habitantes a mensagem do Senhor
para eles” (
Evangelismo, p. 404). Assim como a ímpia Nínive foi
misericordiosamente poupada por Deus nos dias de Jonas (Jn 3:10; 4:11)
apesar de o profeta ter anunciado sua destruição para uma data
específica (Jn 3:4), Deus também poupou misericordiosamente Oakland,
apesar de Ellen G. White ter anunciado que os juízos divinos estavam
prestes a cair sobre a cidade.
A alegação de Ellen G. White, de ter sido inspirada por Deus, é muito
séria, e é esperado que pessoas que não queiram aceitar a mensagem que
ela ensinou questionem a autenticidade de seu dom profético. No entanto,
a leitura cuidadosa de cada uma de suas declarações e o conhecimento de
como a inspiração divina atuava nos profetas bíblicos dissipam as
dúvidas sobre a validade de seu chamado profético.
Numa época em que há tantos líderes religiosos alegando ter o dom de
profecia e de revelação, e se autoproclamando “apóstolos”, “profetas”,
“levitas” e “sacerdotes”, é acertado verificar quem é realmente
inspirado por Deus. Como vimos, em todos esses quatorze casos, os
ataques feitos a Ellen G. White não foram suficientes para
desqualificá-la como uma autêntica portadora do dom de profecia
prometido na Bíblia a pessoas no tempo do fim (Jl 2:28-32; At 2:17-21;
Ap 12:17; 19:10). O dom de profecia operou nela com as mesmas
características apresentadas nos profetas descritos na Bíblia.
FERNANDO DIAS é pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira
Publicado no site da Revista Adventista.